Layane Palhares

Bordana é uma cooperativa formada por um grupo de mulheres que reúne donas de casa, costureiras, professoras, empregadas domésticas, comerciantes e aposentadas de diferentes faixas etárias, condições econômicas e grau de escolaridade, que transformaram a arte de bordar em uma profissão. O grupo foi criado por iniciativa de uma ONG, o Instituto Ana Carol, fundado em homenagem a Ana Carolina Oliveira Campos, filha de uma das bordadeiras que sonhava em ser estilista, mas morreu aos 10 anos de idade vítima de leucemia.

Segundo a presidente do Instituto Ana Carol, Celma Grace de Oliveira, entre os sentimentos de solidariedade e de luta, as mulheres do bairro Caiçara viram na cooperativa uma forma de valorizar seu trabalho e gerar renda por meio de suas habilidades. “Apresentei a proposta para as mulheres da comunidade e de uma forma muito solidária iniciamos o projeto, dispostas a contribuir, e também pela oportunidade de estarmos inseridas em uma cooperativa e vermos o nosso trabalho valorizado” disse ela.

Sob a orientação da Incubadora Social da UFG, a Bordana foi declarada cooperativa em 2009. Atualmente o grupo tem 33 cooperados, entre eles, um homem. E graças à persistência e ao esforço coletivo, o trabalho da Bordana poderá ultrapassar fronteiras interestaduais com uma exposição de suas peças exclusivas no Paraty EcoFashion. O evento Paraty EcoFashion 2012, ocorre no mês de setembro entre os dias 14, 15 e 16 no Rio de Janeiro.

O Paraty EcoFashion é um evento nacional de grande importância que esta em sua segunda edição. Estimula a moda sustentável e tem como principal objetivo divulgar conceitos e produtos que contribuam com a sociedade. Além disso, visa a valorizar saberes tradicionais sobre materiais e técnicas de baixo impacto ambiental, incluir as populações tradicionais e periféricas no processo de produção da moda, e, por fim, debater princípios éticos e estéticos da moda contemporânea.

A cooperativa Bordana será representada pelas alunas de Designer de Moda da UFG, Ana Carolina da Mata Araújo, Maíra Nascimento Veloso, Mariane Alves Romano e Poliana Alves de Souza Oliveira, que fizeram uma imersão na cooperativa por meio de um curso de extensão com o tema "Design de produto" oferecido pelo Projeto Alfa Trall. Desde o inicio do curso as alunas participam ativamente da cooperativa como elemento de apoio, auxiliando a continuidade da coleção “Nas asas do Bem-te-vi”, que está sendo executada pelas cooperadas especialmente para o Paraty EcoFashion 2012.

Para a aluna Ana Carolina da Mata Araújo, representar as bordadeiras é uma oportunidade de apresentar a vários profissionais presentes no evento o trabalho da cooperativa. “ Para o grupo Bordana é muito gratificante ter o reconhecimento depois de muito trabalho e muita dedicação. Conhecer o trabalho das bordadeiras, trocar experiências, saber que aprendemos muito durante a vivência da realidade de uma empresa e ter consciência de que foi possível contribuir de forma positiva para as cooperadas nos deixa imensamente felizes,” disse ela.

Projeto Alfa Trall

O projeto Alfa Trall também é um dos responsáveis pela participação do grupo Bordana no Paraty EcoFashion. O projeto ofereceu em julho deste ano um curso de extensão para as bordadeiras com o tema "Design de produto e Educação continuada para a comunidade de bordadeiras Bordana,” financiado pela comissão europeia, realizado em parceria com o SENAI-GO e coordenado pela professora Maristela Novaes, da Faculdade de Artes Visuais (FAV-UFG).

O curso tinha a proposta de dar formação continuada e trabalhar com um regime de produção cooperativo e de autogestão, em que todos participavam das etapas de produção, ampliando a capacidade de planejamento, de produção e das visões de mercado de todos os cooperados. O curso ocorreu do dia 2 a 19 de julho e prossegue agora como um projeto de extensão, com acompanhamento da professora Maristela Novaes e das alunas de Designe de Moda participantes do curso de extensão. O projeto Alfa Trall, apoia projetos que supram necessidades locais da sociedade e visa à promoção do ensino superior na América Latina como meio de contribuir para o desenvolvimento econômico e social, com uma proposta de educação continuada.

Segundo a professora Maristela Novaes, o curso foi estruturado em três módulos: elementos de gestão de design, criação de produtos/coleção e desenvolvimento de produtos de vestuário. “O trabalho foi desenvolvido inicialmente em cinco grupos distintos para a elaboração de propostas referentes a cada etapa do curso, que, posteriormente, foram apresentadas para um grupo maior, o que incluiu todos os participantes. Cada um dos grupos foi montado com a presença de uma estudante do curso de Design de Moda, como elemento âncora e apoio, seguidos da participação de um cooperado e colaborador,” disse ela.

De acordo com a coordenadora de Assuntos Internacionais da UFG, Ofir Bergemann, a proposta do curso para as bordadeiras da cooperativa encaixou-se nas especificações definidas pelo projeto Alfa Trall. "O curso atendeu uma demanda da cooperativa e foi aprovado pelo projeto Alfa Trall, pois encaixou-se na proposta de proporcionar uma aprendizagem não formal baseada no ensino por competências," informou Ofir Bergemann.

Para as bordadeiras o curso contribuiu tanto para aumentar a capacidade de planejamento de produção, quanto para ampliar a visão de mercado. “Foi uma experiência muito rica, com muitas novidades do mundo da moda, da gestão de produção de produtos, muitas informações importantes para o crescimento do grupo, com mais profissionalismo e uma maior compreensão do perfil do nosso consumidor, do conceito de marca e com uma visão maior de como vender melhor nosso produto,” disse a bordadeira Celma Grace.

É possível observar entre os integrantes da cooperativa independente da sua função dentro do grupo que a Bordana já não é apenas um nome, e sim algo vivo que pulsa dentro de cada um, que possui formas e com um significado maior de superação, força e oportunidade. Segundo Celma Grace, o grupo Bordana é uma oportunidade de valorização do trabalho e melhoria da qualidade de vida. “Através desse trabalho temos resgatado a autoestima das nossas associadas, a alegria do encontro coletivo e das relações humanas e sociais com muito respeito às diferenças, com muita tolerância, amor, solidariedade e saberes,” disse Celma.