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Universidade Federal de Goiás
anti-intelectualismo

Anti-intelectualismo é tema de conferência na Faculdade de Educação

Em 06/11/19 16:53. Atualizada em 06/11/19 17:04.

O obscurantismo e o ataque às universidades foram discutidos no evento

Beatriz de Oliveira

“A temática da conferência desta manhã aponta para um grande desafio, tanto para professores e gestores quanto para estudantes, que é a onda obscurantista”. Assim foi introduzida a conferência de abertura do XXIV Simpósio de Estudos e Pesquisas da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás pelo professor Adão José Peixoto, coordenador-geral do evento. José Luiz Sanfelice, professor da Universidade de Campinas (Unicamp), foi convidado para discorrer sobre “Universidade, formação e anti-intelectualismo” no dia 04 de novembro no auditório da Faculdade de Medicina (FM/UFG).

Sanfelice iniciou sua fala fazendo uma contextualização geopolítica a partir do governo Temer: “com o aprofundamento da crise global do capitalismo, o governo e as empresas buscaram restaurar a acumulação capitalista por meio da mercantilização dos direitos sociais, principalmente saúde, educação, previdência e proteção trabalhista, exclusivamente em busca de uma acumulação por espoliação”, afirmou.

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Professor Sanfelice destaca que anti-intelectuais contestam a eficácia de vacinas e a teoria da evolução, por exemplo. (Fotos: Ana Fortunato)

Ele citou o professor Francisco Fernandes Bandeira ao dizer que, em tempos de pós-verdade, fake news, teorias da conspiração e desprezo ao conhecimento científico, a apologia à ignorância humana está na moda. Isso quer dizer que vivemos na era do anti-intelectualismo. A internet possibilitou a palavra a todos, dando-lhes a capacidade de se tornarem portadores da verdade: “Ideias esdrúxulas, como a da Terra plana, ganha cada vez mais adeptos, e as teorias científicas produzidas ao longo dos séculos são refutadas. Anti-intelectuais contestam a eficácia de vacinas e a teoria da evolução”, explicou Sanfelice. 

No campo pedagógico, aqueles que ele chama de anti-intelectuais atacam Paulo Freire, e acreditam que as instituições de ensino brasileiras não respeitam os valores tradicionais da família. José Sanfelice salienta que, embora estejamos em uma era de avanços tecnológicos, onde a informação e o conhecimento podem ser democratizados, as pessoas acreditam em coisas que não têm fundamento, e há muita disseminação de informações falsas. “As mentes estão sendo programadas para se fecharem em uma bolha ideológica restrita, anti-intelectual e raivosa em especial contra o ensino formal público. O pensar crítico não é considerado razoável, e os seres humanos estão ficando empacados. Assassinaram as utopias, então ninguém vê luz no fim do túnel”, advertiu.

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Para o professor os ataques às universidades não são por acaso

Defendendo as desigualdades, os anti-intelectuais desqualificam os lugares de produção e de diversidade de conhecimento, e por isso são contra as universidades. “Todo ataque às ciências humanas, que são consideradas inúteis, fazem parte dessa mesma lógica. Combatem o princípio da democracia porque ele garante a legitimidade do debate”, pontuou. Os ataques às universidades, portanto, não são por acaso.

Por fim, o professor Sanfelice declarou que as dificuldades são tão grandes, que devemos avançar no espírito crítico e criador como forma de resistência: “É preciso explorar as vias do exercício crítico através de armas do intelecto, o que significa fazer da educação um lugar de invenção, de resistência, de produção de conhecimento não redutível aos requisitos da produção de mercadorias; e de resistência à conversão do sistema educativo em uma organização empresarial”, concluiu.

Cerimônia de abertura

Esta edição do Simpósio é em homenagem aos 50 anos da Faculdade de Educação (FE), completados em 2018. Ele é organizado pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGP) e pelo Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE), e é realizado do dia 04 a 06 de novembro de 2019. Além de palestras, a programação inclui mostra de cinema, lançamento de livros e apresentações de trabalhos.

A mesa diretiva foi composta pelo reitor da UFG, professor Edward Madureira Brasil; a vice-reitora, professora Sandramara Matias Chaves; a pró-reitora de graduação, professora Jaqueline Araújo Civardi; a coordenadora de Ações Integradoras Universidade Sociedade, professora Liana Jayme Borges, representando a PROEC; a diretora da FE, Lueli Nogueira Duarte da Silva; a vice-diretora da FE, Amone Inácia Alves; o coordenador-geral do simpósio, Adão José Peixoto; o diretor da Adufg, Flávio Alves da Silva e pela presidenta do Sintego, Bia de Lima.

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Adão Peixoto ressalta a necessidade de a universidade se reafirmar como espaço de formação e resistência

Adão José Peixoto reforçou que um dos objetivos do Simpósio é “reafirmar a Universidade como espaço de formação acadêmica e resistência às forças obscurantistas, que tentam reduzi-la a uma instituição voltada aos interesses pragmáticos, onde não há espaço para o pensamento, a crítica e a formação humanizadora”.

O professor Edward afirmou que são nos momentos de dificuldade e restrições que a Universidade mostra a sua força. Professores, estudantes e técnicos têm importância fundamental na resistência às ameaças e aos ataques à autonomia universitária, e que o verdadeiro desafio é ganhar o debate na sociedade, mas que a Universidade reagiu, e está se apresentando para a sociedade.

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Edward afirmou que são nos momentos de dificuldade e restrições que a Universidade mostra a sua força

Fonte: Secom / UFG

Categorias: Humanidades