Uma luz no fim do túnel?
Projeto da UFG visa melhorar a eficiência energética dos prédios públicos de Goiânia. Uso de lâmpadas LEDs é um dos primeiros passos
Camila Godoy
A construção de uma sociedade mais sustentável e consciente de seus recursos e dos limites do planeta já deixou de ser sonho. Hoje é uma necessidade. Para tanto, cada vez mais as pessoas têm pensado em novas formas de se relacionar com a natureza, criando, transformando e reinventando práticas. Em uma dessas tentativas de mudança, bem no centro do Brasil, uma escola pública poderá economizar R$ 700,00 mensais em sua conta de energia. A redução só é uma possibilidade por conta de um projeto desenvolvido pela UFG, em parceria com a Universidade Internacional da Flórida (FIU), que busca melhorar a eficiência energética dos prédios públicos de Goiânia.
O trabalho começou em 2013, quando a FIU selecionou três cidades da América Latina para desenvolver estratégias que visavam reduzir em, pelo menos, 10% o consumo de energia elétrica dos edifícios municipais e que objetivava produzir mudanças na legislação municipal para estimular a eficiência energética dessas construções. Assim, além de Goiânia, foram escolhidas as cidades de Valdivia, no Chile, e Port of Spain em Trindade e Tobago, Caribe. Todas com características climáticas diferentes e um histórico comum de ações de sustentabilidade urbana que, juntas, poderiam estabelecer um perfil para a região, com informações preciosas para o mercado de construção.
O contato com a UFG para dirigir o projeto na capital goiana foi inevitável. Desde então, cerca de 12 pesquisadores, entre professores, profissionais e estudantes da Universidade, se envolveram na ideia. Pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica de Goiás e da Universidade Estadual de Goiás também participaram. A coordenadora do estudo e docente da UFG, Karla Emmanuela Hora, explicou que o grupo precisou fazer um levantamento do consumo de energia de todos os prédios públicos municipais a partir de 2012. “Calculamos a média de consumo desses prédios e relacionamos estes dados com o tamanho das áreas dos edifícios. Esse foi o primeiro desafio junto à Prefeitura, que não tinha tais informações organizadas. Com nosso levantamento, chegamos à média de consumo anual de 80 kWh/m².ano, o que é relativamente baixo se compararmos com países mais desenvolvidos”, afirma.
De acordo com a professora, em seguida o grupo escolheu seis edifícios para fazer um estudo de diagnóstico, sendo dois da área administrativa, dois da Saúde e dois da Educação. “Queríamos conhecer diferentes realidades. Depois de avaliar cada um deles, percebemos que é possível melhorar a eficiência energética de todos. Para tanto, elaboramos um plano de ação e fizemos várias recomendações”, explica. Como a equipe buscava a propagação das práticas sugeridas, escolheram uma maternidade e duas escolas para apresentar propostas. “ Os projetos arquitetônicos desses órgãos geralmente seguem modelos padronizados, que são aplicados em vários locais. Assim, quando novas construções forem ocorrer, elas já poderão adotar práticas mais sustentáveis”, defende.
A equipe classificou os edifícios de acordo com o nível de consumo de energia e percebeu que nas escolas, mesmo fazendo algum nível de melhoria, eles não obteriam melhor classificação de desempenho ao se empregar os critérios adotados pelo Regulamento Técnico da Qualidade. Segundo a professora, essa dificuldade ocorre por conta do padrão dos prédios, que têm poucas árvores e muito concreto, não valorizam a instalação de brises, não aproveitam muito bem a orientação solar e que utilizam tijolinhos aparentes, modelos escuros e que absorvem mais calor. “A Prefeitura pode tirar maior proveito da iluminação e ventilação natural nas próximas construções. No entanto, pensando que os edifícios já estão prontos e não há condições de fazer tanta intervenção, pensamos no que poderia ser feito de forma mais rápida e barata. Escolhemos então a Escola Municipal Maria da Terra, na região Noroeste de Goiânia, e fizemos um projeto piloto com intervenções”, explica.
Com 14 salas e funcionando nos três períodos, a escola escolhida recebeu um novo sistema de iluminação em parte de sua estrutura. A mudança veio da equipe do projeto, que trocou as lâmpadas do modelo incandescente e fluorescente de algumas salas de aula e corredor por LEDs, que são mais potentes e econômicas. “Se toda a escola fizesse essa substituição, seria reduzido cerca de 12% de seu consumo energético”, afirma a professora Karla Emmanuela Hora. Além disso, a docente explica que o grupo fará algumas oficinas de educação ambiental com as crianças, jovens e professores para explicar o que é eficiência energética: “A ideia é formar multiplicadores”.
Quem não consegue esconder a felicidade com a mudança realizada pelo grupo é a diretora da Escola Municipal Maria da Terra, Danielle Nunes, que apoia o projeto: “Nossa escola foi construída em 1999 e precisa de muitos reparos. Essa simples alteração foi percebida, principalmente por alunos do noturno e funcionários, que elogiaram a melhora na iluminação. Nossa intenção é expandir para todas as salas e, em breve, desenvolver um projeto de escola sustentável”. No entanto, apesar da alegria, a diretora alerta para um obstáculo: a insegurança. Segundo ela, a escola já sofreu bastante com furtos e vandalismo e precisa proteger o patrimônio, inclusive as novas lâmpadas.
Eficiência energética na UFG
A busca por práticas ecologicamente corretas também é uma realidade na UFG, que em 2012 começou a desenvolver seu Plano de Gestão de Logística Sustentável (PLS). A proposta era ter uma ferramenta de planejamento com objetivos e responsabilidades definidos, que permitiriam à Universidade estabelecer práticas de sustentabilidade e racionalização de gastos e processos. De lá para cá, diversas ações foram realizadas.
O coordenador do PLS da UFG, professor Emiliano Godoi, explica que para melhorar a eficiência energética da Universidade, a gestão aposta no aumento da conscientização dos usuários, no aprimoramento dos edifícios construídos, com a incorporação de novos conceitos de gestão de energia nos prédios a serem instalados e na instalação de relógios para monitoramento individualizado de energia.
“Algumas campanhas de incentivo e conscientização acerca da redução do consumo de energia elétrica nos câmpus já foram realizadas, mas precisamos que todos se envolvam. Uma medida importante adotada pela instituição é a inclusão de elementos arquitetônicos que favorecem a entrada de maior intensidade de iluminação”, afirma Emiliano Godoi. Além disso, segundo ele, os novos projetos estão utilizando instalações elétricas aparentes, que facilitam a manutenção, e todos os equipamentos que fazem parte da infraestrutura são especificados com elevadas eficiências.