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Universidade Federal de Goiás
Entrevista com o Reitor Orlando

Defesa da UFG é papel de todos

Em 27/10/17 09:18. Atualizada em 31/10/17 16:20.

Confira a entrevista com o reitor da UFG Orlando Afonso Valle do Amaral

reitor

Texto: Kharen Stecca

Foto: Carlos Siqueira

Responsável pela gestão da Universidade Federal de Goiás nos últimos quatro anos, o reitor Orlando Afonso Valle do Amaral teve o desafio de assumir uma universidade em plena consolidação da expansão do Plano de Reestruturação das Universidades (Reuni) em meio a uma crise orçamentária que se agravou paulatinamente desde 2014. Com a necessidade de cortar gastos, o professor explica como se trabalhou para manter a universidade em pleno funcionamento e ainda ser capaz de lidar com todas as mudanças ocorrida no período, como o novo perfil dos estudantes ingressos, mais igualitário, mas também exigindo maior assistência para permanência na universidade, problemas de segurança dentro dos câmpus e até a ameaça da cobrança de mensalidades e privatizações. Para Orlando Amaral, mesmo a crise não será capaz de destruir o projeto das universidades públicas: “o conjunto das universidades brasileiras é tão sólido e enraizado que temos uma força que nos dá alento e otimismo”. Veja a entrevista ao Jornal UFG.

Em dezembro termina seu mandato como reitor. Que ações o senhor considera merecerem mais destaque em sua gestão?

Apesar de todas as dificuldades enfrentadas nesses quase quatro anos de gestão, creio que o balanço é positivo. Contrariando visões mais alarmistas, a universidade não parou e continuamos desenvolvendo (com algumas restrições) nossas atividades fins, cumprindo nosso papel de formar pessoas, desenvolver pesquisas e promover a inovação. Sediamos e promovemos centenas de eventos científicos e culturais. Avançamos no processo de consolidação dos novos cursos criados durante o Reuni. As avaliações dos cursos de graduação e pós-graduação oferecidos pela UFG, realizadas pelo Inep e pela Capes, evidenciam a melhoria da qualidade dos nossos cursos. Implantamos o novo Estatuto e avançamos muito na implantação do Sistema Integrado de Gestão Universitária (SIG). A partir do dia 20/09/17, todos os processos abertos na UFG passaram a tramitar de forma eletrônica, evitando a impressão em papel, por meio do Sistema Eletrônico de Informações (SEI). Aprovamos o contrato entre a UFG e a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), para a gestão compartilhada do Hospital das Clínicas da UFG. Aprovamos o desmembramento da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, na Pró-Reitoria de Pós-Graduação e na Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação, dando mais ferramentas de gestão à atividade de pesquisa e inovação da UFG. Aprovamos diversas resoluções importantes, como a Resolução no 12 de 2017 que tipifica ações que caracterizem assédio moral e sexual e a resolução n° 14 de 2015 que autoriza a utilização do nome social nos documentos internos da UFG. No que se refere à inclusão, avançamos muito. Hoje o perfil do estudante que acessa a universidade é muito diferente do estudante de alguns anos atrás e reflete mais o perfil da sociedade brasileira. Diversas políticas também foram construídas nessa gestão, como a Política de Segurança e a de Acessibilidade da UFG. Várias obras importantes foram concluída e/ou estão em fase final de execução. Finalmente, empenhamos integralmente os recursos para o novo Hospital das Clínicas, que se constituirá em um dos maiores Hospitais Universitários do Brasil.

Há algo que não foi feito e que gostaria que o próximo reitor tivesse como meta?

A comunidade universitária acompanhou as dificuldades, principalmente orçamentárias, mas não exclusivamente, que tivemos nesse mandato. A universidade vinha de um período de grande expansão nos anos de 2008 a 2013, com certa abundância de recursos que deu suporte a expansão ocorrida nesse período. De 2014 a 2017 o cenário orçamentário mudou radicalmente: os orçamentos anuais não foram reajustados adequadamente e ainda foram contingenciados. No que se refere aos recursos de capital, que são utilizados para construção e compra de equipamentos, a título de exemplo, os recursos alocados em 2017 corresponderam a, aproximadamente, 25% do valor alocado em 2015. Por isso, ficamos limitados em nossa capacidade de dar continuidade ao processo de melhoria da infraestrutura da instituição. No que se refere às despesas de custeio, infelizmente, nossos recursos são insuficientes para honrar integralmente os compromissos da universidade com fornecedores, empreiteiras e empresas terceirizadas. Em termos de estrutura física, gostaríamos de ter construído um novo prédio para a reitoria, uma vez que a demanda por informações e serviços oferecidos pelos órgãos nele instalados ampliaram muito. Também não temos um teatro para atendermos eventos de médio porte, para 700 a mil pessoas. Gostaríamos de ter concluído as obras do novo Câmpus de Aparecida, nos transferindo para as novas instalações, o que só ocorrerá em 2018. Gostaríamos de ter ampliado os recursos destinados à Assistência Estudantil, e atendido a um contingente maior de estudantes em vulnerabilidade econômica e/ou com deficiência. Fica, portanto, uma certa frustração por não termos tido condições objetivas para realizar outras obras e ações necessárias para melhorar a estruturação da UFG. Será necessário avançar mais nas ações e projetos de apoio acadêmico e pedagógico aos estudantes que apresentam lacuna em sua formação anterior e que encontram dificuldades para prosseguir nos cursos. Do ponto de vista da qualificação dos cursos oferecidos pela UFG, avançamos bastante mas essa é uma tarefa permanente de todos nós e de todas as gestões. Destaque-se que, na última avaliação da Capes, tivemos o primeiro curso da UFG avaliado com conceito 7, a Pós-Graduação em Ecologia e Evolução. Gostaríamos de ter avançado ainda mais na cooperação internacional, pois maior inserção da UFG no cenário internacional é essencial para melhorar os conceitos de nossos cursos e programas e para qualificar ainda mais as atividades de pesquisa desenvolvidas pela UFG. A partir da implementação do projeto institucional de cooperação internacional da UFG, submetido à análise da Capes, teremos melhores condições de avançar nesse setor.


Em 2017 a UFG viveu episódios difíceis com relação à segurança. O que a UFG precisa tirar de lição desses episódios e melhorar?

A questão da segurança na UFG esteve presente em nossa pauta de preocupações e debates durante toda a gestão. Acredito que avançamos bastante nesse período mas, dada a complexidade do tema, há muito o que se fazer ainda, sendo um tema de permanente debate. Nessa área, também, o cenário de escassez de recursos nos impõe sérias limitações para a ampliação do quadro de servidores especializados e para a aquisição de equipamentos. A universidade está dentro de uma sociedade com muitas carências, extremamente desigual e injusta, não sendo, portanto, uma ilha. As áreas de nossos câmpus são muito extensas e abertas, o que agrega complexidade ao problema. Recebemos diariamente um grande fluxo de pessoas da comunidade universitária e da sociedade em geral que frequentam cursos, palestras e shows, utilizam serviços de cantinas, de instituições bancárias e correios. Queremos manter esse caráter de espaço aberto. Temos tentado adequar nossa equipe de segurança, com ações mais ostensivas, com rondas de moto e carro, instalação de câmeras e de uma central de videomonitoramento. Temos também debatido o tema com a comunidade, nos conselhos e em outras reuniões, para juntos definirmos as melhores abordagens para lidar com essa questão tão complexa. Estabelecemos também contatos com os órgãos de segurança (Polícia Federal e Polícia Militar) visando ao estabelecimento de protocolos claros para a ação dos agentes de segurança pública no interior de nossos câmpus, naquelas situações em que a presença de pessoas violentas, com vínculos com traficantes e assaltantes, possam representar um risco à integridade física das pessoas que convivem em nossos câmpus. A nossa perspectiva ao abordar este tema é a de garantir a preservação do espaço universitário como um espaço plural, aberto ao debate e à crítica, de respeito à diversidade e às manifestações democráticas e, sobretudo, um espaço de aprendizagem, de convivência, de respeito, no qual as pessoas se sintam seguras.

Há uma tendência de que o cenário de cortes orçamentários se agrave nos próximos anos. Como a universidade e a comunidade pode reagir a isso?

De fato o cenário não aponta para melhorias orçamentárias. A Emenda Constitucional 55 que limita os gastos da união, determinando que o orçamento de cada ano seja o do ano anterior corrigido apenas pela inflação por um período de 20 anos. É uma regra extremamente draconiana para um país como o Brasil que possui tantas carências nas áreas sociais. Essa regra aplicada à Educação, em um sistema que não está consolidado é uma regra draconiana. Ela vai impor sérias dificuldades. A sociedade brasileira e não apenas a comunidade universitária precisa tentar mudar ou ao menos abreviar essa emenda. A universidade junto à sociedade precisa esclarecer os danos dessa decisão. O país ainda tem pouca gente na educação superior e temos carências e deficiências em todos os níveis de ensino. É preciso esclarecer, conscientizar e lutar pela ampliação de recursos para áreas fundamentais como educação e saúde, por exemplo.

As universidades têm vivido uma série de ataques com relação a imagem divulgada na mídia. Elas estão sabendo lidar com esses problemas?

As universidades têm sido criticadas de que o real problema das universidades não é falta de recursos, mas a gestão. Isso tem sido colocado de forma generalizada. Temos feitos enormes esforços para gerir diante de cortes orçamentários e temos mantido o padrão de oferta de ensino, pesquisa e extensão com qualidade. Não há como não reconhecer o papel e a importância das universidades públicas. É muito frustrante para os gestores e para mim em particular, fazendo o que fazemos, sermos desqualificados dessa forma. Fazemos o melhor possível para retornar a sociedade os impostos que ela paga. É claro que sempre é possível melhorar a gestão e nós fizemos isso, otimizando cada vez mais os recursos. Isso é permanente e nenhum gestor se negaria a discutir a melhor gestão de recursos. Sabemos que o país também está em uma situação complexa do ponto de vista da arrecadação. Não temos restrição a críticas salutares e construtivas. O que incomoda é essa crítica generalizada que desconhece o quadro de restrições orçamentárias que estamos vivendo.

Que mensagem deixa para os leitores do Jornal UFG?

A minha perspectiva diante dos inevitáveis problemas enfrentados por qualquer gestor, sobretudo no setor público, sempre foi a de procurar entender a real dimensão deles, evitando análises que os maximizem ou os minimizem. Problemas devem ser encarados de frente, sem subterfúgios, com determinação e alguma dose de otimismo. O  pessimismo e visões apocalípticas não podem nortear a ação dos gestores. É fato que estamos vivenciando vários retrocessos nas políticas públicas, o que tem afetado de maneira muito dura as universidades federais, alvo de muitos ataques que tentam desqualificar o trabalho que é desenvolvido por essas instituições. Com a adoção da EC 95, que congela os gastos públicos pelo período de 20 anos, corremos sérios riscos de não serem alcançadas as metas do Plano Nacional de Educação (PNE). Por isso, cabe a todos nós, gestores, membros da comunidade universitária, professores, técnico-administrativos e estudantes, bem como suas entidades representativas, o engajamento na luta em defesa da UFG. Temos de aprimorar o nosso diálogo com a Sociedade, de forma especial com os nossos representantes no Congresso, visando ampliar os nossos canais de comunicação. É preciso divulgar de forma mais clara e objetiva tudo o que fazemos em prol do desenvolvimento do país, é preciso ampliar as parcerias na execução de projetos de interesse social e interagir mais com o setor produtivo, como forma de ter a sociedade ao nosso lado. Esses quase quatro anos à frente da gestão da UFG foram, para mim e para os componentes de nossa equipe, anos de muita dedicação, muito trabalho e de muita luta. Na medida de nossas possibilidades, encaramos e vencemos grandes desafios. Tudo o que conseguimos em termos de avanços se deve também à competência e compromisso de todos os membros da comunidade universitária. Que este seja também o espírito que prevaleça nos próximos anos, na gestão do professor Edward Madureira e da professora Sandramara Chaves, de forma que eles possam também enfrentar e superar todos os desafios da próxima gestão.

Fonte: Ascom UFG

Categorias: Entrevista Edição 92