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Universidade Federal de Goiás

ENTREVISTA: Saúde e Equidade

Em 09/10/15 09:23. Atualizada em 19/10/15 08:09.

Marca Jornal UFG 74

 

 

Entrevista: Sara Willems "Saúde e Equidade"

Texto: Angélica Queiroz | Fotografia: Adriana Silva

 

Sara Willems 

Sara Willems é professora de Saúde e Equidade na Universidade de Ghent, na Bélgica. Suas atividades de pesquisa estão centradas na estratificação social, na acessibilidade do sistema de saúde belga, no papel dos cuidados primários em saúde, na luta contra a desigualdade social e na ligação entre o capital e a saúde. Willems é, também, uma das coordenadoras da pesquisa Qualidade e Custos dos Cuidados Primários na Europa (Qualicopc), que entrevistou mais de 65 mil usuários para analisar e comparar cuidados primários de saúde em 35 países com o objetivo de investigar a associação desses resultados com o do desempenho dos sistemas de saúde em quesitos como qualidade, acesso, equidade e eficiência. A especialista esteve na UFG durante o 11º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, ocasião em que conversou com o Jornal UFG.

 

Por que nem todas as diferenças podem ser consideradas desigualdades?

Nem todas as diferenças na saúde, entre grupos sociais, são considerados como desigualdades porque algumas não são causadas ​​por uma distribuição desigual dos determinantes sociais da saúde. Por exemplo, a prevalência de anemia falciforme é muito maior nos grupos de população negra do que em grupos da população branca, é uma predisposição genética. Esta é uma diferença ou desigualdade entre grupos étnicos, mas não pode ser considerado como uma desigualdade na saúde. No entanto, quando vemos que os pacientes de baixa renda são tratados pior em casos de anemia falciforme, porque eles não podem pagar cuidados de saúde, a expectativa de vida inferior a este grupo pode ser considerada como uma desigualdade. Para não contribuir para a desigualdade na saúde, um sistema de saúde deve ser equitativo. Isto significa que o acesso aos cuidados, o processo de atendimento e até mesmo os resultados (taxas de sobrevivência, satisfação do paciente) não devem ser determinados pela etnia, idade, sexo e nível de renda, mas pela necessidade de cuidados de cada paciente. Se a prestação de cuidados de saúde varia de acordo com as características do paciente e não com a sua necessidade de cuidados, a desigualdade na saúde ocorre.

 

O que você entende por equidade no sistema de saúde?

Equidade em saúde se refere a diferenças sistemáticas entre grupos sociais (idade, gênero, classe socioeconômica, etnia) numa sociedade em que não são atribuíveis predisposições genéticas ou estilos de vida individuais, que podem ser explicadas por mecanismos sociais subjacentes, tais como a discriminação, a exclusão e a distribuição desigual de recursos e de energia, por exemplo. Como estas diferenças na saúde são evitáveis, elas podem ser consideradas como injustas e desleais.


Por que o sistema de saúde é ainda tão desigual?

A desigualdade no sistema de saúde ocorre em diferentes níveis. O diferencial de acesso aos cuidados pode se dar devido a barreiras financeiras, administrativas, geográficas ou devido a um reduzido conhecimento de alguns grupos. A desigualdade no processo de atendimento pode ocorrer como resultado de discriminação, da variação social na comunicação médico-paciente, da atitude dos profissionais de saúde junto de grupos populacionais específicos ou das reduzidas competências interculturais dos prestadores de cuidados. Por isso, é importante que o acesso e o processo de atendimento sejam monitorados e as possíveis barreiras sejam derrubadas.

 

O que você pensa sobre o SUS? Acredita que o Sistema tem conseguido avançar em equidade de tratamento para a população? É possível fazer uma comparação entre o sistema brasileiro e belga?

O SUS tem provado contribuir de forma importante para a saúde da população. Em teoria, todas as pessoas que vivem no Brasil têm acesso a cuidados. A força definitiva do SUS é também sua medição de qualidade e resultados. No entanto, há alguns pontos que precisam ser melhorados, por exemplo, em relação ao tempo de espera e aos equipamentos disponíveis em algumas instalações. Estou ansiosa para ver o sistema continuar a evoluir. O sistema brasileiro e o belga são muito diferentes, o que impede uma comparação.

 

Fale um pouco sobre a pesquisa Qualicopc e os resultados já alcançados.

É um projeto de investigação financiado pela União Europeia que visa avaliar a qualidade, os custos e a equidade na atenção primária na Europa. Este estudo é realizado por um consórcio de cinco grupos de pesquisa reconhecidos como especialistas europeus nesta área. Os resultados do estudo indicam claramente uma relação entre a força da atenção primária e os resultados de saúde. Mas, sistemas de atenção primária nem sempre são os mais baratos. No entanto, provavelmente, não é a força do sistema de atenção primária que eleva os custos, mas o fato de que em países com atenção primária forte, os governos investem mais para melhorar a qualidade dos cuidados (por exemplo, para reduzir as listas de espera). Sobre equidade, temos apenas evidências limitadas: sistemas que valorizam a atenção primária não são, por si só, também equitativos, mas investigações adicionais sobre essas características revelaram que os sistemas com atenção primária forte estão associados a mais equidade nos cuidados. Nos próximos meses, outras pesquisas devem identificar quais aspectos dos cuidados de saúde primários mais contribuem para uma maior equidade e se o nível de prática pode amortecer possíveis características negativas.

 

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Para conferir a entrevista completa no Programa Conexões clique aqui

 

Categorias: entrevista Saúde equidade