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Universidade Federal de Goiás
Lucas

PANORAMA

Em 22/03/19 13:58. Atualizada em 22/03/19 14:11.

Jovens e a Política na Contemporaneidade

*Lucas Toshiaki Archangelo Okado

 

A relação entre juventude e política é quase sempre definida no imaginário como sendo um período de conflito e contestação. De fato, o período que antecede a idade adulta é uma fase de experimentação, onde o indivíduo não é mais uma criança que precisa ser o tempo todo tutelada, mas também não assumiu ainda os papeis característicos da vida adulta, principalmente a maternidade/paternidade e a inserção no mundo do trabalho. Esta fase do ciclo de vida possibilita certa manobra para contestação, uma vez que este período de não ser (não ser criança, nem adulto) cria uma disfunção entre o que se projeta como ideal de mundo com o que é vivenciado objetivamente.

Esta propensão à contestação pode ser observada na política através das ações de protesto. De acordo com o levantamento feito pelo Barômetros das Américas em 2017, 20% dos jovens entre 16 e 18 anos afirmaram ter participado de tais ações nos últimos 12 meses que antecederam a pesquisa, contra 13,6% para o restante da população. Os custos de mobilização mais altos de outras formas de participação política e a ausência de espaços de interlocução, aliadas com a disfunção entre o que se espera e o que se vivencia do mundo, fazem do protesto um importante meio de expressão das demandas juvenis.

Outra visão recorrente da relação dos jovens com a política é que ela seria permeada pela apatia. A juventude não se interessaria pelas questões públicas, uma vez que não participa dos canais institucionais da democracia, como o voto ou o envolvimento em partidos políticos. De acordo com os dados do Instituto Mauro Borges e do IBGE sobre a projeção da população em 2018 e do Tribunal Superior Eleitoral acerca do perfil do eleitorado para este mesmo ano, apenas 33% dos goianos entre 16 e 18 anos possuíam título de eleitor. No Brasil, esta média era de 36%. Nas eleições gerais daquele ano somente 10% dos jovens de 16 anos estavam aptos para votar em Goiás, contra 13% no Brasil. Estes dados, se analisados de forma isolada, corroborariam a ideia da apatia política juvenil.

Mas a pesquisa do Barômetro das Américas aponta em outra direção. Em 2017, 28,5% dos jovens entre 16 e 18 anos demonstraram interesse em política. No restante da população, este percentual cai para 22,2%. Cerca de 14% dos jovens afirmaram confiar nos partidos políticos contra apenas 8,5% daqueles que possuíam 19 anos ou mais. O maior interesse em política, a maior confiança nos partidos juntamente com a propensão em participar de ações de protesto não permite afirmar que os jovens são politicamente apáticos. Mas o que explicaria as baixas taxas de alistamento eleitoral desta parcela da população?

O que foi exposto até agora indica uma disfunção na representação. Os jovens não se veem na política institucional, ou seja, não se sentem representados. Os políticos eleitos não estão sendo capazes de atender as expectativas de uma juventude cada vez mais informada, com acesso quase em tempo real à informação disponibilizada pela Internet. Isto leva a uma situação bastante delicada: apenas 45,3% da população entre 16 e 18 anos dizem preferir a democracia a qualquer outra forma de governo. No restante da população, este percentual sobre para 53,1%. Este dado, por si só, não indica que os jovens estão se tornando propensos a apoiar uma solução autoritária, mas expressa o seu descontentamento com tudo o que está posto em termos de representação política.

Reverter este quadro não é impossível. Tudo aquilo que foi exposto acima aponta para o anseio da juventude em ser ouvida. Ampliar os espaços de interlocução é fundamental para os jovens vocalizarem as suas demandas. Ações que os coloquem em contato direto com as instituições, possibilitando a vivência de uma experiência democrática real, podem contribuir com o aumento do envolvimento dos jovens com a política. E tudo isso se faz urgente e necessário, já que os jovens de hoje serão aqueles que decidirão o futuro do país amanhã. Uma vez que na política participar se aprende participando, dar mais espaço para a juventude hoje significa construir uma cidadania mais consciente e engajada amanhã.

*Lucas Toshiaki Archangelo Okado é Doutor em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná e Bolsista de Pós-Doutorado do Programa de Pós Graduação em Ciência Política/ UFG

Fonte: Secom UFG

Categorias: colunistas