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Universidade Federal de Goiás

MESA-REDONDA: Sustentabilidade - Muito além da questão ambiental

Em 02/06/15 13:35. Atualizada em 15/06/15 15:30.

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MESA-REDONDA: Sustentabilidade

Muito além da questão ambiental

Ascom, Rádio Universitária e TV UFG

 

Sustentabilidade é palavra em voga quando falamos em Meio Ambiente, Economia, Educação ou Administração Pública. Mundialmente, o termo começou a ser utilizado a partir da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente em junho de 1972. No Brasil, a definição se tornou conhecida depois da ECO 92, Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro. Mas o que significa sustentabilidade? O que vem sendo feito para termos uma sociedade sustentável? É possível aliar sustentabilidade e atividades economicamente viáveis? 

 

Para responder a esses questionamentos, a mesa-redonda desta edição, produzida pelo Jornal UFG, o Programa Conexões da TV UFG, e a Rádio Universitária, convidou o presidente da Comissão Gestora do Plano de Logística Sustentável da UFG, Emiliano de Godói; a Superintendente Executiva do Meio Ambiente, Recursos Hídricos, Infraestrutura, Cidades e Assuntos Metropolitanos do Estado de Goiás (Secima), Jacqueline Vieira; e o gerente do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) Goiás, Alberto Lustosa.

 

O que exatamente é sustentabilidade?

 

Jacqueline Vieira – A sustentabilidade é um termo que virou moda e foi amplamente divulgado. Em algumas situações, a palavra foi até usada para justificar a preservação ambiental, mas, na verdade, a sustentabilidade é a forma como vamos garantir os ativos ambientais dos vários biomas pelo mundo e, no nosso caso, do nosso bioma Cerrado. Nesse sentido, é preciso que esse termo seja amplamente discutido com todas as pessoas, nas nossas escolas – acho que ainda não está muito difundido nos currículos escolares – para que nós tenhamos a condição de saber exatamente o que estamos fazendo com a sustentabilidade, que depende de ações combinadas. Ela precisa de um tripé que veja com igualdade as questões sociais, ambientais e econômicas para o desenvolvimento das ações, principalmente dos empreendimentos que possam vir para o nosso Estado. Nesse sentido, hoje buscamos na conversa com os vários setores, saber se as atividades que estão sendo desenvolvi- das no nosso estado são sustentáveis, ou seja, se todos esses segmentos estão sendo atendidos. É uma discussão ampla que é feita dentro do nosso órgão, onde temos várias ações para garantir a sustentabilidade.

 

Alberto Lustosa – A sustentabilidade vai além da questão ambiental. Temos outras duas palavras fundamentais: qualidade de vida e recursos. A sustentabilidade tem o olhar ambiental, o aspecto social, a questão econômica e, também, podemos inserir outra vertente, que é a questão cultural. Quando este conjunto está em harmonia, sendo trazido para o ambiente de negócios e para pensar empreendimentos, significa que temos uma sociedade madura, preocupada com a qualidade de vida e a gestão dos recursos. Não só preocupada mas, também, agindo com responsabilidade para as gerações vindouras. Esse é um caminho que estamos começando a percorrer e que faz parte de uma longa caminhada.

 

Emiliano de Godói – O nosso grande desafio é aproximar esses temas que, em grande parte, parecem um pouco distantes do nosso dia a dia, dos nossos hábitos e da nossa cultura. O que temos falado muito dentro da universidade é que aqui é um centro de formação de pessoas, não só técnicos, mas profissionais que saiam com responsabilidade sócioambiental. Precisamos tentar trazer esse tema para a formação dos alunos e transformar isso em ações práticas. Constantemente temos trabalhado num conceito anterior ao conceito de sustentabilidade, que é o conceito da suficiência. O que é necessário para ter qualidade de vida? O que é suficiente? Hoje vivemos em uma sociedade de consumo em que a pressão social é muito grande para que o consumo seja cada vez mais intenso. Nosso desafio é discutir o que é suficiente e o que realmente impacta na nossa qualidade de vida. Com essa resposta mapeada, aí sim, teremos o conceito do que é sustentável. Na verdade, a sustentabilidade é nada mais do que o bem usar, é saber usar, porque as gerações futuras vão precisar desses recursos e em algum momento seremos cobrados por isso.

Como empregar a sustentabilidade como oportunidade de negócio? Temos políticas públicas em andamento que garantam ações sustentáveis?

 

Alberto Lustosa – O nosso país tem mais de 5.500 municípios, cerca de 250 em Goiás. Uma coisa que é comum em todos os municípios brasileiros é que, não importa o tamanho dele, existe uma pequena empresa. Então, existe um número gigante de empresas. Temos a obrigação de trazer essa discussão da sustentabilidade para o cotidiano desses empresários e empreendedores, e mostrar para eles que isso não representa custo para a empresa, que a médio e longo prazo, esse vai ser um fator de diferenciação para aquele negócio. Se observarmos, por exemplo, os resíduos que são gerados nos negócios, seja uma panificadora, seja um salão de beleza, e assim por diante, há uma preocupação muito grande de fazer economia, evitar desperdícios, buscar a melhor eficiência energética, fazer com que cada negócio seja diferente e realmente traga maiores lucros. O Sebrae vem trabalhando em todo o Brasil com metodologias e consultorias, e isso vem dando resultados interessantes para os próprios negócios. Passamos assim, para outro patamar, que é a sustentabilidade empresarial e isso em muito contribui.

 

Fotografia em retrato de Alberto Lustosa.

Alberto Lustosa

"Nós temos a obrigação
de trazer essa discussão
da sustentabilidade
para o cotidiano
desses empresários e
empreendedores, e mostrar
para eles que isso não
representa custo para a
empresa, que a médio e
longo prazo, esse vai ser um
fator de diferenciação para
aquele negócio."

 

 

Jacqueline Vieira – Temos uma legislação ambiental para garantir a sustentabilidade. Hoje, o que o Estado precisa realmente fazer é desburocratizar as ações e torná-las mais disponíveis. Todas as nossas ações de licenciamento têm a questão da sustentabilidade por trás, porque vamos licenciar os empreendimentos de acordo com uma normativa que existe e que já prevê até onde o impacto pode ir sem causar grandes danos no meio ambiente onde ele está inserido. O que temos feito, tanto na gestão anterior, como já no início dessa nova gestão, é simplificar os processos. Outro ponto que não podemos esquecer é a gestão da fauna e da flora. Como estamos fazendo isto para garantir os ativos ambientais?Porque não é possível haver produção e desenvolvimento se não tivermos ativos ambientais. É necessário que a parte de licenciamento e fiscalização seja combinada com a gestão de fauna e flora, garantindo as nossas unidades de conservação, para que realmente façamos uma análise de como está a sustentabilidade. Como medimos a sustentabilidade? Nos ativos ambientais que existem dentro do nosso o bioma.

 

Emiliano de Godói – O Brasil evoluiu muito em seu arcabouço legal, ou seja, temos uma política hoje, em termos de lei, muito consistente, muitas vezes até copiado por outros países. Estamos num processo de evolução no sentido de que a legislação, hoje, está reconhecendo o papel dos ativos ambientais, estamos agora pagando para quem preserva. Isso é muito importante porque, até pouco tempo atrás, o custo da preservação era individual e o benefício era coletivo. Então é fundamental que se reconheça o papel da pessoa que preserva. Um exemplo disso é o programa “Produtor de Água”, desenvolvido pela Secima, que materializa esse fato. Então, em termos de política pública temos grandes avanços. O que criticamos e temos pensado é a postura individual de cada cidadão no seu comportamento para com a questão ambiental que é colocada na responsabilidade do poder público e na formação no âmbito da universidade e não nos hábitos diários das pessoas. Hoje, o nosso olhar é muito mais refletir para dentro do que para fora, saber se estamos sendo elementos que agregam ou desagregam qualidade ao meio ambiente, ou seja, saber qual é a nossa postura e como podemos atuar para a melhoria do ambiente em que estamos inseridos.


 

Fotografia em retrato de Jacqueline Vieira.

Jacqueline Vieira

"Nós temos uma legislação
ambiental para garantir
a sustentabilidade.
Hoje, o que o Estado
precisa realmente fazer
é desburocratizar todas
as ações e torná-las mais
disponíveis."

 
Na UFG, o que tem sido feito em prol da sustentabilidade?

 

Emiliano de Godói – A universidade tem o papel de promover ensino, pesquisa e extensão. Dentro desse conceito, seria muito incoerente ensinar e fazer pesquisa sem colocar na sua prática diária algumas ações que promovam a qualidade ambiental. O Plano de Logística Sustentável surgiu para isso: para que fosse um grande projeto de gerenciamento ambiental dentro da Universidade, envolvendo todos os câmpus, não só Goiânia, como também Jataí, Catalão, o novo câmpus que estamos implantando em Aparecida, e a Cidade de Goiás. É um gerenciamento ambiental de todas essas unidades que visamos colocar, na prática, no dia a dia desses câmpus, algumas diretrizes de menor consumo de água e energia, gerenciamento adequado dos resíduos gerados, um processo de compra mais sustentável, evitando compras desnecessárias, transformando isso em uma informação para os alunos que participam rotineiramente do plano que está sendo elaborado. É um plano novo, que tem apenas dois anos, mas já tem colocado a UFG em nível de destaque nacional dentre as outras universidades. O nosso modelo é hoje, entre as universidades federais, o mais referenciado e copiado, fato que nos dá muito orgulho, por sermos uma universidade que está cada vez buscando mais inovação no seu dia a dia. A essência desse plano é que a universidade seja efetivamente a protetora dos recursos naturais que ela usa.

 

Fotografia em retrato de Emiliano de Godói.

Emiliano de Godói

"A universidade tem o
papel de promover ensino,
pesquisa e extensão. Dentro
desse conceito seria muito
incoerente ensinar e fazer
pesquisa sem colocar na
sua prática diária algumas
ações que promovam a
qualidade ambiental."

 
Como o cidadão pode assumir posturas mais sustentáveis?

Alberto Lustosa – É um desafio. Esse é um trabalho educacional, que deve começar nas escolas e em toda a sociedade organizada. É uma ação que vai desde o micro, o indivíduo se vendo como uma parte decisiva do processo da sociedade, e a sociedade retroalimentando e mostrando isso para o cidadão. A saída são conexões inteligentes e saudáveis, para que haja um contágio, para que esse assunto passe a fazer parte do nosso dia a dia, e que essa preocupação se transforme em ação que traga qualidade de vida, também, para as gerações futuras, porque todos os recursos que existem têm prazo de validade e têm limite. A responsabilidade é nossa de fazer essas conexões para a melhor utilização de todos os recursos. Sustentabilidade é isso.

 

Jacqueline Vieira – Podemos elencar várias ações que o cidadão comum pode fazer. Eu costumo dizer que a minha geração vivia como se estivéssemos no paraíso. Quando muito, ouvíamos alguém dizer para apagar a luz, para que a conta não ficasse cara. Era uma coisa muito ligada à questão econômica. Hoje as crianças já têm um discurso diferente, já se posicionam em relação ao meio ambiente, porque elas recebem informações sobre a escassez. Quando ouvimos, por exemplo, que acabou a água em São Paulo, começamos a pensar que pode acabar aqui também. Essas informações não chegavam para a minha geração e hoje chegam. Então eu sou muito otimista. Acredito que é preciso falar do assunto, que ele precisa permear as nossas conversas em casa, para que cada vez mais tenhamos consciência ambiental. Ainda escutamos algumas pessoas falando: “isso não é problema meu”. É sim, um problema de cada um, o poder público não consegue sozinho. É preciso que estejamos conectados para uma solução comum, de um problema que atinge todos nós.

Confira o vídeo do programa

Categorias: Sustentabilidade meio ambiente Mesa Redonda