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Universidade Federal de Goiás
Jornal UFG 80

Plástico é produzido com resina do cajueiro

Em 06/07/16 16:55. Atualizada em 08/07/16 10:40.

Material já foi testado com sucesso como embalagem de alimentos e como curativo

Jornal UFG 80

Plástico pode ser feito de resina

 

Luiz Felipe Fernandes

Menos poluente, mais eficaz e feito com matéria-prima extraída do cajueiro. Assim é o plástico biodegradável obtido por pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG). O filme plástico já foi testado com sucesso como embalagem de alimentos e como curativo, com um diferencial importante: enquanto o plástico tradicional, derivado em sua maioria do petróleo, permanece durante cerca de 50 anos na natureza, o filme produzido no laboratório do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) levou apenas 30 dias para se decompor no solo.

A professora do ICB, Kátia Fernandes, que coordena a pesquisa, explica que a matéria-prima é extraída da resina que o cajueiro produz quando tem seu tronco ou galhos cortados. Essa goma, como também é chamada, atua como uma espécie de cicatrização da planta. Misturada ao PVA – um outro tipo de plástico usado na produção de tintas, adesivos e gomas de mascar –, os pesquisadores chegaram ao plástico biodegradável. “A ideia era chegar a uma alternativa renovável que não dependesse do petróleo. Estamos gerando tanto lixo plástico que o planeta está ficando soterrado”, ressalta Kátia.

Os primeiros testes mostraram que o filme plástico usado como revestimento de frutas permitiu que elas ficassem três vezes mais tempo sem refrigeração, sem murchar nem desidratar, que as frutas sem o revestimento. Ao plástico também foram adicionadas enzimas provenientes de um micro-organismo do solo do Cerrado que agem contra invasores, como os fungos. Elas degradam as paredes dos fungos e, assim, impedem seu crescimento.

O filme contendo enzimas foi eficaz no combate ao crescimento dos fungos Sclerotinia sclerotium (mofo branco), Aspergillus niger (mofo preto) e Penicillium sp. (conhecido como bolor, comum em pães). Como aplicação prática, a professora cita o transporte de alimentos em longas distâncias. “Uma carga de frutas pode ser transportada de navio para a Europa, por exemplo, sem mofar e murchar, sem que precise de um acondicionamento muito elaborado”.


Curativo

O plástico biodegradável também foi testado em células humanas. As pesquisas mostraram que o material não é tóxico e que as células cresceram normalmente, o que permite vislumbrar sua utilização como curativo. E o melhor: como esse plástico não adere às células, o curativo ainda teria a vantagem de não causar o incômodo de grudar no ferimento, como geralmente acontece.

Na primeira tentativa bem-sucedida, uma enzima que controla o processo de cicatrização foi colocada no plástico e permaneceu ativa. Um curativo com essa enzima ativa poderia ser usado para tratar ferimentos de pessoas que sofrem com um processo de cicatrização muito rápido. O mesmo foi feito com enzimas que auxiliam a cicatrização. As substâncias permaneceram ativas no material por até 12 horas.

Outros testes incluíram um anti-inflamatório no curativo. “O momento da lesão é muito dolorido e um curativo com analgésico é capaz de diminuir essa dor”, explica Kátia. O próximo passo é fazer a mesma tentativa com antibióticos para tratar ferimentos, usando esse curativo para deixá-los cobertos, úmidos, absorvendo os fluidos e com o medicamento agindo.

 

Jornal UFG 80

Lâmina de vidro seguida por filme de PVA/PEJU 3 e 6 % hidratados


Produção

As pesquisas feitas no ICB usam o material de cajueiros do Nordeste brasileiro, principalmente do Ceará, que concentra grande parte da produção de caju no país. O objetivo agora é fazer testes na espécie de cajueiro de Goiás para verificar se os resultados serão semelhantes. Para Kátia, a pesquisa é importante para que os produtores aproveitem o potencial do cajueiro, que não se restringe ao fruto e à castanha. “Mesmo o cajueiro velho, que não produz mais fruto, pode produzir resina”, esclarece.

Categorias: pesquisa Edição 80