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Universidade Federal de Goiás
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Ciência também é objeto de estudo da Antropologia

Em 03/09/19 09:45. Atualizada em 03/09/19 13:31.

Em palestra organizada pela PRPI, antropóloga Suzane Vieira apresenta nova área de atuação da disciplina

Beatriz de Oliveira

A antropologia da Ciência e da Tecnologia, uma área nova dessa disciplina, foi tema de palestra proferida por Suzane de Alencar Vieira, professora da Faculdade de Ciências Sociais (FCS) e coordenadora de Inclusão e Permanência (CIP). A atividade faz parte do Programa Diálogos em Pesquisa e Inovação, organizada pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação (PRPI), e ocorreu na tarde do dia 29 de agosto, no Campus Samambaia.

O estudo da Ciência, como objeto de estudo, é algo inusitado para os antropólogos, segundo Suzane. Isso porque a Antropologia é historicamente vinculada a uma rotina de trabalho de campo com a alteridade. “É uma disciplina nascida na tradição ocidental que se orienta epistemologicamente para pensar outras sociedades”, afirmou. Isso implicou em um deslocamento desse olhar que era para um outro, distante, mas que agora se volta para a sua própria sociedade.

A intromissão da Antropologia nos estudos sociais das Ciências provoca um questionamento sobre qual é o escopo atual do social. “Quando ela olha para o mundo social ocidental e moderno, ela se espanta por perceber o quanto ele está segmentado e dirigido por essas ciências modernas. O nosso modo de vida não se faz sem tecnologias; não conseguimos viver ou ficar alguns minutos sem o celular. O que entendemos por ação social é outra coisa hoje”, explicou a professora. A metáfora mobilizadora importante para esses estudos é a ideia de rede: o mundo e as coisas estão interconectadas, nós que o fragmentamos.

A ciência, ao ser apresentada para a sociedade como um fato, tem a sua forma de produção e todas as suas controvérsias obscurecidas, além de suprimir a possibilidade de debate. A antropologia, ao tomá-la como objeto de estudo, passa a questionar a construção do fato científico, tentando ver esse processo de construção e transformação do enunciado até o ponto de o termos como uma verdade. "Essa relação da ciência com a verdade não é necessária. Essa vinculação é feita com a pretensão de atribuir autoridade a um enunciado científico, para ter um efeito político. A objetividade é o tema da ciência, e não a produção da verdade", afirmou Suzane.

A Antropologia da Ciência e da Tecnologia atenta-se, portanto, a esse processo complexo que se dá em rede que é a produção do fato científico. Ela se propõe a tirar o cientista do lugar de herói e gênio ou de vilão (quando criações científicas são usadas para fins contra a humanidade, como foi o caso da bomba atômica) ao concebê-lo em seu meio de agência e por acompanhá-los naquilo que os define, que são as práticas científicas. "Nesse processo intricado de produção do fato científico existem disputas que também são mascaradas. As disputas que foram travadas para que um enunciado se travasse como um fato não é acessado por nós, que somos leigos. É importante um pesquisador da ciência que penetre esse mundo das controvérsias, e que conte a história desse fato científico", defendeu a pesquisadora.

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Fonte: Secom/UFG

Categorias: Humanidades