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Universidade Federal de Goiás
Ipê-roxo capa

Projeto sequencia genoma do Ipê-Roxo

Em 07/03/18 09:53.

É a primeira vez que uma árvore Neotropical tem o genoma sequenciado. Pesquisa pode gerar melhoramento da espécie para usos comerciais e ambientais

Kharen Stecca

Pesquisa da Universidade Federal de Goiás (UFG) realizou um feito inédito: o sequenciamento do genoma de uma árvore nativa do Cerrado, o Handroanthus impetiginosus, conhecida como ipê-roxo. O trabalho foi realizado pela professora Rosane Collevatti do Instituto de Ciências Biológicas (ICB/UFG) e pelo professor Evandro Novaes da Escola de Agronomia da UFG (EA/UFG), com a participação de pesquisadores da Embrapa. O estudo teve financiamento de dois projetos do CNPq e também da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF). Essa é a primeira árvore Neotropical a ter o genoma completo sequenciado.

Segundo a professora Rosane Collevatti, as árvores têm importância ecológica e prática, pois detêm a maior quantidade de biomassa no mundo e retêm carbono, com importância marcante nos ecossistemas. A escolha do ipê-roxo não veio por acaso. A árvore escolhida está localizada dentro da Escola de Agronomia da UFG. "O ipê-roxo ou pau-d'arco, como é também conhecida, é uma das madeiras mais exploradas no Brasil, com alta densidade e durabilidade. Assim como a aroeira, são madeiras que não apodrecem". A árvore é a segunda com maior valor econômico no país, atrás apenas do mogno. Sua exploração econômica move milhares de dólares e ainda há componentes medicinais na planta: "Ela produz o composto lapaxol, que tem atividade anti-cancerígena comprovada", afirma. Por esses e outros motivos, a população de ipês-roxos, que é nativa, tem diminuído.

Rosane explica que conhecer o genoma é a primeira frente de trabalho da pesquisa. "Saber como ele se organiza permite-nos conhecer melhor o perfil da espécie", esclarece a professora. A partir dos dados levantados, foi possível comparar o genoma do ipê-roxo com outros genomas já conhecidos, como o do carvalho, o do tomate, o da batata e o da Arabidopsis thaliana, uma espécie modelo em genética. Segundo a professora, não há espécies parecidas sequenciadas. A falta de modelos parecidos com o ipê-roxo mostra a necessidade de estudar mais espécies. Já está sendo feito o estudo de marcadores moleculares, que permitirá estudos de associação e de melhoramento genético.

O serviço de sequenciamento foi realizado nos Estados Unidos por uma empresa. Segundo a professora, o que demora a ser feito é a análise dos dados: "Foram dois anos para essa análise, pois essa espécie tem alta diversidade genética". O genoma foi depositado em um banco de dados públicos. "Qualquer pessoa que quiser trabalhar com esses dados posteriormente, poderá usá-los gratuitamente. Informação gera informação e mais conhecimento. Essa é uma filosofia da genética e da genômica", ressalta. O material está disponível no National Center for Biotechnology Information (NCBI).

Ipê-roxo

Financiamento
A falta de financiamento é um dos motivos pelo qual não há outras espécies de árvores sequenciadas. "Há pouco interesse em financiar esse tipo de estudo, pois os recursos vão em geral para plantas utilizadas na agricultura e há pouco interesse em financiar estudos de árvores que não são cultivadas em larga escala". Ela ressalta que foram necessários recursos de três projetos para que fosse possível realizar esse sequenciamento. "Com isso perdemos muitas vezes a oportunidade de melhorar o aproveitamento de espécies e de produzir dados inéditos na pesquisa", completa.

Aplicações da pesquisa
Os ipês demoram cerca de 50 anos para chegar ao estágio para exploração da madeira, o que torna difícil plantá-los em escala industrial. "Com os estudos podemos, por melhoramento genético, acelerar o processo de crescimento e permitir o plantio das árvores para exploração", afirma Rosane. Outra possibilidade é o combate à exploração clandestina de madeira sem manejo certificado. A genotipagem pode permitir o rastreamento das árvores exploradas. Em outra frente, a seleção de genótipos pode auxiliar na conservação e uso sustentável da espécie.

Fonte: Ascom/UFG

Categorias: pesquisa edição 93