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Universidade Federal de Goiás
Edição 100 Jornal UFG

Jornal UFG e a consolidação do jornalismo científico

Em 07/12/18 18:02. Atualizada em 03/08/20 13:20.

Em sua 100ª edição, o Jornal UFG assume integralmente o espaço digital

Reportagem: Kharen Stecca e Michele Martins

Podcast: Silvânia Lima

Produção audiovisual: Antônio Rodrigues Filho, Frede Alabama e TV UFG

Fotos: Pedro Gabriel 

Edição: Carolina Melo e Luiz Felipe Fernandes

Jornal UFG interna

2006, doze anos atrás. O mundo já dava sinais da nova era comunicacional, consolidada nos tempos atuais. Naquele ano o Orkut era a rede social mais famosa do momento, o aplicativo de conversas era o Messenger em computadores e nascia o Twitter, com informações de texto em 180 caracteres. O YouTube, nascido um ano antes, começava a despontar como potencial ferramenta de comunicação. Com tantas revoluções, as lan houses ou cyber cafés ainda eram muito populares no Brasil. Isso porque apenas 19% dos domicílios tinham computadores (Dados do Comitê Gestor da Internet do Brasil).

A Universidade Federal de Goiás também não era mais a mesma. Nos anos seguintes, o plano de expansão das universidades e, posteriormente, o Programa de Reestruturação das Universidades Federais (Reuni) permitiram que a instituição crescesse como nunca. Era preciso reestruturar a área de comunicação ainda incipiente. Entre as reformulações, como parte de uma comunicação mais estratégica, surge o jornal impresso, afinal, a internet ainda não atingia todos os públicos. “Até aquele momento existiam algumas publicações sem periodicidade fixa e com produção muitas vezes terceirizada, mas sem sequência ao longo de novas gestões”, lembra o professor da Faculdade de Informação e Comunicação (FIC), Magno Medeiros, então coordenador de Imprensa.

Em suas primeiras edições, o Jornal abordou eventos, lançamentos e coberturas. A concessão do canal de TV para a UFG é uma das notícias da primeira edição, juntamente com o lançamento de novos cursos em Jataí e Catalão pelo projeto de expansão das universidades públicas do Governo Federal. Já os temas da atualidade, como  aquecimento global, Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, segurança alimentar, legalização das drogas e ditadura, não faltaram nas mesas-redondas realizadas pelo Jornal UFG. No início realizadas em salas de reunião, ganharam com o tempo o apoio da Rádio Universitária que se tornou parceira da produção do debate. Logo depois, a TV UFG se uniu à equipe de produção. Iniciava ali o anseio de uma comunicação mais integrada e multimidiática.

Box edição 100

No entanto, a verdadeira veia condutora do Jornal UFG tornou-se, com o tempo e também com a modernização do Portal UFG, o jornalismo científico. A produção de reportagens sobre pesquisas e projetos - como a concepção de Microchips para exames laboratoriais, agricultura orgânica, Dengue, nanotecnologia, física médica e acessibilidade - busca socializar o conhecimento científico produzido pela Universidade e que gera impacto social.

Uma década se passou e o Jornal UFG resistiu às mudanças políticas, aos cortes orçamentários e alavancou a comunicação feita pela universidade. Como um veículo impresso durante 12 anos consecutivos, iniciou com a tiragem de seis mil exemplares e chegou a 11.500 exemplares durante o período em que foi distribuído nas escolas estaduais, em parceria com a Secretária Estadual de Educação. “Minha convicção é a de que, em nossa vida democrática, ninguém teria coragem de desmanchar o trabalho construído pela Assessoria de Comunicação, hoje Secretaria de Comunicação”, ressalta a professora da FIC, Silvana Coleta, a primeira editora executiva do Jornal UFG. “A visibilidade do trabalho hoje é imensa e imprescindível para a instituição e para a sociedade e acredito que foi imprescindível para dar início a comunicação integrada da instituição”, afirma.

Agora, em sua nova etapa, caminhando-se para atingir um público maior e diversificado e, tornando-se instrumento da convergência midiática e da comunicação integrada, o Jornal UFG passa a ser um veículo do espaço digital. A transição teve início em maio de 2018, quando o jornal deixou de ser impresso para que pudesse ser criado o novo Portal Jornal UFG, que ganhou não só em forma, mas também em participação: a partir de agora Rádio Universitária e TV UFG também são responsáveis pela composição do conteúdo do portal.

 

Conheça alguns fatos marcantes

 

Um espaço para noticiar ciência

Profissionais discutem a importância do jornalismo científico para o fortalecimento do papel social das universidades

Matéria Jornalismo Científico

A UFG é uma grande produtora de conhecimento científico no Centro-Oeste brasileiro, destacando-se em áreas como Ciência Animal, Ecologia e Saúde. Fazer com que esse conhecimento produzido esteja acessível à sociedade sempre foi uma das principais preocupações da instituição. Ao longo dos seus doze anos, o Jornal UFG encontrou no jornalismo científico o caminho para contribuir com a publicização e socialização da produção científica da universidade para a comunidade externa.

De acordo com o professor da Universidade de São Paulo (USP) e editor do Portal do Jornalismo Científico on line, Wilson da Costa Bueno, os veículos institucionais, de universidades, institutos de pesquisa, agências de fomento e os laboratórios de pesquisa contribuem decisivamente para estimular a circulação de informações sobre ciência, tecnologia e inovação. “Pela sua proximidade e interação com fontes especializadas, disseminam informações qualificadas, promovendo a democratização do conhecimento e a legitimação destes centros, redutos importantes da ciência e da pesquisa em nosso país”, declarou o professor.

Mesmo possuindo um acesso facilitado aos estudos, laboratórios e cientistas em seu campo de atuação, para a equipe de jornalistas e estagiários do Jornal UFG, a prática do jornalismo científico ainda é uma atividade desafiadora. O relacionamento com as fontes e as diferenças entre linguagem científica e linguagem jornalística são alguns pontos bastante destacados pelos profissionais que se dedicam a falar sobre da ciência para os não cientistas.

O jornalista Raniê Solarevisky, que já estagiou na Secom UFG e hoje é professor substituto do curso de jornalismo da Faculdade de Comunicação e Informação da UFG, lembra que “o mais difícil era fazer caber no texto a empolgação e o orgulho do(a) professor(a) ao mostrar os resultados de uma pesquisa concluída e a satisfação de perceber que, além de ser entrevistado(a), também ensinava algo ao jornalista infante com seu bloquinho surrado”. Na prática do jornalismo científico, Raniê Solarevisky destacou a precisão e atenção com as informações, além da usual, e uma preocupação ainda maior com o leitor e as fontes. “Essa necessidade, no lugar da fadiga ou desinteresse, serviu como adubo à curiosidade que habita em cada estudante de jornalismo, semeando uma trajetória acadêmica que ainda tento fazer florescer”, afirmou. O jornalista lembrou também o quanto as imagens em matérias sobre ciência possuem uma função a parte. “As fotos dos colegas que acompanhavam as apurações falavam por si mesmas, mas havia algo no trabalho conjunto, ou na experiência do olhar atento anterior a um clique certeiro, que não aparecia nos textos”, disse.

Jornalismo Científico

Sobre sua experiência no Jornal UFG, a jornalista Luiza Mylena Costa destaca que o contato com as mais diversas áreas do conhecimento a instigou a querer pesquisar sobre o jornalismo científico em uma pós-graduação. Ela acabou de defender uma dissertação sobre jornalismo científico no Programa de Pós-graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGJOR/UFSC). “O Jornal UFG me obrigava a sair do meu lugar de conforto para produzir reportagens que fugiam do óbvio, incentivou-me a encarar os componentes sociais, a contextualização, do fazer científico”, avaliou a mestranda.  “Posso dizer, com certeza, que sem a experiência de estágio não estaria onde estou hoje. Mais do que isso, a experiência na Secom-UFG é meu ponto de reflexão sobre a prática. Pesquisando, percebi como errei, como acertei e como poderia melhorar. Pena que não dá para fazer o estágio de novo”, brinca Luiza Mylena.

Refletindo sobre o papel das universidade junto à sociedade, a pesquisadora Graça Caldas, que se dedica a estudos sobre jornalismo científico e comunicação institucional no Laboratório de Jornalismo Científico, do Instituto de Estudos da Linguagem, da Universidade Estadual de Campinas (Labjor/IEL/Unicamp), lembra que, no atual contexto sociopolítico em que as universidades públicas são questionadas pelo custo de sua manutenção, pouco se fala sobre o papel destas instituições para a formação do conhecimento crítico e autônomo, para o debate sobre os problemas nacionais e as possíveis soluções que eventualmente surgem nestes espaços. A professora ressalta a qualidade e a credibilidade noticiosa dos jornais institucionais, sejam eles impressos ou digitais, servindo também para pautar diversos veículos da mídia tradicional. “Mais do que nunca é essencial que as universidades, por meio de seus pesquisadores, reitores, alunos e funcionários, estejam juntos no processo de divulgação da produção científica e tecnológica para que todos possam entender seu papel social. Nesse sentido, os jornais institucionais e seus portais são veículos que podem ser acessados por todos”, afirmou.

 

Jornal UFG e o papel da comunicação pública

A TV UFG apresentou no quadro Univer Cidade um relato sobre a história, a produção e a função do Jornal UFG que chega a edição número 100 com um novo formato e muito mais informação para os leitores.

 

 

 

 

 

 

 

 

Matéria mais lida discute Ditadura Militar

Tema atual hoje e há oito anos, mesa-redonda que discutiu o Golpe de 1964 foi a matéria mais lida de todas as edições

Desde 2010, o Jornal UFG impresso era também disponibilizado online. Apesar de todas as matérias serem acessíveis via mecanismos de busca, normalmente sua divulgação se dava no mês de publicação, dando ênfase à periodicidade mensal. Os acessos variavam de acordo com o compartilhamento em redes sociais, temas e engajamento de grupos ligados às reportagens publicadas. Durante oito anos de monitoramento online, um dado interessante: a matéria mais lida do Jornal UFG foi a mesa-redonda que discutiu a Ditadura Militar, que contou com mais de 14 mil acessos. A matéria “Brasil ainda reflete consequências do Golpe de 1964” foi publicada em março de 2014, quando o episódio da história brasileira completava 50 anos.

Participaram da mesa três professores da Universidade Federal de Goiás: o cientista social Pedro Célio Borges, o historiador Noé Freire e o jornalista Juarez Maia. A entrevista relembrou as motivações do golpe, o apoio civil, o papel da resistência democrática e as consequências da ditadura para a atualidade.

A Rádio Universitária fez um podcast com o professor Pedro Célio e Juarez Maia relembrando o tema e a importância de não deixar esquecer este assunto. Confira:

Em 2014 o tema ganhou espaço na mídia e no campo cultural devido aos 50 anos, mas era um momento pretérito mais ligado aos livros de história. Ganhou força desde as ruas de junho em 2013, quando grupos a favor da Ditadura começaram a despontar, em especial nas redes sociais. Ao longo do debate, os professores não descartaram a possibilidade do retorno de regimes autoritários, mas afirmaram ter fé nas instituições brasileiras e na sua capacidade de manutenção da democracia.

Um passado atual

Por que a ditadura militar vem sendo revivida em falas e debates atuais? Na avaliação do professor Robert Bonifácio, da Faculdade de Ciências Sociais da UFG, o interesse pela ditadura militar brasileira e sobre a possibilidade de haver um novo período de autoritarismo é algo frequente porque somos uma democracia recente e porque temos uma cultura política moderadamente – e não fortemente - democrática. “Logo, há sempre um temor de ruptura democrática. A possibilidade de um golpe – militar ou civil – que leve à constituição de um regime político autoritário causa grande comoção porque seria um fenômeno com potencial transformador e até mesmo revolucionário, afetando diversas dimensões da vida social, econômica, política e cultural dos brasileiros. O cotidiano das pessoas sofreria um grande abalo e isso é uma oportunidade para poucos e um caos para muitos” avalia o professor.

Para Roberto Abdala da Faculdade de História, esse receio se dá porque não resolvemos nossos traumas históricos. Para ele, existem algumas ações que permitiriam enterrar o fantasma da Ditadura. “O primeiro é o exercício de punir aqueles que cometeram crimes durante a Ditadura, porque a tortura nunca foi um ato legal. O segundo é reconhecer que esse período ocorreu e que foi um erro na nossa história, e falarmos sobre isso socialmente. A Ditadura é um regime de silêncio e medo. Se a sociedade se conscientiza em vez de evitar discutir, pode então evitar que ocorra novamente”. Ele cita como exemplo o que a Alemanha fez com relação ao Nazismo.

O professor Robert Bonifácio destaca uma outra questão importante na prevenção das ditaduras: o papel da legitimidade. “Naquele momento histórico da década de 1960 conferiu-se legitimidade a um movimento político que restringiu direitos e liberdades individuais. Ou seja, o apoio popular a políticos e a medidas governamentais diminuíram o poder da sociedade e engrandeceu o papel do Estado. É interessante observar o aparente comportamento ilógico das massas em ofertar apoio àqueles que lhes ´tirariam o chão´ por décadas. Tal tipo de dinâmica política pode se manter intocada por determinados períodos, mas com frequência volta-se à tona, com nova roupagem”. Para ele, cada cidadão minimamente esclarecido deve fomentar em seus concidadãos a vigilância para com os direitos e as liberdades conquistadas. Além disso, deve-se promover uma reflexão sobre a natureza de aparência ou de essência de fenômenos e objetos da política. “Em uma das sociedades mais desiguais do mundo – que é o caso do Brasil - há de se superar o status quo. Para tanto, é mister tratar as questões políticas em sua essência, ou seja, olhar para as raízes dos problemas e procurar transformar, aos poucos e com moderação, as fontes de todos os males.”

 

Jornalismo impactado pelas novas tecnologias

De 2006 para cá, ou seja, há 12 anos, tempo de existência do Jornal UFG, muita coisa mudou na forma de se fazer jornalismo. A sobrevida do jornal impresso, o jornalismo nas redes sociais, fake news, o papel do jornalismo nas democracias atuais são alguns dos temas que norteiam o debate sobre as mudanças na prática profissional. Para discutir as transformações da área, o programa Conexões da TV UFG recebeu o professor Raniê Solarevisky, que já estagiou na Secretaria de Comunicação da UFG, e a professora Simone Tuzzo, ambos da Faculdade de Informação e Comunicação.

Fonte: Secom UFG

Categorias: Institucional Especial