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Universidade Federal de Goiás
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Ciência que alimenta

Em 29/09/16 13:52. Atualizada em 04/10/16 11:18.

Entrevistado desta edição fala sobre tema do Conpeex 2016

Douglas Falcão Silva

 

O  13º Congresso de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFG (Conpeex 2016), trabalhará temas ligados a alimentação e tecnologia. Com o mesmo slogan da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), Ciência Alimentando o Brasil, a intenção é discutir questões abrangentes que vão do uso de agrotóxicos até o ato de escolher o alimento de forma mais consciente. Para realizar a conferência de abertura do evento, a UFG convidou o diretor do Departamento de Popularização e Difusão de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações, Douglas Falcão Silva. Ele, que é físico e já foi coordenador de educação em ciências do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), no Rio de Janeiro, falará sobre o tema do evento. Em entrevista ao Jornal UFG, ele falou um pouco sobre a importância do tema, da realização das Semanas Nacionais e da popularização da ciência por meio dos museus de ciência. Confira!

 

Kharen Stecca

 

O slogan da SNCT 2016 é também o tema do 13º Conpeex. Qual a intenção da escolha?

Os temas escolhidos para as edições anuais da SNCT procuram sempre aproximação com a realidade das pessoas. Ao mesmo tempo, devem permitir compreensões e abordagens em diversos níveis de profundidade, de forma a possibilitar apropriações pelas diferentes audiências, desde crianças até a formação na pós-graduação. Ou ainda, os que não têm formação escolar ou que já saíram do sistema escolar. Neste sentido, o tema da SNCT 2016 “Ciência, Tecnologia e Alimentação” que tem como slogan “Ciência Alimentando o Brasil” preenche plenamente este quesito. Um segundo aspecto para a escolha dos temas da SNCT são os anos internacionais de conhecimento da UNESCO. Sempre procuramos usá-los como inspiração. Em 2016, a motivação para a escolha do tema baseou-se na decisão da Assembleia Geral das Nações Unidas, que proclamou 2016 como o Ano Internacional das Leguminosas (AIL). Optamos por ampliar o tema para as relações entre alimentação, ciência e tecnologia.

O nosso objetivo geral este ano é estimular a população a pensar na ciência e tecnologia envolvida na produção do alimento no Brasil. Nem todos estão conscientes dos avanços que o país alcançou nas últimas décadas nessa área. Por outro lado, questões como o uso de agrotóxicos, manipulação genética, desperdício de alimentos, o conhecimento do homem do campo, a relação entre saúde e alimentação, são fatores que hoje tornam a alimentação cotidiana um ato de natureza política. Se você cozinha, o seu controle sobre a sua própria alimentação aumenta. Suas decisões de compra podem fazer a diferença no estímulo a sistemas de produção mais sustentáveis. Queremos que a população coloque estas discussões na agenda, a partir da mediação de pesquisadores e das instituições de pesquisa.

 

Como a ciência pode ajudar a assegurar alimento de qualidade para toda a população?

Hoje a produção de alimentos no Brasil é muito diferente daquela que paira na cabeça dos brasileiros. O homem e a mulher do campo estão cada vez mais mecanizados e fazendo uso da ciência na solução de seus problemas. Mesmo a agricultura familiar já conta com estes elementos em grande proporção. O Brasil tem hoje uma estrutura de pesquisa na área de agricultura que é referência internacional. Por outro lado, temos ainda uma nova modalidade de subnutrição que pode estar bastante relacionada à falta de compreensão de fatores científicos e culturais que estão envolvidos no ato da alimentação. Passemos a um exemplo. Duas pessoas que vivem sozinhas entram em um supermercado com a mesma quantia e ambas devem adquirir alimentos para suprir suas necessidades por uma semana. Dependendo do nível de apropriação dos conhecimentos sobre sustentabilidade e nutrição, as decisões tomadas por cada um destes consumidores podem ser muito distintas em termos de impacto ambiental e nutricionais. Neste sentido, a popularização do conhecimento sobre ciência e tecnologia na alimentação é fundamental para que a sociedade brasileira possa tomar decisões consistentes, na direção de uma alimentação mais nutritiva e associada a uma cadeia de produção sustentável.

 

Quais as principais contribuições que a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia vem trazendo para o país?

Em sua décima segunda edição a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia - 2015, contou com 147 mil atividades, em 1.081 municípios brasileiros, e com o protagonismo de mais de 2.600 instituições, destas cerca de 60% são escolas de ensino básico.  Destaca-se que neste caso, estamos falando de instituições que participam da SNCT como realizadoras de eventos e atividades. Ou seja, as escolas e ensino básico são hoje a maioria entre as instituições realizadoras na SNCT. Tal resultado é estímulo ao protagonismo dos estudantes e professores. Tem sido muito comum nos eventos da SNCT ver estandes de escolas e de instituições de pesquisa lado a lado. Essa experiência é muito importante para o empoderamento dos estudantes. Mas o legado que a Semana Nacional está deixando para o país não é apenas um aumento de atividades dirigidas ao público. Também é importante destacar o fortalecimento dos grupos envolvidos na prática de divulgação e popularização da ciência e tecnologia em universidades, institutos de pesquisa, e outros órgãos federais, estaduais e municipais, ONGs, empresas, etc. Destaca-se principalmente o estabelecimento de uma rede de instituições que passaram a trabalhar de forma coordenada na realização de atividades de comunicação pública da ciência. Um outro tipo de resultado que vem se destacando no país é a criação de semanas municipais de ciência e tecnologia por meio de decretos em diversos municípios brasileiros.

 

Temos conseguido tirar a ciência da academia e levá-la à sociedade?

Irei me permitir usar uma palavra que não existe na língua portuguesa. A situação “despiorou” muito nos últimos 15 anos. Lembro que até a algum tempo atrás não era muito fácil encontrar um pesquisador disposto a aceitar o convite para participar de atividades de Divulgação de Ciência. Hoje essa situação, embora esteja ainda longe do que deveria ser, mudou. A possibilidade de inserção dessa modalidade de atividade no Currículo lattes é um fator que ajuda a tirar da invisibilidade esse tipo de ação. O pesquisador brasileiro recém-formado, teve a sua graduação, mestrado e doutorado em um ambiente no qual a percepção da Divulgação de Ciência é um pouco mais aceita no meio acadêmico. Hoje, alguns editais acadêmicos já exigem a realização de atividades de Divulgação de Ciência associada ao financiamento das pesquisas. Mas ainda falta por parte de uma parcela significativa de pesquisadores uma percepção mais adequada do público-alvo destas atividades e, muitos ainda não percebem que neste caso, elas devem se dirigir a audiências fora do meio acadêmico. Mas o “gradiente” é positivo. Acho que a percepção da importância da comunicação pública da ciência entre os pesquisadores tende a aumentar. Outro aspecto que sinaliza uma maior valorização destas ações é o aumento da realização de pesquisas na área de comunicação pública no Brasil. Tem crescido o número de pós-graduações que tratam especificamente desta área, assim como tem aumentado o número de áreas de concentração afins a esta temática em cursos de pós-graduação já instituídos.

 

Como os museus de ciência contribuem para essa popularização?

Os Museus de Ciências são peças fundamentais em uma política nacional para a área de Divulgação de Ciência no país. Se adotarmos uma conceituação bastante flexível que define estas instituições, o Brasil tem hoje cerca de 270 museus ou centros de ciência. Número insuficiente para um país como o Brasil. Soma-se ainda a distribuição assimétrica entre os entes federativos. Devemos caminhar para aumentar e distribuir melhor estes equipamentos de disseminação de cultura científica pelo país afora. A principal razão é o fato de que estas instituições são as únicas que têm em sua missão institucional a socialização do conhecimento científico como atividade maior e não exigem nenhum tipo de formação ou conhecimento prévio para a participação em atividades que visam aumentar os níveis de alfabetização científica da população em geral. Qualquer um pode entrar em um museu e ter a sua própria experiência na visita a uma exposição. Os museus de ciência são hoje uma ferramenta fundamental para a qualificação da cidadania científica da população, isto é, promover experiências que facilitem a participação do cidadão na tomada de decisões no seu dia a dia que envolvem a ciência e tecnologia e quem sabe, em um futuro próximo, estas instituições possam funcionar como fóruns de participação do cidadão na política científica dos municípios, estados e do país.



 

Fonte: Ascom/UFG

Categorias: entrevista Edição 83 conpeex 2016