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Universidade Federal de Goiás
Biodinamica

Biomecânica como aliada do esporte

Em 23/03/17 10:08. Atualizada em 31/03/17 13:49.

Faculdade de Educação Física e Dança da UFG utiliza ciência para auxiliar a prática esportiva

biomecânica

 

Angélica Queiroz

A Biomecânica está presente desde as tarefas mais simples, como levar comida à boca, até as mais exaustivas, como uma competição. A ciência que estuda e faz análises físicas de movimentos do corpo humano, estuda as causas e consequências do movimento a partir da combinação de diversas disciplinas. Nas práticas esportivas, a Biomecânica tem aplicação fundamental, uma vez que, se praticado de maneira inadequada, o esporte pode ter efeito nocivo e prejudicar ossos, músculos e articulações. De olho nisso, pesquisadores do Laboratório de Bioengenharia e Biomecânia (Labioeng) e do Laboratório de Avaliação do Movimento Humano (Lamovh), da Faculdade de Educação Física e Dança da Universidade Federal de Goiás (FEFD/UFG) se dedicam a estudar os movimentos do corpo humano de modo a produzir equipamentos apropriados, avaliar postura e controle motor e estabelecer a execução correta de cada atividade.

 

Nos laboratórios a tecnologia é uma grande aliada para a análise, feita através de sistemas que observam as características geométricas e temporais dos movimentos ao longo de uma determinada tarefa, estabelecendo comparações entre pessoas saudáveis e grupos com algum tipo de dificuldade motora. Para a análise, marcadores reflexivos são fixados com adesivo em pontos anatômicos do indivíduo a ser analisado, e a pessoa começa a se exercitar. Dez câmeras suspensas emitem luz infravermelha de modo que cada marcador é visto simultaneamente por pelo menos duas câmeras. Então, por meio de um software de reconstrução de movimento, se obtém a representação tridimensional do conjunto de marcadores no computador. A partir dessas coordenadas é possível analisar as variáveis cinemáticas como posição, velocidade, aceleração de cada segmento e ângulo de cada articulação como, por exemplo, da articulação do joelho, obtida via cálculo trigonométrico, envolvendo segmentos da coxa e da perna. Essa modelagem virtual pode ser útil, por exemplo, na construção de uma terapia de reabilitação para indivíduos com movimentos comprometidos por traumas.


O Lamovh desenvolve o Dynamic Posture, um sistema de baixo custo financeiro para avaliação postural computadorizada com filmadoras e câmeras fotográficas comuns. “Esse sistema já é utilizado em ambiente de laboratório e está em fase de simplificação para instrumentalizar o professor de Educação Física que atua na escola, academia, clubes esportivos e outros espaços carentes de recursos”, explica o membro da Sociedade Brasileira de Biomecânica e professor da FEFD, Mário Campos. O professor explica que, compreendendo o movimento, a Biomecânica também pode ajudar os atletas na prevenção de lesões, garantindo longevidade e o desenvolvimento de técnicas e equipamentos para aumentar o rendimento, garantindo também mais sucesso naquela modalidade.

 

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Lacuna entre a pesquisa e o esporte


O professor Marcus Vieira, coordenador da Rede Goiana de Pesquisa em Tecnologias da Saúde da Fapeg, comenta que a parte de desenvolvimento de materiais para desempenho esportivo é muito sofisticada e desenvolvida. Segundo ele, atualmente já existem técnicas bastante elaboradas para desenvolver equipamentos esportivos, como roupas próprias para natação, similares a sistemas biológicos reais, como de peixes e tubarões, ou calçados e pisos capazes de armazenar energia potencial e devolver em forma de energia cinética ao atleta.

 

No entanto, o pesquisador lembra que existe um obstáculo que atrapalha o desenvolvimento da Biomecânica no país: a lacuna entre a pesquisa e o campo esportivo. Segundo ele, a área necessita de investimentos maciços, especialmente nos esportes de alta complexidade; e há um distanciamento entre a pesquisa, que traz esse suporte, e a aplicação prática, especialmente porque pesquisa nessa área é cara, pois exige espaços grandes, equipamentos sofisticados e bagagem teórica sólida para trabalhar com esses equipamentos. “Investimento ainda é uma das principais dificuldades em se fazer ciência, sobretudo em nosso país”, lamenta.

 

Além disso, Marcus Vieira lembra que ainda existe uma certa aversão por parte dos alunos a essa disciplina devido à sua complexidade e embasamento teórico. “Nós precisamos trabalhar um pouco isso desde a formação. Precisamos resgatar um pouco mais da importância dos princípios mecânicos por trás de cada técnica utilizada”, explica. Para Marcus Vieira é tarefa do profissional de Educação Física ensinar aos alunos a execução correta de cada movimento de modo a prevenir lesões e obter melhores resultados.

 

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Aprender para ensinar

 

A professora da FEFD, Florence Rosana, aplica a ciência nas aulas de atletismo da FEFD, já que a modalidade esportiva envolve incontáveis movimentos e riscos de lesão, como corridas, saltos, lançamentos e arremessos. Para reduzir esses riscos e compreender a técnica correta, a professora ensina os princípios da ciência aos alunos, preparando os futuros profissionais do esporte para repassar os movimentos corretos, contribuindo, inclusive, para a melhora do rendimento. “Tento resgatar com eles o que viram nas aulas de Física no Ensino Médio, como posicionamento do corpo, vetores, angulação, movimentos de braços e perna, inclinação na hora de curva. Não é uma das disciplinas preferidas porque envolve Física e Matemática, mas a aplicação diminui a rejeição e os resultados são positivos”, resume.

Categorias: Esporte Edição 86 Biomecânica