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Universidade Federal de Goiás
Seminário Caxim 19 de março

Rupturas ou reinvenções: o que a conjuntura política nos reserva

Em 19/03/19 18:30. Atualizada em 19/03/19 18:56.

Debate discute política nacional e perspectivas de ação dos estudantes, universidade e sociedade

Por Kharen Stecca (texto e fotos)

Seminário Caxim 19 de março

Um período de ruptura, de definições, a esperança de que ainda é possível mudar, a necessidade de reinventar a política: essas foram algumas das ideias lançadas no debate “Brasil acima de tudo? Um olhar sobre a conjuntura nacional contemporânea”, organizado pelo Centro Acadêmico XI de maio (Caxim) dos estudantes de Direito da Universidade Federal de Goiás, no dia 19 de março para iniciar a semana de recepção aos novos estudantes. Com a intenção de proporcionar aos presentes uma perspectiva de formação conjuntural, os estudantes convidaram para a mesa o professor da Instituto de Ciências Políticas da Universidade de Brasília, Luis Felipe Miguel, o professor da Faculdade de Direito da UFG, Arnaldo Bastos, a ex-vice presidente da União Nacional dos Estudantes, Katherine Oliveira e o reitor da UFG, Edward Madureira Brasil.

Seminário Caxim 19 de março

Ruptura

O professor Luis Felipe iniciou sua fala fazendo uma leitura do que acredita ser um momento ímpar de ruptura de um processo iniciado com a Constituição de 1988 no país. A crise para ele, começa na eleição de 2014 quando a direita perde as eleições para o PT e uma crise econômica leva ao impeachment em 2016. Em 2018 a extrema direita se destaca nas eleições, mas antes disso, há o impedimento da candidatura de Lula. Cria-se a partir dali uma polarização de uma esquerda moderada e uma direita radicalizada, explica o professor. “A partir deste contexto social passa a não existir mais debate político. Observa-se que não foi a esquerda que radicalizou, mas a direita. A sociedade passou a ser mobilizados por sentimentos como rancor, medo, ódio e pânico. Ele cita algumas declarações de pânico: “Paulo Guedes fala que se não aprovarmos a reforma da previdência não haverá recurso para pagar salários, por exemplo”.

Por outro lado, afirma que a esquerda abandonou o espaço da rebeldia e passou a defender uma democracia liberal. Sobre a direita, ele afirma que os ataques dos conservadores se dão exatamente nas brechas em que a esquerda conseguiu entrar: cotas, feminismo, grupos LGBTs. Para ele, vivemos um governo em que não é aceito a divergência, nem mesmo no espaço da economia. O professor encerrou sua fala dizendo que se não há divergência, não há a condição essencial para a democracia.

Seminário Caxim 19 de março

Presidencialismo e Parlamento

Para Arnaldo Bastos o Brasil nos próximos anos definirá se seguirá sendo uma sociedade democrática ou não. Ele ressalta que sua geração protagonizou o período da redemocratização e que a democracia permitiu avanços tímidos, mas existentes. “No Brasil existe uma ideia messiânica de que o presidente é quem vai tomar as decisões corretas” e destaca o enfraquecimento do Parlamento. “Brasil acima de tudo é a ideia de que não deve haver discordância”, afirma. Ele ainda acredita que é possível que o parlamento rompa esse modelo e faça o governo sentar na mesa de negociação. Ele também ressalta que o Presidencialismo tem dificuldade em lidar com crises e que ele pressupõe uma vocação negocial.

Arnaldo também destaca que a universidade precisa se colocar nesse cenário e fazer a crítica “as forças da cultura precisam se impor às forças de poder, a universidade é uma caixa de ressonância da sociedade”.  Ele também destaca que os brasileiros precisam entender que, para haver democracia é preciso um tempo de acordos entre os diferentes valores existentes na sociedade. “Se os acordos são rompidos, inauguramos um período autoritário e não podemos abrir mão da democracia”.

Seminário Caxim 19 de março

Estudantes não podem parar

Katherine rememorou as discussões em pauta em 2016 quando estava na vice-presidência da Une: “Debatíamos o Plano Nacional de Educação e dizíamos que o Brasil era conservador nos costumes e liberal na economia, que produzíamos consumidores e não cidadãos”. Para ela tudo mudou exatamente quando a crise econômica dificultou o consumo. Ela afirma que a esquerda fugiu de um debate importante e que o atual governo se apresentou como a rebeldia, a mudança. Ela, que é do Rio de Janeiro, também relatou a dificuldade da cidade que vê milícias se misturarem ao tráfico e dominarem as regiões mais pobres da cidade. Falou também do crescente poder de grupos religiosos.

Por outro lado, ela se mostra positiva e acredita que é possível mudar. “As movimentações acadêmicas não podem parar, temos de esclarecer as pessoas, precisamos defender a educação, por exemplo evitando as intervenções nas eleições para reitores”. Ela também afirma que a universidade não pode ser apenas um espaço para a elite do país.

Seminário Caxim 19 de março

Educação ainda sem rumo

Na mesma linha de pensamento o reitor Edward Madureira  afirma que a esquerda perdeu a narrativa e acredita que o ponto de inflexão se deu em 2013, com as manifestações nas ruas e que o papel da mídia foi imprescindível: “as pessoas aceitaram que tudo que foi feito no Brasil nos últimos anos teve origem em corrupção, quando na verdade a política no Brasil sempre foi assim, é o governo de coalisão e isso só vai mudar se houver uma reforma política séria.” Ele afirma que perdemos a narrativa da história e que a população está cansada dos discursos presentes e quer uma nova forma de comunicar.

Ele também mostrou-se preocupado com os rumos da Educação: “Nenhuma decisão foi tomada ainda, mas questiona-se a universidade pública”. Ele destacou que a universidade cresceu muito nos últimos anos e que todos os indicadores melhoraram de 2006 para 2018. Por fim, ele destacou 10 mitos que circulam sobre a educação e que precisam ser desmistificados, como, por exemplo, que o Brasil já aplica valores suficientes em educação, que a expansão diminuiu a qualidade das universidades, que os estudantes da universidade são da elite, entre outros, todos eles desmistificados pelos números.

Para saber mais sobre os 10 mitos da educação superior brasileira, veja aqui o vídeo produzido pela Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação a partir do artigo do professor Nelson Cardoso do Amaral  da UFG.

 

Fonte: Secom UFG

Categorias: Humanidades