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Universidade Federal de Goiás
4º poder

O legado de Colemar Natal e Silva para a imprensa universitária

Em 23/11/20 12:31. Atualizada em 24/11/20 13:39.

Ao criar o Jornal 4º Poder, o 1º reitor da UFG deu início a uma área que continua em crescimento na instituição

Luciana Santal

Em entrevista publicada no Jornal UFG Nº 18, a primeira filha de Colemar Natal e Silva e professora aposentada da Faculdade de Letras, Moema de Castro Silva Olival, contou alguns fatos importantes sobre a vida pública de seu pai. Em 2007, para celebrar o centenário do nascimento de Colemar, ela organizou um livreto comemorativo e, no ano seguinte, lançou o livro Diálogos Plurais, em que dedica um dos módulos à participação política do pai na história de Goiás. 

Moema FL

O trecho em que ela responde a uma pergunta sobre o Jornal 4º Poder, lançado durante a gestão do reitor Colemar, é um dos destaques da entrevista. “Meu pai foi um grande incentivador da imprensa universitária. Tanto que criou o 4º Poder, em 1961 – um jornal opinativo, crítico. Em 1964, presenciei um fato marcante: a chegada de um telegrama, enviado pelo governo federal, ordenando que o reitor fechasse o jornal. Para os políticos da época o impresso disseminava os ideais comunistas. Esse foi o maior pesar de Colemar: o fechamento arbitrário do 4º Poder”.

Um dos fundadores da Faculdade de Engenharia, o professor aposentado Orlando Ferreira de Castro, também destacou a importância do impresso em entrevista ao Jornal UFG Nº 16: “Este material é muito rico em informações. Nele você encontra partes importantes da história de Goiás e, mais especificamente, da UFG”. A fala de Orlando refere-se a um apelo que ele fez na época para que as pessoas que possuíam as edições do jornal fizessem uma doação à universidade, pois acreditava na relevância de se manter esse material em domínio público.

Orlando

Na revista Afirmativa UFG nº 3, há uma reportagem que trata da criação do Jornal 4º Poder. Com a primeira edição publicada em 17 de dezembro de 1962, esse produto da imprensa universitária da UFG tinha característica essencialmente noticiosa e circulava tanto dentro quanto fora da universidade. É o que revelou o assessor de imprensa de Colemar, Geraldo Lucas, que atribui ao 4º Poder a denominação de “veículo de divulgação do amplo pensamento humano”. Geraldo Lucas revelou que o nome do jornal foi ideia de Darci Ribeiro, que ocupava o cargo de ministro da Educação na época e visitava Goiânia para participar do lançamento do impresso e inaugurar o Parque Gráfico da UFG. A inspiração para o nome veio da ideia de que os veículos de comunicação exercem tanta influência na sociedade que poderiam ser denominados de “4º poder”.

A Imprensa Universitária, inaugurada com a presença do ministro, foi considerada um dos maiores parques gráficos de Goiás. Lá eram editadas as publicações da universidade a partir de equipamentos importados da Alemanha, modernos para a época, como impressoras tipográficas, linotipo e off-set. Havia também uma unidade para encadernação e acabamento geral. Hoje, esse setor é denominado Centro Editorial e Gráfico UFG (Cegraf) e responde pelos serviços de confecção de impressos, como livros, jornais e revistas; banners em diversos tamanhos; adesivos; carimbos, entre outros.

Em 2010, a jornalista Patrícia da Veiga fez uma matéria sobre o 4º Poder para o Jornal UFG, já em sua versão digital. No texto, ela explica que o impresso, inaugurado em 1962 e produzido até 1964, era composto por “notícias e debates de interesse tanto para a comunidade universitária como para Goiânia”. Sem tiragem definida, já tinha conquistado leitores em Goiânia ao abordar temas como transporte coletivo, movimento sindical e reforma agrária. Patrícia citou dois exemplos de matérias publicadas no 4º Poder: “Corte no orçamento da jovem universidade em 78%” (1963) e “O que é latifúndio” (1964). 

4º poder

Ainda no texto, há informações sobre edição do 4º Poder de 03 de maio de 1964, publicada durante a complicada transição de governo entre João Goulart e Humberto Castelo Branco. De acordo com Patrícia, o jornal preferiu chamar o golpe militar de “revolução” e entrevistou juristas como Miguel Reale, Vicente Rao e Basileu Garcia, e o professor Carlos Medeiros Silva, para mostrar que era “legítima” a tomada do poder em 31 de março. Além desse fato, a edição também trouxe uma matéria sobre a vida e carreira de Castelo Branco. Estava nos planos da equipe do jornal que ele passasse a ser diário, mas isso não aconteceu. A edição citada acima parece ter sido a última, publicada antes que o telegrama mencionado por Moema fosse recebido por seu pai, Colemar, encerrando assim a curta trajetória do 4º Poder, com 55 edições. 

De acordo com o professor Orlando, esse jornal é importante registro da época, pois trazia artigos científicos e políticos, notícias culturais e do cotidiano da UFG. Para o professor, ele “foi fechado porque divulgava pensamentos que contrariavam a ordem estabelecida pela Revolução. Porque divulgava ideias consideradas a favor do comunismo. Porque falava sobre reformas agrária e universitária. Por isso e muito mais, o jornal teve que ser calado”. As publicações não foram preservadas na época. Em 1980, a professora Célia Maria Ribeiro encontrou exemplares do jornal embaixo das escadas do Instituto de Ciências Biológicas (ICB). As edições mencionadas por Patrícia da Veiga pertenciam ao Arquivo Histórico do Estado de Goiás.

4º poder

Hoje, a realidade da imprensa universitária da UFG é outra: em uma simples consulta na página www.secom.ufg.br, é possível visualizar as publicações do Jornal UFG, desde a primeira edição, de março de 2006, e também os sete números e uma publicação especial da Revista Afirmativa UFG. É uma forma interessante de conhecer a história da universidade, além de conferir muitas fotos que retratam as transformações vividas na instituição. É uma espécie de viagem curta no tempo, que mostra que, a cada ano, a UFG cresceu em tamanho e contribuição para a sociedade goiana.

Fonte: Secom UFG

Categorias: UFG 60 anos destaque Institucional