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Universidade Federal de Goiás
Telma Eu faço Arte

Livros artesanais impregnados de arte e conhecimento

Em 29/04/19 11:36. Atualizada em 08/05/19 09:33.

Professora Telma Camargo conta o que a fascina no trabalho com papéis, tecidos e costuras

Michele Martins

Desde 2016 a professora Telma Camargo se dedica com entusiasmo à atividade de confeccionar livros de forma totalmente artesanal. O que a despertou para esse trabalho foi a paixão por projetos que aliam a busca pelo conhecimento e a sensibilidade das expressões artísticas. “A encadernação tem a ver com o amor e encantamento que tenho pelos papéis. Da paixão por livros, papéis, texturas, cores, formatos, e do uso dos

Telma Eu faço Arte
(Foto: Arquivo Pessoal)

cadernos de campo no meu cotidiano antropológico, nasceu meu interesse pela criação de livros artesanais”, explicou. A iniciação no estudo da história dos livros e das técnicas usadas guiaram o interesse de Telma em direção à manufatura dos livros e cadernos, onde estão presentes modos de fazer milenares associados ao uso de materiais contemporâneos.

Sua trajetória como pesquisadora no campo da Antropologia foi decisiva para este interesse especial. “A encadernação artesanal é um desdobramento das minhas pesquisas com as bonecas Karajás. Para quem não é da área de Antropologia pode parecer algo completamente desvinculado, mas, naquele projeto, o trabalho foi pesquisar o modo de fazer das bonecas que está ligado ao conhecimento do povo Karajá”. Foi assim que ela procurou o conhecimento para além da técnica de produção de livros.

O conhecimento

A professora Telma explicou, de forma bastante didática, que a história do livro e sua origem tem raiz na Antiguidade com os papiros, que foram os primeiros suportes portáteis sobre os quais se desenhavam e se escreviam. “Por serem produzidos por uma planta, não permitiam ser dobrados, eram objetos cilíndricos e esses objetos implicavam na dificuldade de manusear e carregar”. Do papiro, a civilização passou a utilizar o pergaminho, feito com a pele de ovelha e que dava origem às folhas dobráveis. ‘Com o surgimento do papel, que remete ao ano 105 na China, foi possível estruturar o miolo de um livro, que não tinha esse nome ainda. Na época do papiro tinha o nome de volume, na época dos pergaminhos falávamos códice ou codex até chegar ao livro que chamamos hoje”, explica.

Foi pensando na necessidade de se agrupar as folhas, para facilitar o manuseio, que as técnicas de costura foram se aperfeiçoando ao longo dos tempos. “Além de pensar o objeto que está ligado a uma técnica, a prática da encadernação artesanal remete aos tipos de costuras presentes na história dos livros”, afirma a professora. Ela lembra que o material e a técnica de juntar as folhas de papel e de prendê-las entre si passaram por um processo evolutivo.

(Foto: Natália Cruz)costura livros artesanais

Criação e criatividade

Além do aperfeiçoamento da arte de encadernação, outra questão da história do livro que não passou despercebida pela professora foi as relações de poder em torno desse objeto. “Não eram todos que podiam aprender a arte da encadernação. Os primeiros livros estão muito ligados ao comércio e à religião. Por serem muito caros esses objetos, claro que estavam ligados a uma classe dominante”. Há tempos essas técnicas passaram a ser amplamente difundidas e a própria professora replica seu conhecimento em oficinas de encadernação artesanal.

As possibilidades de costuras são variadas, mas os encadernadores as interpretam de acordo com os materiais disponíveis. Para Telma Camargo, a composição de temas a partir dos materiais também é uma preocupação: utiliza papéis marmorizados e texturizados, a escolha pela melhor estampa e de cores. “Para fazer o objeto não é preciso só conhecer a costura, esse objeto tem de ter estabilidade e estar ligado a uma estética. Além da história do livro temos o conhecimento sobre história da arte”, analisa Telma.

O relato da sua experiência com a encadernação é feito de forma envolvente por Telma Camargo. Diariamente ela dedica todas as manhãs e encara a atividade como um novo trabalho, cujas possibilidades de encadernação são infinitas. Suas trajetórias também acabam sendo inspirações para essa atividade. “A partir de um dado repertório, da história do livro e os tipos de costuras, acabam fazendo parte de suas criações. Olhando meus acervos, achei um mapa nos meus arquivos de viagem que usei na França quando fiz o mestrado. Nele está marcado as estações onde eu descia. Então, usando a costura copta, eu criei uma coleção particular para valorizar os lugares de memória”.

Entre uma produção e outra, a professora participa de feiras e realiza cursos de encadernação. Ela faz questão de destacar que a arte, o artesanato e o aspecto intelectual são os três elementos que a encantam nesse projeto. “Na encadernação encontrei a junção desses elementos”, afirma, ao revelar a sua postura de pesquisadora e curiosa.

Fonte: Secom-UFG

Categorias: Eu Faço Arte