Os dias das mulheres no Jornal UFG
Professoras, acadêmicas, negras, indígenas, mães, fiandeiras, transexuais, pesquisadoras enriqueceram as narrativas do veículo informativo
Carolina Melo
Todos os dias têm mulheres produzindo ciência, arte, música, vídeos, documentários, reportagens, superando barreiras, enfrentando adversidades em ambientes hostis. Todos os dias têm mulheres entendendo o seu lugar no mundo, fortalecendo-se, unindo-se, transformando aos poucos a sociedade comandada por valores machistas. E o Jornal UFG sempre acompanhou os passos dessas mulheres, professoras, fiandeiras, mães, negras, indígenas, acadêmicas, transexuais, pesquisadoras em suas ações de transformação no mundo.
Separamos algumas dessas histórias contadas pelo Jornal ao longo de três anos. São relatos do protagonismo das mulheres nas diferentes área de impacto na sociedade, especialmente na Ciência.
Apesar da falta de representatividade feminina nas narrativas históricas sobre a Ciência, ilustrada pela matéria da jornalista Michele Martins em Ser mulher e fazer Ciência, as mulheres sempre estiveram presentes na construção do conhecimento científico. E na Universidade Federal de Goiás (UFG) o cenário não é diferente. Elas criam tecnologia, identificam novas espécies de animais e plantas, atestam a qualidade de alimentos, analisam as transformações sociais e espaciais e coordenam pesquisas globais. Também se utilizam dos espaços conquistados para problematizar e pesquisar os temas caros às mulheres, como a violência de gênero, a cultura popular, a identidade, a maternidade, e a própria produção de sentidos e conhecimentos das mulheres.
Violência de gênero: uma realidade que precisa ser discutida
Marca de subjetividades e memórias ancestrais, a violência de gênero foi tema de pesquisas que ganharam as páginas do Jornal UFG, ao lançarem luz sobre o espaço de opressão no ambiente hospitalar e também privado.
Na reportagem Vítimas nem sempre percebem situação de violência obstétrica, duas pesquisas que retratam a violência manifestada no momento de vulnerabilidade da mulher, ou seja, durante o parto, foram discutidas pelas próprias pesquisadoras Vittória Braz de Oliveira Alves e por Mayara Guimarães, vinculadas ao Núcleo de Estudos Qualitativos em Saúde e Enfermagem (Nequase) da UFG.
Também vinculada ao Nequase, a pesquisadora Paula Pereira adentrou o espaço privado para entender de que forma as experiências negativas da violência contra a mulher são transmitidas de geração para geração, comprometendo todo o cenário familiar. Os resultados da pesquisa foram debatidos ao longo da reportagem Maria sofreu agressões, mas não foi a única.
Érika Nunes participou da coluna Eu faço UFG
Ao partir de um olhar sociológico, levando a violência de gênero do espaço privado para o espaço público, Érika Nunes, com base em sua pesquisa, fez seu relato na coluna Eu faço UFG sobre o espaço de opressão que tem gênero, raça, etnia e classe. Segundo ela, “a percepção da violência contra as mulheres pelas instâncias da esfera pública como problema social, histórico, cultural e também político é recente, e deve seu percurso às longas e estratégicas formas de luta do movimento feminista e de mulheres”.
O lugar da maternidade e da construção e fortalecimento da identidade da mulher negra também inspiraram pesquisadoras da UFG. No primeiro caso, os benefícios da bolsa canguru para bebês a termo foram
comprovados pela pesquisa inédita na América Latina, realizada por Romilda Rayane Godoi, da Faculdade de Enfermagem (FE).
Já o fortalecimento da identidade da mulher negra angolana-africana foi o caminho da pesquisa de Eufrásia Songa, da pós-graduação em Antropologia Social. Ela estudou as (re)significações das tranças e outros penteados em Angola:
Duas coisas me motivaram a pesquisar as (re)significações das tranças e outros penteados em Angola. Primeiro, a tentativa de trazer para o espaço acadêmico uma reflexão construída ao longo da minha própria trajetória, como mulher, negra, angolana-africana, que perpassa os continentes africano e sul-americano, ao lado de pessoas de diversas categorias raciais. Segundo, a necessidade de problematizar o corpo feminino negro, por meio desse elemento/objeto de identidade e estética – o cabelo –, dando positividade às características corporais e sociais da mulher negra angolana na região estudada (e não só). Abordei a dimensão da positividade para fugir da dimensão do sofrimento que, em diversos contextos, no âmbito das relações sociais, contextualiza o que pode configurar racismo e preconceito por não contrapor noções pejorativas dessa estética. (Eufrásia Songa)
O entendimento da mulher, diferente daquela que sou, foi o desafio assumido pela pesquisadora Sophia Pinheiro, que lançou o seu olhar para a cineasta indígena Patrícia Ferreira Yxapy. Algumas perguntas impulsionaram a pesquisa de Sophia. Entre elas: O que é ser uma mulher indígena cineasta? O que as imagens produzidas por uma mulher indígena podem causar, combater ou afirmar? O processo de produção científica propiciou o encontro artístico das duas mulheres, que, juntas, chegaram a produzir um documentário. O resultado do estudo foi divulgado na reportagem Pesquisa registra trajetória de cineasta indígena.
Protagonismo das mulheres na Ciência
Abaixo apenas alguns exemplos do protagonismo das cientistas da UFG, que ganharam destaque no Jornal UFG:
- Estudantes criam cateter para diminuir sofrimento animal - "Como ninguém pensou em inventar isto antes?". Essa foi a pergunta que iluminou a estudante de Medicina Veterinária da UFG, Gabriela Cheguri de Almeida, durante uma palestra sobre o futuro da Oncologia Veterinária. Foi assim que surgiu a ideia de criar um cateter totalmente implantável que seja exclusivo para uso veterinário. O atual modelo de cateter usado na veterinária foi criado nos anos 1980 para pacientes humanos e não foi adaptado para atender as diferentes anatômicas dos animais. Gabriela se uniu as alunas Jaqueline Sales, Fernanda Martins, Claudiane Marques Ferreira e Nathany Geraldino e juntas elas são as responsáveis por idealizar o projeto intitulado Port-Veterinário.
- Cientista identifica primeiro mamífero brasileiro - Mariela Cordeiro de Castro liderou estudo que envolveu pesquisadores da UFG, USP, Unicamp, Museo de La Plata (Argentina) e Massachusetts Institute of Technology (EUA) e reconheceu a primeira espécie brasileira de mamífero do Mesozoico, época em que os dinossauros dominavam o planeta. O nome com o qual a espécie foi batizada, Brasilestes stardusti, faz alusão ao Brasil.
- Pequi do Tocantins é menos calórico, segundo pesquisadora - A responsável pelo estudo e professora da Faculdade de Nutrição da UFG, Maria Margareth Veloso Naves, é raro existir esse tipo de diferença em frutos da mesma espécie
- Beterraba: riqueza da folha à raiz - O estudo, sob a responsabilidade de Anna Paula Oliveira, com orientação da professora Patrícia Borges Botelho, confirmou o valor nutritivo das folhas e talos da beterraba
- Pesquisadores da UFG descobrem novas espécies de plantas - Luzia Francisca de Souza coordenou o trabalho que identificou as novas espécies que evoluíram no Cerrado e não são encontradas em nenhum outro lugar do mundo.
- Biodiversidade do Cerrado ameaçada - UFG participa do monitoramento oficial do bioma e as notícias não são boas: avanço do desmatamento e das queimadas ameaçam a biodiversidade do ecossistema. A professora do Instituto de Estudos Sócio-Ambientais (Iesa) da UFG, Elaine Barbosa da Silva, coordenou regionalmente o projeto.
- Plástico é produzido com resina do cajueiro - A professora do ICB, Kátia Fernandes, que coordenou a pesquisa, explica que a matéria-prima é extraída da resina que o cajueiro produz quando tem seu tronco ou galhos cortados.
- Pesquisadora coordena pesquisa global sobre Zika Vírus - O projeto OpenZika é coordenado pela professora da Faculdade de Farmácia da UFG, Carolina Horta, e possibilita que qualquer pessoa que possua um computador ou dispositivo móvel contribua com o processamento da pesquisa. O Jornal UFGconversou com a pesquisadora sobre as perspectivas desse projeto inovador.
Histórias de superação
O jornal também acompanhou a história de mulheres que superaram as dificuldades estruturais de uma sociedade machista e excludente dentro do espaço acadêmico. Elas são nosso #orgulhodeserUFG
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Fonte: Secom UFG
Categorias: Humanidades