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Universidade Federal de Goiás
Painel Econômico

PAINEL ECONÔMICO

Em 24/07/20 17:06. Atualizada em 24/07/20 17:07.

Desemprego é uma realidade que pode ser combatida com mais educação

Boletim de Conjuntura Econômica de Goiás – No 123, julho de 2020


O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que, em junho/2020, o número de pessoas sem emprego em Goiás passou para 466 mil, ante 449 mil registrados em maio/2020. Em nível nacional, eram 10.129 mil pessoas desempregadas em maio/2020 e 11.815 mil em junho/2020. Com isso, as taxas de desemprego do Brasil e de Goiás, que eram, respectivamente, 10,7% e 12,6%, passaram para 12,4% e 13,1%. Essas informações são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – Pnad/Covid19, criada pelo IBGE especificamente para fornecer indicadores do mercado de trabalho relativos ao período da pandemia da Covid-19.

Vale observar que entraram nesses cálculos apenas as pessoas que procuraram emprego no momento em que o IBGE realizou a pesquisa. Isso porque, do ponto de vista técnico, só é considerada desempregada a pessoa que efetivamente tomou alguma medida para procurar emprego na semana de referência da pesquisa, sendo que muitas pessoas não o fizeram, sobretudo, por conta da pandemia. Na verdade, o número de pessoas que gostariam de trabalhar, embora não tenham procurado emprego em junho/2020, é maior do que o de pessoas que entraram na taxa de desemprego. São 26.731 mil no Brasil e 708 mil em Goiás. Assim, para se ter uma ideia mais apurada da pressão existente sobre o mercado de trabalho neste momento, esses últimos números devem ser somados aos de pessoas tecnicamente desempregadas (11.815 mil no Brasil e 466 mil em Goiás). Com isso, o novo cálculo perfaz números assustadores: são 38.546 mil em nível nacional e 1.174 no estado.

Outro dado da Pnad-Covid19 que deve ser analisado com cautela neste momento é o da informalidade da mão de obra. Os indicadores apurados pelo IBGE antes do início da pandemia da Covid-19 davam conta de que a informalidade atingia mais de 40,0% da mão de obra goiana e brasileira. Já os dados da Pnad-Covid19 sugerem que esses percentuais são menores em cerca de 5,0%. Contudo, as causas dessa redução não são necessariamente o aumento do número de empregos formais. Tanto em Goiás quanto no Brasil, cerca de metade das pessoas que estavam afastadas do trabalho em junho/2020 em razão do distanciamento social ficaram sem nenhuma remuneração. Ou seja, a verdade é que muitas pessoas sequer conseguiram se manter na informalidade durante o período de distanciamento social, perdendo completamente sua capacidade de auferir renda. Um exemplo disso são as pessoas que trabalham como autônomas vendendo artigos de vestuário e calçados na região da Av. 44, em Goiânia. Além disso,24,5% das pessoas empregadas em Goiás e 27,5% no Brasil estão trabalhando menos horas do que gostariam em Goiás e quase um quarto da população ocupada teve queda do seu rendimento, com redução média de 19,0% no estado e de 16,4% em nível nacional. Os últimos números do IBGE relativos aos setores de indústria, comércio e serviços indicaram que houve melhoria dos indicadores econômicos de Goiás e do Brasil em maio/2020, por conta da flexibilização das medidas de distanciamento social. Contudo, sem políticas públicas eficientes, dificilmente os problemas sociais em vigor serão revertidos rapidamente. E tudo isso se junta a outros desafios históricos e recorrentes do Brasil. O país é um dos que possuem maior desigualdade social no mundo, que teve início no seu próprio sistema de colonização, com a concentração fundiária decorrente da divisão do país nas capitanias hereditárias e depois em sesmarias. Em sequência, a introdução da mão de obra escrava, que foi abolida, mas deu lugar ao um racismo velado, que pode ser observado objetivamente hoje em dia por meio das taxas de desemprego maiores e dos salários menores para a população preta ou parda vis-à-vis os da população branca.

Esse processo poderia ter sido minimizado pelo aumento do nível educacional da população. Mas as oportunidades de acesso à educação também são muito desiguais e têm perpetuado o hiato social existente no país, problema que se intensificou durante a pandemia. Com a proibição de que sejam ministradas aulas presenciais, a parte mais rica da população tem conseguido assistir aulas por meio de plataformas e aplicativos que necessitam de acesso à internet, mas uma boa parcela dos alunos mais pobres não possui acesso à rede, minando ainda mais a qualidade do ensino que recebem.

A aprovação do novo Fundeb (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica) na Câmara Federal foi um passo importante neste momento, embora ainda precise passar pelo Senado. A crise social e econômica causada pela pandemia também tem trazido à luz as discussões relativas à implementação de um programa de renda básica no país e, não por acaso, foi lançada neste mês no Congresso Nacional a Frente Parlamentar Mista em Defesa da Renda Básica. E, em Goiás, o Governo encaminhou para a Assembleia Legislativa um projeto de Lei que cria a Secretaria da Retomada, a qual, segundo o governador, teria o objetivo de fortalecer as políticas econômicas e as sociais do estado de enfrentamento à pandemia. A esperança é que os resultados desses projetos, de fato, se materializem em melhorias para a população.

Boletim de Conjuntura Econômica de Goiás – N. 123/julho de 2020. Equipe Responsável: Prof. Edson Roberto Vieira e Prof. Antônio Marcos de Queiroz

Fonte: FACE UFG

Categorias: colunistas FACE