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Universidade Federal de Goiás

Artigo: Do conforto do meu kit-REUNI para a briga pelo patrimônio

Em 03/06/13 16:59. Atualizada em 24/11/14 14:13.

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Publicação da Assessoria de Comunicação da Universidade Federal de Goiás 
ANO VII – Nº 58 – MAIO – 2013

Do conforto do meu kit-REUNI para a briga pelo patrimônio

Texto: Ana Karina Rocha

Ana Karina Rocha
Ana karina Rocha, Professora do Curso de Museologia da FCS/UFG
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O que nos move dentro da universidade pública não é somente o ensino, a pesquisa e a extensão. O que nos move, dentro e fora de qualquer lugar que escolhemos para habitar é o sentimento que faz pulsar, o olho brilhar e a vontade de sair para a luta nascer. Aqui há os mais afoitos, os mais ferozes, os mais diplomáticos e, lamentavelmente, os apáticos. Todos nós discutimos os problemas concretos do mundo lá fora como se, muitas vezes, a universidade nos colocasse numa dimensão paralela à realidade. E a minha sensação é, muitas vezes, de desconforto, mas isso, antes que alguém diga, é problema meu.

Depois de muitos anos trabalhando na construção da Política Nacional de Museus, na consolidação do Instituto Brasileiro de Museus - Ibram e pela formação dos cursos de Museologia no país, agora questiono qual o meu papel frente aos golpes infelizes que o Ministério da Cultura vive com as escolhas, no mínimo deprimentes, após a gestão de Gilberto Gil. Por que os problemas internos do Ibram e do Iphan não me dizem respeito? Por que a questão dos mecanismos de fomento da cultura popular não é de minha responsabilidade? Por que eu não posso auxiliar na resolução dos distintos problemas dos cursos de Museologia do país? Por que eu tenho que achar que a administração do Ministério da Cultura é assim mesmo? Por que eu não fico feliz com a mesa, com o computador e telefone que são disponibilizados para mim? Com o meu “kit-REUNI” eu poderia escrever textos críticos e debater com meus pares, no conforto da minha sala, sobre qual o tratamento dado ao patrimônio cultural ao longo dos anos no Brasil. É um trabalho tão rico, tão oportuno, mas isso não me satisfaz. Eu quero isso e um pouco mais.

Eu quero ver a movimentação de uma classe que trabalha com o patrimônio. Ou não tem classe? Espalhados pelo Brasil hoje existem 14 cursos de graduação em Museologia, sendo 13 em universidades federais, um numa instituição privada, e ainda dois cursos de pós-graduação funcionando a todo vapor. São muitos profissionais sendo formados para atuar no campo cultural e isso, certamente, causará impactos significativos se pudermos inseri-los no mercado de trabalho. Porém, a apatia é grande e o silêncio que me incomoda é ainda mais perturbador.

Ninguém se manifesta. Não há articulação e as justificativas individuais são muitas. Os alunos de Museologia escreveram sua carta destinada à direção do Ibram, o Rio Grande do Sul fez a sua manifestação. Os órgãos representativos da classe, como o Conselho Regional de Museologia – Corem, o Conselho Federal de Museologia – Cofem, a Associação Brasileira de Museologia – ABM estão no debate do tema, e nós, intelectuais do conforto, não nos movemos nem no sentido de debater a necessidade de nos manifestarmos ou não. Um ato covarde, covarde especialmente perante nossos alunos. Para que serve então a universidade? Qual é o nosso papel frente a sociedade? O clima, ao meu ver, é tenso e tempestivo.

É notório o partidarismo que há entre alguns de nossos colegas professores que estão envolvidos com a avaliação dos cursos. Todo mundo muito honesto, mas a nota da UFBA, por exemplo, é mais baixa que a de alguns cursos mais recentes? Quais são os critérios? Atitudes amorais são tomadas com o consentimento de muitos envolvidos e é assim que tivemos notícia que existem disciplinas que são lançadas no sistema onde a matrícula para a turma é feita sem o consentimento do aluno, onde também não há professor para ministrá-la, mas há a nota de aprovação que brota como um passe de mágica. E o que a gente faz? Bom, se não é na UFG eu não tenho nada com isso...

É claro que todos esses cursos têm inúmeros problemas e que falta muito para aprimorarmos os nossos laboratórios, as nossas salas de aula, a biblioteca etc, etc, etc, mas quando a conduta permeia a falta de escrúpulos eu, usando uma expressão que aprendi aqui em Goiás ‘salto quase dois metros’. O que é aquilo que está acontecendo com a Universidade Federal de Santa Catarina? Eu não tenho responsabilidade? Eu não devo ajudá-los? E ainda tem mais: a reserva de mercado é tão afoita que já há aqueles que acham que o curso da Universidade Federal de Pernambuco deveria fechar porque não há museólogo na grade de professor. Como assim?

São muitas as insatisfações, mas eu não estou só. Tenho comigo a felicidade e a vontade dos meus alunos que sorriem com cada gesto meu, mesmo que inoportuno. Eles sabem que nessa coragem eles podem se espelhar. Também trago junto a mim uma companheira de luta, Marijara Queiroz, um poeta mundano e carioca, Mario Chagas,  e o feliz apoio de um dos mais respeitáveis técnicos e intelectuais do IPHAN, José Neves Bittencourt. Senhoras e senhores eu ando em boa companhia e, com o coração tomado, aceno do Centro-Oeste para a REDE de Professores dos cursos de Museologia na tentativa vã de me fazer ouvir, ou, quem sabe, de fazê-los sentir. Convido então, a todos, para a luta pelo patrimônio!

Categorias: artigo museologia patrimônio

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