Inteligência, informação e tecnologia
A inteligência é essencialmente humana, mesmo na chamada inteligência artificial, afirma o professor Cleomar Rocha
*Cleomar Rocha
A inteligência, definitivamente, é um valor cultivado desde sempre pelos humanos e, de modo mais acentuado, na contemporaneidade. Nos tempos atuais, não apenas a inteligência em humanos, mas, principalmente, em não humanos, como em aparelhos celulares, televisores, edifícios e até cidades. Essa busca poderia ser tratada como uma desumanização da inteligência, mas a sensatez prefere nominar de inteligência artificial, com respingos em conceitos como o de Internet das Coisas. Verdades sejam ditas: continuam sendo fruto da inteligência humana, agora investida em objetos do mundo.
O número crescente de objetos que se caracterizam por conectividade - como Smartphones, smartTVs, Smart Cities, entre outros - passou a receber o adjetivo de inteligentes. Inadvertidamente, uns e outros creditam a generosa qualidade aos produtos mesmos, esquecendo-se de que, de fato, são artefatos humanos, como o são os códigos que, uma vez processados, passam a significar inteligência artificial. Em última instância, falamos em inteligência embarcada, ainda que os processamentos tornem autônomas determinadas atividades que são levadas a cabo pelos produtos. Ainda assim, a inteligência é essencialmente humana, como a própria tecnologia. Nada mais humano que a tecnologia, fruto de seu desenvolvimento cognitivo e social.
A inovação da inteligência aplicada a objetos, notadamente a equipamentos de performances autônomas, é fruto da inteligência humana, visto não ser encontrada na natureza, mas produzida pelo homem. A origem do termo artificial, do latim articiale, derivado de artificum, derivado de artifex, originalmente composto pelos termos latinos ars, arte e fex, de facere, fazer, induzem ao fazer humano, vinculado à arte do fazer. Artificial é a arte do fazer humano, resultado da aplicação da inteligência e complexidade da produção humana. Nesse sentido, inteligência artificial é derivada e composta essencialmente pela produção humana, em síntese, inteligência humana.
Não havemos de pensar, seguindo esse raciocínio, em um fictício embate entre inteligência humana versus inteligência artificial, visto que este último é derivado e está contido no primeiro. A inteligência nominada nos objetos e sistemas é, sem sombra de dúvida, um índice ou rastro da complexidade humana, repousada em elementos extraneuronais ou simplesmente objetualizada.
A cultura gerada pela informação sempre se mostrou essencial para o alcance dessa inteligência. Os métodos de acumulação de informação, cuja base foi a escrita, resultou na possibilidade de continuidade de pesquisas e, logo, de aprimoramento das áreas de conhecimento. As informações acumuladas possibilitaram o desenvolvimento da inteligência humana, em proporções admiráveis, visto que o estudante/pesquisador parte sempre do ponto em que o pesquisador anterior parou, não sendo necessário retornar ao início. A revisão de literatura é a base metodológica para esse fato, fazendo avançar o estado da arte da pesquisa, em todas as áreas de conhecimento.
O modelo científico de acumulação e avanço de informação convertida em conhecimento possibilitou a inserção da inteligência humana em produtos e equipamentos, como livros e computadores. A essa inteligência capaz de ser ”encarnada” em objetos, devedora de toda uma história do conhecimento, fruto contemporâneo de nosso estágio evolutivo e nossa capacidade neuronal, a ela chamamos tecnologia.
Cleomar Rocha é professor da Faculdade de Artes Visuais e do Media Lab/UFG e Secretário Municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação de Aparecida de Goiânia.
Fonte: Secom UFG
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