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Universidade Federal de Goiás
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Comunidade científica discute educação básica e áreas estratégicas para a pesquisa

Em 19/09/10 23:32. Atualizada em 24/01/12 08:26.
Levar essas discussões para além

O Plano Nacional de Pós-Graduação é o documento que norteia as políticas públicas de qualificação de pessoal em nível superior no Brasil. De que forma esse plano contempla os estudantes da pós-graduação que queiram trabalhar na iniciativa privada?

 

Divina Cardoso – Chegou um momento em que o Brasil voltou a sua preocupação para o ensino. Mas a formação dos nossos pós-graduandos, em muitas áreas do conhecimento, e não só nas áreas tecnológicas, está um pouco a dever na formação de docentes. Temos um número impressionante de faculdades e universidades no país, a maioria particulares. Elas devem receber os egressos da pós-graduação. Hoje, na concepção do Fórum de Pró-reitores de Pesquisa e Pós-graduação (Forprop), a formação docente necessita ser revista, o que influencia vários aspectos. A universidade precisa do mestre e do doutor, mas as indústrias também. Há uma política nacional que incentiva essa aproximação. As indústrias precisam fazer seus incrementos, usando nossas matérias-primas, e não só trazê-los de fora. Para isso é preciso que haja nas indústrias o sistema de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), em que o doutor e o mestre estejam capacitados não só para pensar a ciência, mas também para ensinar. A função dos docentes nas empresas é fundamental, pois todo o processo da empresa passa por uma necessidade contínua de reciclagem de seus componentes.

 

Albenones José de Mesquita – Faço parte de um programa de pós-graduação e lá trabalhamos muito em parceria com a empresa privada e a indústria. Talvez seja interessante destacar que antigamente existia a preocupação de que a presença de uma empresa na universidade significaria a privatização do ensino público, o que não é verdade. As empresas hoje possuem departamentos de P&D e eles estão muito ligados às pós-graduações das universidades. Existem também as incubadoras de empresas, que possibilitam a geração de empresas na universidade, que,  por meio de seus programas de pós-graduação, tem implementado o relacionamento com as empresas. A Finep possui um programa de subvenção, no qual atuam professores universitários e pesquisadores de alta qualificação na área de P&D, e financia projetos de inovação. Isto é um retrato fiel do que estamos discutindo.

 

Divina Cardoso – Não só a Finep, mas outros programas movimentam projetos com cunho de inovação propostos pela universidade, sem valor máximo para o auxílio. E existem empresas que  fazem a transferência tecnológica das pesquisas.

 

Muito tem se falado sobre o Mestrado Profissional. Como ele é contemplado no PNPG?

Divina Cardoso -  Esta opção já existia, mas, nos últimos dois anos, para atender a uma demanda da sociedade, a Capes e alguns ministérios passaram a estimular as universidades a verem os mestrados profissionais como mais uma de suas pós-graduações. O Ministério da Saúde, por exemplo, vê com muita expectativa a qualificação de seus servidores para  atuarem no SUS, já que percebeu que, se não houver qualificação, jamais o sistema servirá de modelo mundial. O que tínhamos no país para qualificação do setor empresarial era o MBA, que, na verdade, é uma especialização. O Ministério da Educação tinha uma dívida com esse setor, por isso o estímulo. Hoje as chamadas para os editais de mestrados profissionais são separadas dos mestrados acadêmicos, com equipe de avaliação própria.

 

Leonardo Guedes – Este tema casa com o da inovação tecnológica. Em 2010 o primeiro edital lançado pela Fapeg contemplava a concessão de bolsas para quem tinha vínculos empregatícios com indústrias ou empresas da área de tecnologia e comunicação. Mais de 50% dessas bolsas foram concedidas a pessoas vinculadas a mestrados profissionalizantes. Existe demanda e esses mestrados profissionalizantes atendem diretamente a essa necessidade. Quero falar também sobre esses mecanismos de aproximação entre universidade e empresa. A Fapeg já tem um convênio assinado com a Finep para que, nos próximos 30 dias, seja lançado um edital na ordem de R$ 16 milhões de subvenção econômica às micro e pequenas empresas, para financiar projetos com recursos não reembolsáveis, desenvolvidos nestas empresas, onde, de acordo com critérios de pontuação dos projetos de pesquisa, o de maior peso é a integração da empresa com a universidade, mediante a atuação de um docente ou pesquisador universitário no quadro colaborador da empresa.

 

Em decorrência das limitações orçamentárias dos estados, a incerteza da destinação de valores e a impontualidade no pagamento muitas vezes limitam a ação das fundações estaduais de apoio à pesquisa. Como a Fapeg tem lidado com essa realidade?

 

Leonardo Guedes – Isto não está acontecendo em Goiás. No início das atividades da Fapeg houve um diálogo entre academia, setor empresarial e governo, justamente para fazer uma adequação entre a realidade financeira do estado e a vinculação constitucional de 0,5% da receita tributária líquida para a aplicação na Fapeg. Houve entendimento sobre o escalonamento desses recursos. Em 2010 executamos 0,2% da receita tributária líquida, no ano que vem serão 0,3%. Posso afirmar que, hoje, não há nenhuma conta da fundação em atraso. A Secretaria da Fazenda assumiu o compromisso de que, após o pagamento da folha dos servidores estaduais, o pagamento seguinte a ser efetuado é o das bolsas da Fapeg e isso tem ocorrido sistematicamente. Ontem lançamos o resultado das bolsas de mestrado e doutorado, incluindo a contratação de 100% do cadastro de reserva. Vamos contratar 150% do proposto inicialmente, graças à segurança de execução orçamentária que hoje temos na Fundação. Além disso, outras ações, como o fomento à inovação tecnológica, têm sido preparadas pela Fundação e, em breve, lançaremos um programa inédito de concessão de bolsas de iniciação científica na graduação, porque é daí que surgem os talentos para a pós-graduação e para a transferência de conhecimento na academia e nas indústrias.

 

Fonte: Kharen Stecca e Michele Martins