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Universidade Federal de Goiás
Biblioteca

Rede pública estadual de ensino têm bibliotecas, mas falta estrutura

Em 27/09/17 10:55. Atualizada em 27/09/17 15:48.

Diagnóstico realizado pelo curso de Biblioteconomia da UFG apresenta necessidades das bibliotecas 

Biblioteca

Texto: Angélica Queiroz e Frederico Ramos Oliveira

Fotos: Carlos Siqueira

A biblioteca ideal deve contar com espaço físico em que seja  possível  abrigar o acervo, e organizar ambientes para estudo em grupo, estudo individual, laboratório de informática, serviço de busca por informação e orientação às normas da ABNT. Necessita ser gerenciada por profissionais bibliotecários e contar com outros auxiliares possibilitando a prestação de todos os serviços. Mas essa não é a realidade da maior parte  das escolas da rede pública de Goiás, conforme aponta pesquisa do curso de Biblioteconomia da Faculdade de Informação e Comunicação da UFG (FIC). Segundo o estudo, a maior parte das escolas da rede pública estadual tem bibliotecas, mas enfrenta a ausência de pessoal qualificado, falta de equipamentos e in- sumos, assim como estrutura física inadequada.

Coordenada pela professora do curso de Biblioteconomia, Andréa Pereira dos Santos, a pesquisa encaminhou, entre maio e dezembro de 2016, um questionário aos diretores das 1.150 escolas da rede pública estadual de ensino. As 982 instituições que responderam foram tabuladas e analisadas com base na adaptação dos Parâmetros para bibliotecas es- colares, documento produzido pelo Grupo de Pesquisa em Biblioteca Escolar da UFMG (Gebe–UFMG). Entre as escolas que responderam, 78% têm biblioteca. Apenas 22% destas, no entanto, têm espaço físico entre 50 e 100 m², tamanho mínimo necessário para acomodar uma classe inteira ao mesmo tempo.

Além disso, a maior parte dos diretores salientou que o espaço físico é insuficiente e não comporta as atividades de pesquisa escolar, além de não haver controle do acervo dessas bibliotecas. “Na falta de sistemas de catalogação e tombamento, o empréstimo é manual. A maioria das escolas não sabe quantos itens possui em suas bibliotecas. Também faltam computadores e acesso à internet para os usuários”, detalha Andréa. A falta de pessoal qualificado é outro problema. “Embora o Conselho Estadual de Educação exija a presença do bibliotecário na biblioteca escolar, a realidade da rede estadual de ensino é diferente. Professores com problemas de saúde normalmente são designados para cuidar desses equipamentos. Desse modo, poucas ações de incentivo à leitura e uso da biblioteca são desenvolvidas”.

Biblioteca precisa ser espaço de sociabilidade

Pesquisas anteriores, realizadas pelo curso de Biblioteconomia, demonstram que muitos docentes não compreendem o papel da biblioteca es- colar na formação do estudante. Os alunos, por sua vez, não têm suas necessidades informativas atendidas. “Neste sentido, é necessário ampliar a discussão do papel da biblioteca escolar nas licenciaturas”, lembra Andréa dos Santos. Atenta a isso, a reforma curricular do curso de Biblioteconomia da UFG, realizada em 2016, prioriza a formação do bibliotecário para atuação no âmbito educacional, social e cultural. “Com essa formação, o profissional se integra à equipe pedagógica a fim de planejar as atividades da biblioteca em função do projeto pedagógico da escola, implantando programas de letramento informacional na escola que contribuirão para que as pesquisas realizadas pelo corpo discente possam ir além do copia e cola da internet, preparando o estudante para o uso competente e ético da informação”.

Segundo a professora, tais competências estão ligadas à capacidade de reconhecer as necessidades de informação, saber quais fontes são confiáveis, realizar leitura crítica, transformar esses dados em novos conhecimentos e, por fim, estruturar formalmente seu trabalho. “Acima de tudo, a biblioteca precisa ser um espaço de sociabilidade. Assim, esse estudante chegará mais preparado para a universidade”. explica Andréa, lembrando que o papel da biblioteca não se limita a formar leitores, precisa formar pesquisadores. “Logicamente, para ser um bom pesquisador, a competência leitora é primordial. A biblioteca, então, deve promover ações culturais cíclicas, e não pontuais, como encontros com escritores, contação de histórias, teatros, debates, saraus literários e rodas de leitura, por exemplo”.

Biblioteca

Para a professora Andréa Santos, a biblioteca do Cepae tem um excelente potencial para ser uma biblioteca modelo

Legislação exige biblioteca nas instituições escolares

Publicada em 2010, a Lei n° 12.244 estabelece que toda instituição de ensino brasileira deve contar com bibliotecas. O acervo deve ser composto por livros, materiais videográficos e documentos em outros suportes, que possam ser utilizados na pesquisa escolar. As bibliotecas devem ter, pelo menos, um título para cada  estudante  matriculado. A lei ainda aponta que os sistemas de ensino brasileiros devem cumprir suas determinações até 2020. Em Goiás, resolução do Conselho Estadual de Educação exige que as novas escolas tenham espaço destinado para a biblioteca escolar e, também, bibliotecário para a gestão do espaço. Apesar disso, o cargo de bibliotecário ainda não existe no Executivo estadual e poucas escolas contam com o profissional.

O diagnóstico feito pela pesquisa  da UFG foi apresentado à Superintendência de Educação da Secretaria de Estado de  Educação, Cultura e Esporte (Seduce). Os professores da UFG sugeriram a criação da Rede Estadual de Bibliotecas Escolares, com quinze diferentes modelos de biblioteca, definidos com base no tipo de usuário e de escola, o que exige mudanças nos acervos, na estrutura física, nos serviços oferecidos, de pessoal e nos horários de funcionamento. “A necessidade de adequação do espaço físico, ampliação e informatização dos acervos, assim como a criação do cargo de bibliotecário na  rede estadual de ensino foram temas discutidos e a Seduce informou que está trabalhando para atender às demandas, na medida do possível”, detalha Andréa dos Santos. Segundo ela, o órgão também se comprometeu a apoiar a realização do fórum de bibliotecários no Pensar 2018.

Categorias: pesquisa edição 91