Sabe o que são aptâmeros?
Pesquisas da Regional Catalão mostram que essas moléculas podem ajudar no tratamento de doenças como Dengue e Zika
Texto: Fábio Gaio
Imagem: Divulgação
Proporcionar melhorias no diagnóstico molecular de doenças e buscar a neutralização do processo de formação de novas partículas virais nas células, impedindo a produção de novos vírus. Essas são algumas das funções desempenhadas pelos aptâmeros, que são moléculas de ácidos nucleicos, cuja utilização apresenta a vantagem de ser economicamente mais viável, se comparado à produção de anticorpos, além de possuir algumas características práticas que facilitam o trabalho de pesquisa. Na Regional Catalão da Universidade Federal de Goiás (UFG), esse tipo de abordagem tem sido utilizada em pesquisas com Dengue e Zika e envolve pesquisadores e estudantes da graduação em Ciências Biológicas, do mestrado em Química e do doutorado em Ciências Exatas e Tecnológicas.
A professora Adriana Freitas Neves, do Laboratório de Biologia Molecular da Regional Catalão e coordenadora da pesquisa, explica que essas moléculas possuem a importante característica de reconhecer com alta especificidade uma molécula alvo. Com isso, afirma a professora, será possível pesquisar a funcionalidade de um determinado aptâmero dentro de uma célula e, assim, saber como ocorre o metabolismo celular em uma situação de infecção ou não pelos vírus da dengue e do Zika, a fim de propor novas formas de terapia. Além disso, os aptâmeros podem ser utilizados para melhorar a sensibilidade de técnicas diagnósticas por Biologia Molecular, chamada de apta-PCR.
De acordo com Adriana, no caso da pesquisa com o vírus da Dengue, nos aspectos funcionais, a caracterização dessas moléculas já foi realizada e o próximo passo é a etapa celular, que consiste em inserir os aptâmeros dentro da célula, o que ainda ocorrerá neste ano. Quanto ao Zika, essa fase de caracterização teve início no final do ano passado e o estudo permitirá conhecer a sequência desses aptâmeros ligantes para testes funcionais já no próximo ano. “A partir dessas etapas, podemos realizar testes, tanto para o diagnóstico, quanto para o tratamento da Dengue e do Zika e, havendo afinidades específicas ao alvo, na etapa terapêutica poderá ser possível buscar o bloqueio do processo de formação de novas partículas virais”, explica a professora. Isso é possível, segundo Adriana, pela inserção das moléculas de aptâmeros dentro das células infectadas, possibilitando o entendimento das alterações que ocorrem em nível celular, no caso de uma infecção por estes vírus. Com as observações será possível propor aptâmeros que podem se tornar medicamentos aplicados ao tratamento.
A pesquisa de desenvolvimento desses aptâmeros envolve vários processos em laboratório, por meio de técnicas in vitro, que visam a selecionar ligantes, que posteriormente são analisados por meio de um processo de caracterização, a fim de verificar se eles realmente se relacionam a um determinado alvo. Esses aptâmeros não são naturais e são obtidos por meio de processos de síntese enzimática no laboratório, sendo possível, ainda, realizar modificações químicas em suas moléculas a fim de torná-las mais estáveis no meio celular. Recentemente, o grupo teve dois trabalhos publicados: um artigo na Revista Future Medicinal Chemistry e outro no Bioanalysis Journal, na seção especial sobre Oligonucleotídeos Funcionais. Ambos os jornais fazem parte do “Future Science Group”, possuindo um importante impacto na área científica.
De acordo com Adriana, no Brasil os aptâmeros ainda são pouco estudados, com pesquisas restritas a poucas instituições. Nos Estados Unidos, entretanto, já existem, inclusive, aptâmeros liberados sob a forma de medicamentos, como por exemplo, o Pegaptanibe ou Macugen, um composto com base em aptâmero utilizado para tratar a degeneração macular, doença que pode levar à cegueira em idosos. O trabalho realizado em Catalão conta com a parceria do Laboratório de Nanobiotecnologia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), do Instituto de Ciência e Tecnologia Teranano (INCT), também da UFU, e do Laboratório de Genética Molecular e Citogenética da UFG, em Goiânia.
Fonte: Ascom UFG