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Universidade Federal de Goiás
Painel Econômico

PAINEL ECONÔMICO

Em 28/01/20 14:29.

Consumo das famílias continua reprimido e capacidade ociosa das empresas elevada

Boletim de Conjuntura Econômica de Goiás – Nº 117, janeiro de 2020


No primeiro Relatório Focus divulgado pelo Banco Central em 2019 (no dia 04/01), as expectativas de crescimento do PIB doméstico estavam 2,53% e do IPCA em 4,01%. Entretanto, como se sabe, ainda que o IPCA tenha ficado próximo ao esperado pelo mercado (4,31%), a economia brasileira acabou crescendo pouco mais de 1,0% no ano passado. A tragédia de Brumadinho, a crise argentina e a guerra comercial entre os EUA e a China foram eventos que afetaram a dinâmica da economia interna em 2019. As expectativas dos agentes econômicos também parecem ter tido papel relevante neste sentido. Após o entusiasmo inicial gerado pelo último pleito presidencial, na medida em que se tornavam evidentes as dificuldades do Governo Federal para formar maioria no Congresso para aprovar seus projetos e que os ruídos políticos na esfera federal foram ganhando eco na sociedade, a confiança dos empresários e das famílias acerca da melhora da economia do país foi sendo minada, o que os incentivou a adiar gastos com investimento e consumo, impactando negativamente o PIB doméstico.

Em 2020, novamente o mercado começou o ano com a expectativa de crescimento do PIB de mais de 2,0%. (Mais precisamente, o Relatório Focus de 3 de janeiro deste ano apontava para 2,3%). Há motivos para acreditar que isso ocorra: o custo do crédito imobiliário caiu e a construção civil, que é um dos setores que mais empregam mão de obra, pode ganhar novo alento, juntamente com o comércio, que pode ser beneficiado pela queda das taxas de juros e pelo nível de emprego que está ligeiramente maior do que no ano passado.

Quanto à inflação, na primeira divulgação do IPCA-15, feita pelo IBGE em 2020, o indicador nacional bateu em 0,71%, apresentando a maior variação para o mês de janeiro desde 2016, quando registrou 0,92%. No acumulado dos últimos 12 meses, a inflação medida pelo IPCA-15 está em 4,34%, acima do centro da meta de 4,0% perseguida pelo Banco Central neste ano. Isso gerou certa dúvida no mercado acerca da continuidade do processo de redução taxa básica de juros promovido pelo Banco Central, mas não parece ser algo muito preocupante. Isso porque, em 2019, o IPCA-15 fechou em 3,91% e só não foi menor, em grande medida, pelo aumento dos preços do grupo de alimentação e bebidas. Esse grupo sofreu forte influência dos preços das carnes, que foram alavancados pelas exportações para a China, cuja produção doméstica está muito comprometida por conta da febre suína.

O país asiático é o que mais consome carne de porco no mundo (cerca de 55 milhões de toneladas por ano) e sua produção de 54 milhões de toneladas caiu quase um terço em razão da peste que atingiu seu rebanho. Há indícios de que os reflexos desse processo sobre os preços das carnes no Brasil já se arrefeceram. Os preços do produto no país continuam a aumentar, só que bem menos do que no mês anterior. O IPCA-15 de dezembro/2019 registrou a elevação de 25,7% dos preços das carnes, enquanto que, em janeiro/2020, o aumento foi de 4,83%. Há de se considerar também que o período apurado pelo IPCA-15 de janeiro/2020 foi iniciado no dia 12 de dezembro/2019 e finalizado em 14 de janeiro/2020, época em que há tendência de aumento do consumo de produtos como bebidas, frutas secas, castanhas e carnes, o que contribuiu para elevar os preços do grupo alimentação e bebidas.

Mesmo que a dinâmica da economia acelere a demanda por bens e serviços, isso não deve gerar muitos problemas no tocante ao comportamento da inflação, haja vista que a capacidade ociosa das empresas continua elevada e que o desemprego, embora tenha diminuído, continua alto. Ou seja, o consumo das famílias, responsável por mais de dois terços do PIB brasileiro, continua reprimido e eventual aumento da demanda pode ser atendido pela ocupação da capacidade ociosa das empresas, sem grandes pressões sobre os preços. Se essa for também a percepção do Banco Central, ainda há espaço para mais redução da taxa Selic em 2020, gerando mais estímulos para o crescimento econômico.

Contudo, tal qual ocorreu em 2019, alterações no cenário externo podem frustrar uma parte do otimismo dos agentes econômicos em relação ao Brasil em 2020. O surgimento do coronavírus na região de Wuhan, na China, tem gerado grandes temores para a população mundial neste início de ano. A preocupação central no momento é com respeito à possibilidade de ocorrer a propagação do vírus para outras regiões da China e para outros países. Mas há também o receio de que ocorra um grande estrago no crescimento econômico mundial, tendo em conta que a China é responsável por cerca de um quarto do PIB global.

Em 2010, a China se tornou o principal destino das exportações brasileiras e, desde então, sua participação no total dessas exportações vem crescendo. No ano passado, cerca de 28,0% das exportações brasileiras foram para a China, mais de duas vezes o volume exportado para os EUA, que são o segundo maior importador dos produtos brasileiros, com 13,2% de participação. No caso de Goiás, esta questão também gera preocupações. Por ser um estado com significativa produção agropecuária, Goiás exporta muito para a China. Para o país asiático vão cerca de um quarto do total dos embarques dos produtos goianos para o exterior, com destaque para os complexos de soja e carnes.

Em suma, as esperanças de que 2020 será melhor para a economia brasileira se renovaram no mercado neste início de ano. Mas existem algumas semelhanças do contexto atual em relação ao que vigorava nos primeiros dias de 2019, ano em que o PIB doméstico deve ter avançado pouco mais de 1,0%. Os ruídos políticos continuam impactando a economia e o Governo se prepara para enfrentar novos desafios no Congresso Nacional, com as reformas administrativa e tributária. E, do lado externo, ainda não se sabe a proporção que tomará o problema do coronavírus. Vejamos como se comportam os consumidores e os empresários e se novamente as expectativas não se deterioram, arrastando consigo uma parte do crescimento esperado para a economia neste ano.

Boletim de Conjuntura Econômica de Goiás – N. 117/janeiro de 2020. Equipe Responsável: Prof. Edson Roberto Vieira, Prof. Dr. Antônio Marcos de Queiroz e o bolsista Matheus Vicente do Carmo

Fonte: FACE UFG

Categorias: Coluna