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Universidade Federal de Goiás
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Projeto leva ensino de língua portuguesa a imigrantes haitianos

Em 01/06/16 12:37. Atualizada em 08/06/16 10:25.

Curso auxilia estrangeiros na adaptação ao idioma e na inserção no mercado de trabalho

Renato Rodrigues

Cerca de 60 imigrantes haitianos que residem no Setor Expansul, em Aparecida de Goiânia, e no Jardim Guanabara, em Goiânia, encontraram uma oportunidade de aprender a língua portuguesa após a chegada ao Brasil em busca de uma vida melhor. Um projeto de pesquisa na área de formação de professores da Faculdade de Letras (FL) da UFG em parceria com voluntários de instituições religiosas, oferece curso de português aos estrangeiros. O objetivo principal do trabalho é ajudá-los na adaptação e na inserção no mercado de trabalho.

Giuliano Pereira, professor da Faculdade de Letras e especialista em português para estrangeiros, um dos responsáveis pelas aulas de Português, avalia que o principal motivo que leva os haitianos a escolherem Goiás como destino é a receptividade dos goianos. “Vários deles já tentaram se estabelecer em outros países, mas acabaram sendo vítimas de xenofobia ou de racismo”, completa. Ele explica que os alunos são divididos em três turmas, com aulas às terças, sábados e domingos, ministradas na Escola Municipal Camila Scaliz Figueiredo, em salas cedidas pela Secretaria Municipal de Educação de Aparecida de Goiânia ou em espaços adaptados da Igreja Metodista do Setor Expansul.

O professor relata que os haitianos chegam ao Brasil sem conhecer o idioma e enfrentam muitas dificuldades para conseguir trabalho. Para Giuliano Pereira, o aprendizado da língua é o primeiro passo para que os imigrantes consigam sobreviver no Brasil. “A maioria dos alunos é carente e chega em nosso país sem conhecer o idioma, o que torna a adaptação ainda mais difícil”, completa. Ele lembra ainda que todos que atuam no projeto são voluntários e pagam do próprio bolso os custos de deslocamento e da produção do material didático utilizado nas aulas.

Os alunos do curso de Letras também atuam como voluntários no projeto por meio da pesquisa na área de formação de professores, extensão ou cursando a disciplina de língua portuguesa para estrangeiros. “Os alunos recebem, primeiramente, uma orientação teórica, acompanham o curso e só depois passam a dar aulas sob, a minha supervisão”, detalha. Segundo Giuliano Pereira, uma outra forma de ampliar e aprimorar o projeto é integrar os estudantes do curso de Letras para um intercâmbio linguístico cultural com os haitianos. “Os estudantes de licenciatura em Francês, por exemplo, poderão praticar o idioma com estes estrangeiros como forma de exercitar o contato bilíngue”, prevê.

 

A maioria dos alunos são carentes e chegam em nosso país sem conhecer o idioma, o que torna a adaptação ainda mais difícil
Giuliano Pereira

 

Wilgens Baptiste trabalha como metalúrgico e faz planos para trazer a família para o Brasil

Wilgens Baptiste trabalha como metalúrgico e faz planos para trazer a família para o Brasil

 

Voluntários

A Irmã Glória Dal Pozzo, da Pastoral dos Migrantes da Arquidiocese de Goiânia da Igreja Católica, desenvolve um trabalho de apoio aos imigrantes estrangeiros que desembarcam diariamente no Terminal Rodoviário de Goiânia e colabora com o projeto que leva o ensino da língua portuguesa aos haitianos do Setor Expansul há dois anos como voluntária. Ao notar a dificuldade de comunicação enfrentada pelos haitianos, ela percebeu a necessidade de se oferecer aulas de Português para os imigrantes. “Seria uma forma de garantir uma melhor inserção deles em uma nova cultura e uma nova realidade”, pontua.

Kátia de Oliveira Campos, professora de Francês aposentada do Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação da UFG (Cepae), é membro da Igreja Metodista do Goiânia Leste e trabalha como voluntária ministrando aulas aos sábados no Setor Expansul, em Aparecida de Goiânia, e aos domingos em um espaço improvisado em um terreno de um lote no Jardim Guanabara, bairro da região Norte de Goiânia. Ela diz que os haitianos atendidos pelo projeto são pessoas carentes e chegam ao Brasil sem ter onde morar e até mesmo sem ter o que comer. Ela afirma que o trabalho ainda não recebe nenhum tipo de apoio financeiro e todas as despesas para garantir a realização das aulas são custeadas pelos voluntários envolvidos no projeto. “Eles precisam de vários tipos de ajuda, muitos não conseguem empregos quando chegam e só conseguem sobreviver graças à ajuda de outros imigrantes”, pontua.

 

A maior dificuldade que enfrentamos quando chegamos a Brasil é conseguir aprender o idioma. 

Lúcia Dorval


Oportunidade

A pedagoga Lúcia Dorval, de 54 anos, é uma dos cerca de 400 imigrantes haitianos que vivem no Setor Expansul, em Aparecida de Goiânia. Ela reside no bairro há um ano e sete meses, é casada e deixou para trás os três filhos. Aposentada como professora do ensino fundamental no Haiti, a imigrante afirma ter encontrado dificuldades em conseguir trabalho em seu país de origem, o que a motivou a tentar uma vida nova no Brasil. “A maior dificuldade que enfrentamos quando chegamos ao Brasil é conseguir aprender o idioma”, comenta Lúcia Dorval. A haitiana diz que precisa enviar dinheiro para manter os filhos no Haiti e que, apesar de ter uma formação superior em Pedagogia, trabalha aqui como auxiliar de limpeza. A professora aposentada destaca o acolhimento dos haitianos e elogia a receptividade dos brasileiros. “Apesar de enfrentar muitas dificuldades no começo, fomos muito bem recebidos aqui”, comenta.

Wilgens Jean Baptiste, de 34 anos, vive no Brasil há seis meses. Ele é casado e nos últimos anos trabalhou como costureiro no Haiti. O imigrante tem um filho e faz planos para trazê-lo com a esposa para morar aqui. Há cerca de cinco meses trabalha como metalúrgico em uma indústria de portas e janelas. Com formação técnica em costura, Wilgens Baptiste, explica que optou por deixar seu país de origem devido às condições de sobrevivência que enfrentava. Ele recorda que os primeiros dias de adaptação foram os mais difíceis. “Na primeira semana não conseguia fazer compras no supermercado por não saber os nomes dos produtos que queria comprar”, recorda. Wilgens Baptiste afirma estar muito feliz no Brasil e, que apesar de viver há pouco tempo no país, já fez muitos amigos no trabalho e na igreja. “Estou muito feliz aqui e não penso em voltar para o Haiti”, planeja.

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