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Universidade Federal de Goiás
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A breve história do 4º Poder

Em 14/07/10 08:15. Atualizada em 21/08/14 11:45.
O jornal produzido pela imprensa oficial da UFG entre 1962 e 1964 trazia notícias e debates de interesse tanto para a comunidade universitária como para Goiânia. Com a intervenção militar na UFG, tentou manter-se em funcionamento, mas foi fechado juntamente com o Centro de Estudos Brasileiros (CEB)

Por Patrícia da Veiga

 

Em 1962, o parque gráfico da UFG foi inaugurado e, com ele, o jornal 4º Poder. Por pouco mais de um ano, a publicação mensal ganhou leitores em toda Goiânia, tratando de temas como transporte coletivo, movimento sindical e reforma agrária. Em 24 de fevereiro de 1964, por exemplo, uma matéria publicada com o título “O que é latifúndio” explicava, de forma didática, as consequências de haver grandes propriedades de terra no país. Internamente, buscava problematizar. Questões delicadas para a administração, como a crise financeira que quase levou o Hospital das Clínicas ao fechamento, também apareciam, conforme revela a manchete de 30 de junho de 1963: “Corte no orçamento da jovem universidade em 78%”.

 

Na transição turbulenta de João Goulart para Humberto Castelo Branco, o 4º Poder tentou manter-se imparcial – ainda que não fosse possível. A edição de três de maio de 1964 trouxe análises jurídicas sobre o golpe militar, que o jornal preferiu chamar de “revolução”. Os juristas entrevistados, Miguel Reale, Vicente Rao e Basileu Garcia, além do professor Carlos Medeiros Silva, foram unânimes em considerar “legítima” a tomada do poder em 31 de março. Somando-se a isso, estava uma matéria completa sobre a vida e a carreira de Castelo Branco, para que o leitor conhecesse seu novo regente.

 

 

 

A equipe do jornal 4º Poder tinha planos: se possível, transformaria suas edições mensais em diárias. Não adiantou. Há indícios de que essa tenha sido a última edição da publicação. No lugar, a imprensa oficial da UFG passou a editar uma revista científica, com artigos produzidos pelos mestres da instituição. O 4º Poder não foi conservado. Muitas edições se perderam e, na década de 1980, foi encontrado pela professora Célia Maria Ribeiro, aos montes, jogado debaixo das escadas do Instituto de Ciências Biológicas (ICB). As edições mencionadas nesta reportagem pertencem hoje ao Arquivo Histórico do Estado de Goiás.

 

 

No jornal Cinco de Março, UFG é anúncio publicitário

 

Em 1968, a UFG estava no jornal. Não como cenário retratado, palco de um debate inflamado entre os estudantes de Direito e seus professores, conforme se acostumou a ver em outras latitudes, mas sim nos moldes de anúncio publicitário. Em algumas edições do emblemático Cinco de Março, encontradas no Arquivo Histórico do Estado de Goiás e referentes a esse período, está impressa, no canto de alguma página central, a pequena “colmeia” inscrita em uma figura piramidal que lembra um “foguete”, o antigo símbolo da instituição. Além disso, eram notícia as moças dos cursos de Artes ou de Letras, com seus poemas bucólicos e saudosistas, ou os “homens cultos de Goiás”, comentados nas colunas de Geraldo Vale. Cinco de Março, a propósito, surgiu depois de um motim estudantil em 1959, com a promessa de ser um jornal militante. No intermédio 60-70, contudo, os exemplares do periódico revelam uma contradição bastante comum na história da imprensa brasileira: em 1968, preso Batista Custódio, seu maior representante; “um grito de silêncio” escancarado no quadrado branco no centro da capa; protesto em forma de poema assinado por Brasigóis Felício e, na sequencia, uma série de anúncios de empresas ligadas ao governo do estado, como Caixego e Celg.


 

Em ano de copa do mundo e de conquista do tricampeonato, não se sabe ao certo se porque o Estado era coercitivo ou porque também investia, a edição de 22 de junho de 1970 agradecia ao então presidente Médici: “Um viva a Garrastazu e à Embratel”. E a reportagem dizia que o Brasil estava orgulhoso de ter podido ver os jogos da seleção pela TV, em uma experiência inédita: “É o milagre da técnica, repetem muitos, a maioria até sem compreender direito essa história de imagem via satélite”.


 

O reitor nos suplementos literários

 

A literatura foi um tema recorrente nos jornais da virada de 1960 para 1970. No entanto, era tratada como diletantismo, descolada da política e da vida social. Nos suplementos literários de O Popular, nomes consagrados da prosa goiana, como Carmo Bernardes, ou estudantes da UFG faziam enormes resenhas sobre Herman Hesse, Lima Barreto, Gabriel García Márquez, Graciliano Ramos, Mário de Andrade, entre outros, sem dar mostras da visão crítica desses autores. Vale lembrar que são textos interessantes de se ler, mas que guardam marcas do contexto histórico em que foram produzidos: os pesados anos da censura.

Jerônimo Geraldo de Queiroz, professor da Faculdade de Direito, foi um dos colunistas cativos desses suplementos, escrevendo sempre sobre educação, progresso econômico e desenvolvimento humano. Ele foi um formador de opinião, cujos textos sobre educação e desenvolvimento apoiavam as reformas educacionais do governo militar.

 




Veja o conteúdo impresso no Jornal UFG, aqui.

Fonte: Ascom/UFG