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Universidade Federal de Goiás
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Sistema aproveita água do ar-condicionado

Em 01/06/16 12:25. Atualizada em 08/06/16 10:24.

Projeto desenvolvido por pesquisador da UFG gera economia e evita o desperdício de água tratada que seria utilizada na limpeza 

Renato Rodrigues

Uma pesquisa coordenada pelo professor Euler Bueno, da Escola de Engenharia Elétrica, Mecânica e de Computação (EMC) da UFG, resultou em uma forma simples e barata de aproveitar a água do gotejamento causado pela condensação da umidade presente no ar para os serviços de limpeza, evitando o uso de água tratada para esta finalidade. O sistema de coleta e aproveitamento da água que seria desperdiçada por aparelhos de ar-condicionado está em funcionamento desde o ano passado na sede do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás (Crea-GO) e gera uma economia de cerca de 400 litros de água por dia. O volume captado consegue atender a demanda dos serviços de limpeza do edifício-sede do Conselho, de um segundo prédio anexo ao principal e ainda regar plantas dos jardins da entidade.

  Euler Bueno mostra sistema que capta e armazena água coletada dos aparelhos de ar-condicionado

Euler Bueno mostra sistema que capta e armazena água coletada dos aparelhos de ar-condicionado

 

Inicialmente foi feito um estudo de viabilidade do sistema para comprovar que seria possível usar água liberada pelos aparelhos de ar-condicionado. O primeiro passo foi colocar um recipiente com medida de volume coletando a água que pingava do aparelho instalado no Laboratório de Máquinas Especiais da EMC. Foram feitas medições e o professor constatou que o volume de água captado por todos os aparelhos resultava em significativa quantidade. Além disso, Euler Bueno observou que a maior parte da água que é liberada fica empoçada e se acumula em calçadas ou marquises. “A água parada pode se tornar um criadouro de mosquitos da dengue”, adverte. Assim, os reservatórios indicados para armazenar a água são projetados para que tenham a proteção necessária para evitar vazamentos, com telas de proteção para evitar o acesso de mosquitos ao interior dos reservatórios.

A segunda etapa da pesquisa consistiu em atestar que a água captada poderia ser utilizada sem riscos de danos à saúde dos trabalhadores. Para isso, foram realizados na UFG testes bacteriológicos e físico-químicos com amostras da água coletada. “Com o resultado constatou-se que a água era adequada para os serviços de limpeza”, afirma Euler Bueno. Ainda na etapa da avaliação foi realizada a medição da captação de água no período de estiagem, quando os níveis da umidade relativa do ar estão baixos, com o objetivo de verificar se o sistema teria uma funcionalidade aceitável nesse período. Os resultados mostraram que, em dias mais secos, foi possível coletar entre 310 e 350 litros de água, ao passo que no período chuvoso do ano, em que a umidade relativa do ar está acima de 60% em média, o volume captado diariamente subiu para até 510 litros.

Além de proporcionar a economia de água em um período que exige uma maior atenção de todos para o uso consciente deste recurso, o sistema de captação e aproveitamento desenvolvido é considerado de baixo custo – foram investidos R$ 782,24 para captar a água que seria descartada de 74 aparelhos de ar-condicionado. O sistema pode ser implantado nas edificações que possuem aparelhos de ar-condicionado, principalmente nas empresas privadas e órgãos públicos. Já está em andamento a instalação do sistema no Bloco A da Escola de Engenharia da UFG, no Câmpus Colemar Natal e Silva.

 

 

Dutos conectados aos equipamentos de ar-condicionado levam a água que seria descartada para reservatórios equipados com torneiras adaptadas para facilitar a retirada


Funcionamento

A água que seria desperdiçada é captada por dutos interligados a dois reservatórios de 200 litros cada. Os recipientes foram instalados em locais estratégicos para que sejam facilmente transportados em reservatórios móveis com capacidade de 100 litros. Todo o volume é suficiente para limpar uma área de 4.444,78 m² (sede) e outra de 235,49 m² (prédio anexo). No reservatório foi instalado um cano que liga os recipientes a torneiras instaladas na área interna do prédio. “O objetivo é facilitar que a água seja coletada pelos colaboradores do serviço de limpeza”, explica Euler Bueno.


Conscientização

Euler Bueno lembra que também foi realizada no Crea-GO uma campanha de conscientização para a importância do uso racional da água com colaboradores que executam os serviços de limpeza. Entre as ações implantadas está o uso de um carrinho adaptado para acondicionar os recipientes que transportam a água, evitando o desperdício gerado pelo transbordamento do líquido usando baldes. Também está sendo elaborada uma cartilha educativa com dicas simples para diminuir o desperdício de água.

Entre as recomendações, estão o uso de mangueiras para coletar água das torneiras de banheiros, evitando encher a cuba da pia de água para em seguida transferir para o balde. Outra medida indicada é usar apenas recipientes adequados com tampas e transportá-los em carrinhos com rodas para evitar o transbordamento e, ao mesmo tempo, prevenir possíveis acidentes de trabalho. O idealizador do sistema avalia que as ações conjuntas realizadas no Crea-GO foram efetivas no combate ao desperdício de água, gerando economia. Segundo Euler Bueno a medida ajuda também a manter o nível dos reservatórios que podem sofrer alterações pelas mudanças climáticas e ter o volume comprometido em meses de pouca incidência de chuvas.

Presidente do Crea-GO, Francisco Almeida, elogia os resultados do sistema desenvolvido em parceria com a UFG. “Deixamos de utilizar cerca de 100 mil litros de água tratada em um ano no serviço de limpeza e ainda economizamos cerca de quatro mil reais ”, destaca. Francisco Almeida lembra que o sistema também prioriza a qualidade de vida dos colaboradores do setor de limpeza. “A forma como a água é coletada é ergométrica e não exige que o funcionário terceirizado se abaixe para colocar a água nos baldes na hora de realizar a limpeza”. O presidente do Crea-GO garante que pretende levar a ideia do sistema de aproveitamento de água para entidades do setor da indústria da construção civil para que um número maior de construtoras sejam incentivadas a adotar práticas sustentáveis nas obras que realizarem. “Este projeto desenvolvido em parceria entre o Conselho e a UFG, pode ser levado para todo o País”, completa.

Categorias: pesquisa Edição 79 #Pesquisa