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Universidade Federal de Goiás
Matheus Alves

PANORAMA

Em 19/11/19 16:39. Atualizada em 19/11/19 16:46.

Projeto de futuro para o BRICS

Por Matheus Alves

Matheus Alves

Com a institucionalização dos arranjos de cooperação entre os países do BRICS veio a necessidade de aprofundar o relacionamento entre as nações que o compõem. Muito embora as questões econômicas, financeiras e comerciais sejam as que imediatamente saltam aos olhos em se tratando do comportamento intra-bloco, a seara de possibilidades interacionais entre os cinco Estados é muito mais ampla do que uma análise superficial pode apontar. Com isso em mente, a Embaixada da China no Brasil parece ter percebido que o fortalecimento da relação entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul necessariamente terá de contar com uma maior identificação entre seus povos.

Aproveitando o gancho da realização da XI Cúpula do BRICS no Brasil, país cuja política externa recentemente optou por inclinar-se em relação ao Ocidente, e em particular aos Estados Unidos, é notório que tenha partido da Embaixada chinesa a iniciativa de promover o Fórum Sobre Intercâmbios Pessoais e Culturais do BRICS. Talvez por ter percebido que o alinhamento entre países não dependa exclusivamente da vontade dos seus chefes de Estado, mas também da proximidade dos seus povos, a potência asiática parece se esforçar para incentivar a intensificação das interações entre os nacionais do bloco.

Ao longo do evento, diversas foram as formas apontadas para a superação das barreiras de identificação entre as populações. A produção acadêmica e científica, os intercâmbios culturais, a cooperação através do esporte e a divulgação de produções audiovisuais foram destacados como mecanismos capazes de aproximar o que a geografia e a tradição diplomática, pelo menos no caso brasileiro, distanciam. Em consonância com as políticas chinesas avessas ao imediatismo típico do Ocidente, a iniciativa de promover Fóruns como o supramencionado se apresenta inserida em uma estratégia acertada de fortalecimento gradual da relação entre os países do BRICS.

Dessa forma, a China arroga para si uma liderança passiva em relação às perspectivas para o futuro do bloco. Ao não fiar-se exclusivamente em suas impressionantes cifras, o gigante chinês parece investir em projetos de diplomacia cultural que só o futuro dirá terem se tratado de exercícios de hegemonia ou politicas de soft-power. No entanto, independente das inúmeras conjecturas que podem ser feitas sobre o projeto chinês de fomento à interação cultural e pessoal entre os países do BRICS, resta reconhecer a louvável dinâmica presente no aprofundamento do conhecimento e respeito entre diferentes povos.

Não há como saber ao certo se os arranjos políticos e econômicos discutidos durante a XI Cúpula do BRICS terão fôlego a longo prazo, mas é certo que os frutos do engajamento sócio-cultural promovido pelo Fórum Sobre Intercâmbios Pessoais e Culturais do bloco terá longevidade superior a qualquer entendimento alcançado exclusivamente entre chefes de Estado. Outrossim, chega como um alento a ideia de que existe um projeto de futuro para o BRICS que não depende unicamente dos esforços que os governos dediquem à ele. O futuro do bloco será o que as suas populações, em conjunto, fizerem dele - e a China certamente já percebeu isso.

* Matheus Alves é graduando do Curso de Relações Internacionais da UFG

Fonte: Secom UFG

Categorias: colunistas