Icone Instagram
Icone Linkedin
Icone YouTube
Universidade Federal de Goiás
Editorial

Quebrando a Teoria do Espelho

Em 07/03/18 09:04. Atualizada em 07/03/18 09:06.

Edição do Jornal UFG conta histórias marcantes no campo da produção do conhecimento e na área administrativa

Magno Medeiros
Secretário de Comunicação da UFG e professor da FIC

A socióloga Gaye Tuchman ajudou a quebrar a Teoria do Espelho, segundo a qual o jornalismo retrata fielmente a realidade factual. Ocorre que não existe o espelho verdadeiro dos fatos. Segundo a autora - uma das mais importantes teóricas do Newsmaking -, o relato jornalístico é entrecortado e constituído pelo olhar que caracteriza uma dada cultura, pelo ponto de vista que sustenta o olhar observador, pelo conjunto de princípios e valores que marcam as formas de interpretação dos jornalistas, situados em um determinado tempo e espaço históricos. Nesse contexto, vale ressaltar a importância das rotinas produtivas que interferem no modo de ver, de fazer, de apreender e de relatar o mundo vivido e apreendido.

No artigo "As notícias como uma realidade construída", escrito em 2002, Tuchman afirma: "Por um lado, a sociedade ajuda a moldar a consciência. Por outro lado, mediante uma apreensão intencional dos fenômenos do mundo social compartilhado - por meio do seu trabalho ativo -, os homens e as mulheres constroem e constituem coletivamente os fenômenos sociais" (tradução livre). Nessa perspectiva, relatar significa contar histórias (ou estórias). Não no sentido negativo, mas no sentido de que todo relato requer uma determinada dose de intencionalidade, de subjetividade, de enquadramento e de interpretação da realidade. Afinal, trata-se de um recorte ou de uma versão da realidade, cujo olhar constitui e constrói a realidade. E isso se faz por homens e mulheres, desde o ponto de vista de sua cultura e em face dos fenômenos sociais compartilhados coletivamente.

No jornalismo não é diferente. Longe de ser um retrato fiel da realidade, o jornalismo é uma construção social. No fazer profissional, são impossíveis a neutralidade do narrador e a reprodução fidedigna dos fatos relatados. Embora se persiga a objetividade, a realidade contada possui a seletividade que se inicia na pauta, passando pelas nuances discursivas do narrador, pela ênfase no enquadramento do editor e, por fim, pela polissemia propiciada pelos olhares díspares do leitor. Portanto, o que marca o jornalismo é, sobretudo, o enquadramento discursivo da realidade. Nessa seara, o pressuposto básico é a ética aplicada às formas de se relatar e de interpretar a realidade. Além da técnica que o caracteriza, vale destacar a premência do respeito aos princípios do jornalismo como comunicação pública, cujos aspectos fundamentais são a relação dialógica, o interesse coletivo, a garantia de participação comunitária, o fortalecimento da democracia, a pluralidade de ideias, a diversidade cultural, o respeito aos direitos humanos e a luta permanente pela construção da cidadania.

Entendemos que a presente edição do Jornal da UFG conta histórias marcantes, seja no campo da produção do conhecimento e da divulgação científica, seja na área administrativa, que esboça um projeto de Universidade. São histórias comoventes, instigantes ou edificantes, fruto de práticas e experiências que engrandecem o ensino, a pesquisa, a extensão, a cultura e a gestão no contexto universitário. E, por se tratar de um relato posicionado histórica e institucionalmente, buscamos nos pautar pela postura ética e pela responsabilidade social, ingredientes fundamentais de uma sociedade cidadã e democrática. Isso implica uma construção social necessariamente focada no interesse público.

Fonte: Ascom/UFG

Categorias: editorial edição 93