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Universidade Federal de Goiás
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Desigualdade gera insegurança alimentar

Em 17/09/19 13:19. Atualizada em 19/09/19 14:57.

Discussão fez parte do IV Encontro Nacional de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional 

Letícia Santos

No Brasil, o direito humano à alimentação adequada é contemplado na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. Mesmo diante de diferentes desigualdades ainda existentes no país, nas últimas décadas, o Brasil conquistou importantes resultados na redução da insegurança alimentar e nutricional, o que inclui a fome, a partir de discussões e políticas de incentivo a alimentação adequada e saudável e a promoção e proteção à Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (SSAN). A partir desse contexto, o IV Encontro Nacional de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (IV ENPSSAN) foi realizado na Universidade Federal de Goiás (UFG), Câmpus Colemar Natal e Silva (Setor Universitário).

“Sistemas alimentares, desigualdades e equidade”, foi uma das palestras promovidas no IV ENPSSAN, na tarde da última quinta-feira (12/09), no Teatro Asklèpios, da Faculdade de Medicina da UFG (FM – UFG). O professor Nilson de Paula da Universidade Federal do Paraná (UFPR) iniciou sua fala definindo a desigualdade como evidência das mudanças oriundas do mundo do trabalho. Para ele, a desigualdade na sociedade está associada ao contexto do atual capitalismo, além de defini-la como um estado latente, que se perpetua.

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Fotos: Natália Cruz

Segundo o professor, a sociedade está vivendo a “era do 1%”. “No período que se estende entre 1980 e 2016, o valor apropriado por 1% da população mais rica do mundo foi equivalente ao valor que 50% das pessoas que vivem na pobreza conquistaram. Em 2017, houve um aumento significativo da riqueza. O maior aumento já registrado entre os bilionários, que representam apenas 1% da população mundial, foi de 762 bilhões de dólares”, afirmou. De acordo com Nilson, tais dados indicam aumento na concentração de renda. “Os ricos estão se tornando mais ricos e os pobres mais pobres. Atualmente não há mais uma separação entre ricos e pobres, o que existe é uma separação dos ricos com os mais ricos ainda e o resto da população, o que nos leva a pensar que a polarização da desigualdade vai ganhando novos contornos”, explicou.

Concentração da posse das terras e as relações comerciais entre agricultores familiares e o mercado foram aspectos pontuados pelo professor para explicar a relação direta entre desigualdade e insegurança alimentar. “Em termos mundiais, 1% dos proprietários detêm de 65% da terra agricultada, enquanto no Brasil, 1% detêm 43% da área. Esses números estão na raiz da desigualdade”, afirmou. Nilson também explicou que as condições de trabalho em que as pessoas estão sujeitas no sistema agroalimentar são preocupantes.

Islândia Bezerra, professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), debateu sobre as desigualdades de gênero. Segundo ela, a soberania e a segurança alimentar e nutricional estão intrinsecamente relacionadas com as relações da sociedade com a natureza, com a alimentação humana nas suas práticas simbólicas de significados e de condição de saúde. “Em torno da alimentação são as questões sociais que estão em jogo”. Segundo Islândia, o sistema alimentar vigente é um modelo que exclui oportunidades entre homens e mulheres. “Existem vários estudos que comprovam que mais de 70% do que as pessoas consomem no mundo, saem das mãos de mulheres, porém, em termos de PIB isso parece não ter significado. Que sistema alimentar é esse que não reconhece a importância das mulheres?”, perguntou.

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De acordo com a professora, diferentes estudos atuais também estão culpabilizando as mulheres por problemas provenientes de uma alimentação errada. “Um estudo britânico publicado em março de 2019, promoveu um estudo com mais de 20 mil crianças, em que os pesquisadores, todos homens, assinam um artigo culpabilizando as mulheres pela epidemia da obesidade na Inglaterra”. Para a professora, o que falta nesses estudos é analisar a atual conjuntura da sociedade, e principalmente, as próprias conjunturas no nível domiciliar. “Ao promover estudos sobre essas questões sem a realização de uma análise direta e de uma percepção feminista, se torna muito complicado enxergar as diferentes desigualdades que nos estão sendo impostas”, finalizou.

 

Fonte: Secom UFG

Categorias: Humanidades