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Universidade Federal de Goiás
Estudante da UFG

Cresce em 46% o número de estudantes com deficiência

Em 11/12/18 11:37. Atualizada em 14/12/18 13:10.

Crescimento ressalta o desafio da permanência na Universidade

Aline Borges

Cadeirante interna

São mais ou menos 11h e o ônibus da linha 105 para em frente a um ponto de ônibus do câmpus Samambaia. De maneira incomum, o motorista desce do veículo e caminha até a primeira porta, que se abre para os passageiros. Após alguns instantes e certo esforço para fazer o elevador funcionar devidamente, é possível ver Diogo Batista Menezes sair do veículo em sua cadeira de rodas motorizada. Ele desliza pela passarela que liga os prédios até chegar ao pátio da Faculdade de Letras (FL), onde cursa Letras: Português. Vindo do bairro de Campinas, chegar até a universidade não é tarefa fácil para o estudante de 29 anos. Nunca foi.

Abrir portas para que as pessoas com deficiência (PcD) tenham acesso à educação superior é uma ação fundamental rumo a uma sociedade mais inclusiva. Na UFG, o cenário tem ficado a cada ano mais expressivo. Em 2018, o número de pessoas com deficiência a ingressarem em cursos da Universidade Federal de Goiás (UFG) cresceu 46% se comparado a 2017, que já apresentava um quantitativo de crescimento em torno de 15% em relação ao ano anterior. A evolução nos números se dá em virtude a uma série de fatores, conforme aponta a diretora do Núcleo de Acessibilidade UFG, Vanessa Helena Santana. Dentre eles, a alteração da lei 12711/12, conhecida como Lei de Cotas, que, a partir de 28 de dezembro de 2016, passou a incluir PcDs aos 50% de vagas reservadas a estudantes de escolas públicas.

Em números exatos, o último relatório das Ações de Acessibilidade da UFG em 2018, divulgado em outubro, aponta que o quantitativo de “estudantes com deficiência na UFG tem aumentado significativamente nos últimos anos, sendo que em 2016 era 189, em 2017 passou para 219 e atualmente temos 320 estudantes”. Assim como explica a diretora Vanessa Helena, uma pessoa com deficiência é aquela que “possui impedimento de longo prazo de natureza física, intelectual, mental ou sensorial - visual ou auditiva, o qual em interação com duas ou mais barreiras pode obstruir sua participação plena na sociedade. Então só é considerada uma pessoa com deficiência aquela que tem impedimento e também as barreiras”.

Atualmente, as quatro regionais da UFG possuem 41 estudantes com deficiência auditiva, 45 com surdez, 114 com algum tipo de limitação física e 12 intelectual, 76 alunos apresentam quadro de baixa visão e sete são cegos, outras 22 pessoas apresentam Transtorno do Espectro Autista (TEA) e três têm deficiências múltiplas. O Núcleo de Acessibilidade também reconhece 11 estudantes identificados com altas habilidades. Vanessa afirma que “há pessoas com deficiência que entram na universidade por ampla concorrência e essas têm direito a se identificar ou não. Isso depende da vontade delas”. O que acontece é que em muitos casos os estudantes não têm necessidades específicas naquele momento. “Não é porque uma pessoa tem deficiência que possui alguma necessidade significativa. O que nós temos visto é o contrário, são poucos os que possuem necessidades mais significativas”.

De acordo com a diretora do Núcleo de Acessibilidade, o papel da universidade é estar atenta aos casos e julgá-los com base em suas particularidades. Na matrícula e na rematrícula, os estudantes com deficiência têm a opção de se identificar. “Recebemos essa lista todo começo de ano e corremos atrás das pessoas para saber quais suas necessidades. Se o aluno não quiser nenhum atendimento, a gente respeita”. No Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas (Sigaa), uma espécie de intranet da comunidade acadêmica, há também o módulo de Necessidades Educacionais Especiais (NEE), no qual tanto o estudante quanto o coordenador pode relatar o que está ocorrendo. “Quando nós recebemos alguma notificação, entramos em contato com o estudante e o convidamos para um estudo de caso. Marcamos um contato com uma psicopedagoga, intérprete de libras, técnica de tecnologias assistivas para avaliar a situação”, afirma Vanessa Helena.

Quando o estudante ingressa pelo Sistema de Cotas, o diálogo ocorre de maneira mais regulada. “Se eles entram pela reserva de vagas, a gente tem uma banca de verificação (interdisciplinar) da condição da deficiência. O médico avalia o impedimento e a equipe interdisciplinar avalia as barreiras que o estudante terá na universidade para saber se ele pode ou não ocupar essa vaga”. Os dados possibilitam, segundo a diretora Vanessa Helena, que, logo no ingresso, os alunos tenham o atendimento de suas necessidades, para que o processo de inserção na rotina acadêmica aconteça de forma mais gradual e menos traumática.

Inclusão ainda é um desafio

Para o acadêmico de Letras, Diogo Batista Menezes, os desafios da nova rotina não demoraram a aparecer. Já durante a Semana de Integração, evento que reúne os calouros para dar as boas-vindas, o estudante se deparou com uma situação desconfortante. A cerimônia de recepção, que ocorria no Cine UFG, auditório da Faculdade de Letras, estava com a entrada acessível aos cadeirantes trancada e Diogo teve de ser carregado escada abaixo. “Foi uma situação constrangedora. Quem é deficiente não quer ser carregado. Outra coisa é você ficar preso, sem mobilidade. Imagina, se quero beber água tenho que pedir, se quero ir ao banheiro, eles têm que me levar de volta. Eu não quero incomodar uma pessoa que também merece estar ali”, afirma o acadêmico.

Apesar de reconhecer o esforço de integração dos estudantes com deficiência, Diogo ressalta que a inclusão ainda é um desafio. “Os deficientes físicos se sentem integrados, incluídos não. Inclusão é quando tudo corrobora para sua mobilidade”, explica. O comportamento da própria comunidade acadêmica em relação a esses estudantes é, na perspectiva da diretora do Núcleo de Acessibilidade da UFG, Vanessa Helena, uma das problemáticas mais difíceis a serem enfrentadas para que haja de fato acessibilidade. “A gente entende a acessibilidade de uma maneira bastante ampla, vai muito além da acessibilidade arquitetônica, mas também acessibilidade pedagógica, curricular, informacional e também a acessibilidade atitudinal, que diz respeito ao comportamento das pessoas com relação à deficiência. Então, pra gente, esse é o maior desafio, a acessibilidade atitudinal”, afirma.

Ainda com todos os enfrentamentos diários, Diogo destaca os avanços conquistados junto com o Núcleo de Acessibilidade da universidade. “A UFG tem trabalhado para solucionar grande parte desses problemas. O Núcleo de Acessibilidade tem dado grande valor a essas questões”, afirma, dando atenção especial ao trabalho desenvolvido por Vanessa.

Política de Acessibilidade da UFG

BOX inclusão

Fonte: Secom UFG

Categorias: universidade Institucional