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Universidade Federal de Goiás
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Otakus na universidade

Em 22/02/17 15:13. Atualizada em 02/03/17 10:33.

É crescente o interesse de estudantes por produtos da cultura pop japonesa. Na maioria dos casos a paixão vem da infância

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Patrícia da Veiga – Fotos: Arquivos pessoais

Do japonês, a palavra otaku pode ser traduzida como “casa”. Porém, o cotidiano lhe rendeu outros significados: pessoa “fechada em um casulo”, isolada do mundo e dedicada a um hobby; ou, especificamente, alguém fã de qualquer elemento da cultura pop nipônica, tais como histórias em quadrinhos – mangás –, suas formas animadas – animes –, jogos ou música. Considerando esse último sentido do termo, é possível afirmar que na Faculdade de Artes Visuais (FAV) há uma porção de otakus. Eles levam tão a sério a paixão que querem aliá-la aos estudos e à profissão.

Lucas Miranda, discente da licenciatura em Artes Visuais, é um deles. Aos sete anos, começou a assistir aos desenhos animados Naruto e Dragon Ball Z pela televisão. Dali passou para a leitura das histórias em quadrinhos e, na adolescência, começou a fazer seus próprios desenhos. “Prestando atenção nos traços japoneses, vi que havia muita ênfase nos olhos. Na medida em que fui estudando, constatei que essa era a principal característica das personagens”, aponta. Hoje, aos 21, Lucas quer aprofundar o tema em seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Adorando Neto, de 25 anos, é colega de Lucas na licenciatura e tem trajetória semelhante. Depois de transformar a paixão da infância em profissão, quer ensinar utilizando quadrinhos. “Pretendo estudar a aplicação de mangás nos conteúdos escolares. Também gostaria de observar se há identificação dos alunos com essa abordagem”, descreve. Em janeiro, eles ministraram juntos uma oficina de mangá no Centro Cultural UFG.

Mia Brandão, do bacharelado, descobriu que gostava de desenhar aos oito anos, quando reproduziu as figuras de um jogo de cartas dos Cavaleiros do Zodíaco. O brinquedo veio das telas, que havia saído do papel, que voltou para a imaginação da estudante. “Hoje, meu trabalho tem outras influências, mas dá para ver claramente os traços do mangá”, define. Mia apurou seu olhar e, aos 20 anos, vem tornando-o mais seletivo. “Tenho visto histórias muito repetitivas e cada vez menos desenhistas originais”, critica.

 Otakus sonhador

Sonhador

“Não me considero um otaku. Sou, sim, um sonhador”, diz Abraão Reis, 21, estudante de Design de Modas. Ele nasceu e viveu na zona rural até os 14 anos. Sua principal diversão na infância eram os animes exibidos na TV aberta e os mangás que vez ou outra adquiria. Ao mudar-se para Goiânia, decidiu estudar ao máximo o assunto. Mergulhou em um mundo de fantasias e ressignificou a própria vida. Não é exagero. Abraão extraiu das histórias o caráter reflexivo que comumente as acompanha e passou a tirar lições disso. “Descobri que devemos encarar nossos ‘fantasmas’ e que o que nos dizem ser um erro pode, na verdade, ser o melhor de nós, o nosso acerto. É por isso que em tudo o que faço deixo meus sentimentos”, comenta. Foi com toda essa sensibilidade que seu caminho pelas artes e pela moda começou a ser trilhado. Em um dos trabalhos feitos para a faculdade, Abraão investigou formas, cores e texturas e, em seguida, produziu croquis inspirados na cultura pop japonesa. “Para o designer Yohji Yamamoto, a roupa é uma extensão do corpo, é uma segunda pele. Essa ideia foi o eixo da minha coleção”, explica.

Daria_Veramar

Cosplay

“Animencontro” é uma reunião onde fãs de mangás e animes aproveitam para encarnar as personagens favoritas. Para isso, elas se vestem, se maquiam e conversam como se fossem parte da história que gostam de acompanhar. Essa prática é também conhecida como costume play, cosplay. Acostumada a frequentar tais eventos, Veramar Martins estudou sua própria performance e depois construiu sua personagem. A decisão lhe rendeu um TCC no bacharelado em Artes Visuais e uma dissertação no mestrado em Cultura Visual. Como resultado desse processo, a artista plástica criou uma história em diferentes plataformas (mangá, cosplay, perfil no Facebook, site) e levou o público não somente a interagir, mas a construir junto tal narrativa. Aos 31 anos, ela fala como fã e mais ainda como pesquisadora. “O que me interessa nesses estudos da cultura pop japonesa é identificar como uma cultura tão distante geograficamente pode influenciar e agregar elementos visuais e comportamentais na construção da identidade brasileira – principalmente a de nossos jovens”, pontua.

 

Mia Brandão

Histórico

É a partir da década de 1990 que a cultura pop nipônica se espraia com força pelo ocidente. A internet facilita tal processo e a indústria cultural japonesa investe na internacionalização de seus produtos. Porém, conforme explica o professor da FAV Edgar Franco, ocorre também uma identificação de crianças e adolescentes com estruturas narrativas que apresentam personagens mais complexos e sensíveis do que os super-heróis estadunidenses. Há ainda uma diversidade maior de tipos físicos e orientações sexuais. As personagens femininas, por sua vez, são tão ou mais valorizadas do que as masculinas – o que não acontece nos quadrinhos ocidentais. “A verdade é que os mangás e animes trabalham incrivelmente bem com a noção de arquétipos e, mesmo em seus delirantes universos de fantasia, tratam de problemas muito comuns a todos os adolescentes e jovens adultos do mundo ocidental. Essa é a razão de seu sucesso estrondoso”, analisa.

 

Confira dicas de mangás sugeridas pelos entrevistados

 

Para ler:

Hunter x Hunter, de Yoshihiro Togashi. Ano: 1998. Editoras: Shueisha/JBC.

Kuroshitsuji (O Mordomo Sombrio), de Yana Toboso. Ano: 2006. Editoras: Square Enix/Panini Comics.

Fairy Tail, de Hiro Mashima. Ano: 2006. Editoras: Kodansha/JBC.

Akame Ga Kill, de Takahiro e Tetsuya Tashiro. Ano: 2010. Editoras: Square Enix/Panini Comics/Planet Mangá.

Miarai Nikki, de Sakae Esuno. Ano: 2006. Editoras: Kadokawa Shoten/JBC

Full Metal Alquimist, de Hiromi Arakawa. Ano: 2001. Editoras: Square Enix/JBC.

 

Para assistir:

Glass no Kamen – 23 episódios. Ano: 1984. Direção: Nishimae Toshinori, Sugiyama Noboru e Imai Kazuhisa. Produção: Aniplex. Disponível em: http://animesfoxbr.xpg.uol.com.br/17364.html

Divine Gate – 12 episódios. Ano: 2016. Direção: Noriyuki Abe. Produção: Studio Pierrot. Disponível em: http://www.animeai.net/360225.html

Fonte: Ascom UFG

Categorias: Comportamento FAV Edição 85 mangá anime otaku