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Universidade Federal de Goiás
Painel Econômico

PAINEL ECONÔMICO

Em 23/04/19 14:59.

Indicadores econômicos brasileiros estão pouco animadores e reforma da Previdência não será capaz de gerar guinada que se espera na economia

Boletim de Conjuntura Econômica de Goiás – No 108, abril de 2019

Os indicadores econômicos da economia brasileira nos dois primeiros meses deste ano não nos parecem muito animadores. Os dados do IBGE mostram que a produção da indústria nacional acumula queda de 0,2%; as vendas do comércio varejista ficaram praticamente estáveis neste período, com variação de 0,4% em janeiro e de 0,0% em fevereiro na comparação mês/mês imediatamente anterior; e o crescimento de 0,8% observado no setor de serviços em dezembro/2018 foi praticamente eliminado pelas quedas verificadas em janeiro/2019 e em fevereiro/2019, ambas de 0,4%.

Os números da agropecuária proporcionam um certo alento em relação aos dos demais setores. A última estimativa para a safra de grãos divulgada pelo IBGE indica uma produção de 230,1 milhões de toneladas para este ano (número 1,6% superior ao de 2018) e o Ministério da Agricultura tem sugerido que o Valor Bruto da Produção Agropecuária deve atingir cerca de R$ 589 bilhões em 2019, ante os R$ 584 bilhões de 2018. É claro que nem tudo são flores. O setor convive com algumas incertezas que podem lhe imprimir sérios impactos negativos, como a guerra comercial entre os EUA e China e as discussões em torno da tabela de fretes mínimos rodoviários, que elevou os custos do escoamento da produção.

A melhoria das expectativas dos consumidores e dos empresários, registrada logo após as eleições realizadas no ano passado, parece estar dando lugar a sentimentos de ceticismo e desalento. Em meio às incertezas relacionadas à aprovação da Reforma da Previdência, a economia doméstica está em um certo compasso de espera, tanto do ponto de vista dos consumidores, quanto das empresas, que têm adiado (ou cancelado) relevantes decisões. Os dados do Relatório Focus, do Banco Central, apontam que as expectativas do mercado para o crescimento da economia brasileira em 2019 já tiveram oito quedas consecutivas. As projeções do mercado para crescimento do PIB recuaram de 2,53%, em 04 de janeiro/2019, para 1,71%, na última pesquisa semanal divulgada no dia 22 abril/2019. O aumento da taxa de desocupação, de 11,6% para 12,4%, registrado pelo IBGE em fevereiro/2019, também parece estar refletindo esses movimentos.

No caso da economia goiana, os principais sinais apresentados pelos indicadores de conjuntura do IBGE também não são muito animadores. A produção industrial, que iniciou o ano com o resultado positivo de 2,4%, caiu 2,6% em fevereiro/2019, na série com ajuste sazonal. Movimento semelhante foi apresentado pelo comércio varejista do estado, com aumento de 0,5% em janeiro/2019 e queda de 0,1% em fevereiro/2019, na comparação com o mês imediatamente anterior. Por sua vez, o setor de serviços em Goiás teve, em fevereiro/2019, o pior resultado para esse mês da série histórica com ajuste sazonal do IBGE, recuando 3,9%.

Em suma, os indícios são de que tanto a economia brasileira, quanto a goiana ainda não deslancharam em 2019. Ao menos no curto prazo, seu destravamento parece estar mais relacionado à melhoria nas expectativas dos agentes econômicos. Alguns analistas têm defendido que a aprovação da Reforma da Previdência pode ter impacto importante neste sentido. Contudo, não nos parece razoável supor que somente essa medida seja capaz de gerar a guinada que se espera nos indicadores econômicos do país.

Persistem por aqui outros desafios ainda não superados que obstruem o crescimento econômico. Embora a taxa básica de juros esteja em sua mínima histórica, os juros finais para as empresas e para os consumidores continuam muito elevados; a taxa de desocupação voltou a aumentar e uma boa parte da mão de obra doméstica está atuando no mercado informal, o que contribui para elevar o déficit previdenciário; a crise econômica exacerbou as dificuldades orçamentárias da União, dos estados e municípios, que contam com baixa margem para investir na infraestrutura necessária para alavancar o crescimento; a melhoria na educação, capaz de proporcionar aumento da produtividade e da competitividade interna e externa da economia brasileira, ainda está por vir; e a complexa e pesada estrutura tributária do país continua de difícil solução, especialmente com a crescente necessidade que o Governo tem de arrecadar.

Além de avançar na articulação para aprovação da Reforma da Previdência, algumas ações devem ser tomadas de imediato para superar esses outros desafios, ou ao menos para sinalizar de forma clara e objetiva como o Governo os enfrentará. Isso pode reacender as expectativas e retirar os agentes econômicos domésticos do compasso de espera a que estão submetidos.

Boletim de Conjuntura Econômica de Goiás – N. 108/abril de 2019. Equipe Responsável: Prof. Dr. Edson Roberto Vieira, Prof. Dr. Antônio Marcos de Queiroz.

Fonte: Secom UFG

Categorias: colunistas