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Universidade Federal de Goiás
Pirenópolis

Políticas públicas de turismo contribuem para construção de estereótipos sobre Goiás

Em 25/07/19 13:56. Atualizada em 26/07/19 11:27.

Imagem de paraíso natural selvagem, da hospitalidade interiorana e da ruralidade contribuem para a construção do estado enquanto destino turístico, avalia pesquisa da UFG

Carolina Melo

Políticas públicas direcionadas ao turismo são construídas com base em estereótipos da identidade goiana e sem a participação das comunidades locais.  A conclusão é de uma pesquisa realizada pela UFG no âmbito do Programa de Pós-graduação em Geografia do Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa), que buscou entender a influência das políticas públicas do estado na consolidação da identidade territorial goiana.

O estudo fez um apanhado histórico dos discursos hegemônicos da área do Turismo em Goiás que materializam a formação da identidade regional e influenciam na construção da imagem do estado enquanto destino turístico. O pesquisador e turismólogo Leonardo Ravaglia percebeu que a construção dos estereótipos depende do público-alvo das políticas direcionadas ao turismo, articuladas por agentes de mercado. 

Para o público estrangeiro, por exemplo, “Goiânia é pouco representada, inclusive com incentivo ao visitante a conhecer o estado a partir de Brasília”, observa Leonardo. Conforme explica, a imagem construída do estado para esse público se vincula ao Cerrado e suas águas, por meio das regiões da Chapada dos Veadeiros e Pirenópolis, que possuem razoável infraestrutura turística. “Nesse caso, a apropriação pelo mercado turístico remete a um imaginário histórico construído do Brasil no exterior. Ou seja, Goiás vende sua versão cerradeira de paraíso natural selvagem, com seu povo exótico, costumes e modo de vida seculares”.

Vale da Lua - Chapada dos Veadeiros
Vale da Lua - Chapada dos Veadeiros (GO) - Fotos: Divulgação

 

Quando se trata dos visitantes de outros estados brasileiros, as opções se diversificam. “São 83 destinos em 10 regiões turísticas que abrangem 100% do território goiano, no qual existem 13 tipos de turismo comercializados, sendo que o ecoturismo e o turismo cultural se sobressaem”, observa Leonardo. Para esse público, a hospitalidade interiorana se constrói por meio dos discursos analisados pelo pesquisador.

Já em relação ao turismo doméstico, ou seja, aquele realizado pelos próprios residentes de Goiás, as características da identidade rural se sobressaem. “Nos  materiais de divulgação para o público doméstico, a ruralidade goiana é mais valorizada, com a criação e divulgação de produtos específicos de turismo rural”, afirma. De acordo como pesquisador, as imagens construídas acabam influenciando na percepção de como as pessoas naturais do estado se percebem enquanto goianas. “Goiás tem sete milhões de habitantes. O estado possui histórias, culturas e diversidades de povos. Quando forças do mercado passam a influenciar a forma como a sociedade enxerga Goiás e, mais, como o próprio goiano se enxerga, temos aí um problema”, avalia.

Participação das comunidades locais

A construção da imagem de Goiás pelo turismo, na avaliação de Leonardo, é realizada com a “baixa representatividade da população local, com o pouco conhecimento acadêmico e a gestão centralizada em entidades patronais”. Apesar de os discursos hegemônicos endossarem a importância do turismo para o desenvolvimento socioeconômico como forma de se legitimar, a pesquisa constatou a pouca participação das comunidades locais no processo de desenvolvimento turístico.

Conforme explica Leonardo, a partir da década de 1990, o discurso das políticas públicas se deslocou do desenvolvimento do turismo enquanto fator de crescimento econômico para uma atividade engajada na inclusão social, preservação ambiental e redução das desigualdades. “No entanto, as ações pouco se diferenciam do que era planejado em outros períodos, a participação da comunidade local é pequena, os impactos ambientais não são mensurados, os prejuízos nos âmbitos social e cultural não são contabilizados, a tendência a uma estereotipação identitária não é discutida e a concentração dos benefícios advindos do turismo não é pauta de debate”.

Pirenópolis
Centro de Pirenópolis - GO

 

Por mais que a inserção da população local no processo é utilizada como discurso legitimador, ela é pouco praticada. “Quando a população busca assumir um caráter mais ativo em reuniões de forma não alinhada aos interesses de quem anteriormente planejou as ações, é tida como indesejada”, afirma. De acordo com Leonardo, a atividade turística continua sendo discutida, planejada e gerida de forma ativa, em geral, por representantes do poder público, entidades patronais e empresariado.




Fonte: Secom UFG

Categorias: destaque Humanidades