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Universidade Federal de Goiás
Retranca estudantes

Pesquisa traça perfil conservador do jovem goianiense

Em 31/08/18 10:32. Atualizada em 05/09/18 10:05.

Constatação é de um estudo do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática

Carolina Melo

Estudantes

A imagem de uma juventude rebelde e contestadora de valores e preconceitos não condiz com o perfil do jovem encontrado nas escolas públicas de Goiânia. De acordo com estudo realizado pela UFG, os concluintes do ensino médio das instituições estaduais de ensino, entrevistados pela pesquisa, são conservadores e têm pouco acesso aos bens culturais.

O estudo fez um paralelo entre o perfil desse estudante concluinte do ensino médio e o perfil ideal de uma formação defendida nos documentos oficiais da Educação Básica. "De fato, é um aluno constituído pelo ambiente da família, da Igreja, da escola, e que sofre influência da comunicação midiática. Tem um perfil conservador, machista e carregado de preconceitos. Busca o conhecimento para o trabalho e para a melhoraria de vida, mas não tem uma formação humanística e integral, valorizada nos documentos oficiais", afirma a pesquisadora Érivan Cristina Silva, do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática.

A Rádio Universitária repercutiu o assunto com estudantes do ensino médio. Confira no podcast.

 

A maioria dos 348 estudantes entrevistados está na faixa etária dos 17 e 18 anos, é do gênero feminino e cursou o ensino fundamental apenas em escolas públicas. Metade dos entrevistados considerou-se parda, apesar de a pesquisadora perceber, enquanto aplicava os questionários, uma maioria composta por negros retintos. Conforme a análise de Érivan Cristina, são jovens de regiões periféricas, de renda baixa e que não se reconhecem a partir do lugar que ocupam na sociedade.

Dois dados, em especial, chamaram a atenção da pesquisadora. Mesmo afirmando que sofrem e provocam violência, e tendo conhecimento de algum familiar ou amigo que cumpre pena em regime fechado, 81% dos meninos e 77% das meninas são à favor da pena de morte. Da mesma forma, 85,2% dos meninos e 78% das meninas são à favor da redução da maioridade penal. De acordo com o estudo, os jovens acreditam que a solução para a violência se restringe à punição e não cogitam a possibilidade de retrocesso no caso de se punir um inocente. "Isso mostra certa fragilidade das escolas públicas de Goiânia diante de um debate crítico sobre o fenômeno social da violência, pois escapa aos estudantes a reflexão de que a violência tem aspectos cultural e economicamente determinados", afirma Érivan.

Outra reflexão levantada pelo estudo diz respeito à capacidade de influência da mídia na adesão à pena de morte e à redução da maioridade penal. A tendência à violência, de acordo com a pesquisa, é estimulada pelos meios de comunicação, que se apoiam em relações sociais marcadas pela desigualdade social e pelo individualismo. "Estamos falando de jovens negros e pobres que estão sendo mortos em todo o país, seja pela violência da sociedade, seja pela violência do Estado. Isso parece preocupante, ainda mais quando esse pensamento tem respaldo de professores". A maioria dos 11 professores entrevistados pela pesquisa também se posicionou a favor da pena de morte e da redução da maioridade penal. "Não fazem a reflexão de que a pena, como um dado viciado, cairá sobre as populações desfavorecidas do país".

A formação para exercício da cidadania requer acesso ao conhecimento universal e à formação integral, segundo os documentos considerados pela pesquisa, tais como a Constituição Federal, a Lei de Diretrizes de Base (LDB), as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica, o Plano Nacional da Educação, o Plano Estadual de Educação e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). "Estamos falando, então, de uma pessoa preparada na integralidade de sua personalidade. Ou seja, que saiba outras línguas, que tenha conhecimento histórico, acesso aos esportes, às artes, à cultura", explica a professora da UFG e orientadora da pesquisa, Agustina Rosa Echeverría. Mas os jovens concluintes do ensino médio em Goiânia, segundo os dados levantados pelo estudo, não têm acesso aos bens culturais. Enquanto 53% sempre vão à Igreja, cerca de 56% nunca foram ao teatro. "É um jovem que não tem o hábito da leitura, mas frequenta a Igreja e consome conteúdos midiáticos".

Gênero e homofobia
A percepção dos jovens diante das posições ocupadas por homens e mulheres na sociedade também foi avaliada pelo estudo, que identificou certa repercussão das desigualdades de gênero. Segundo as pesquisadoras, o olhar do jovem para a divisão de tarefas no ambiente familiar e no espaço profissional refletem a assimilação das construções sociais machistas. Por exemplo, quando foram questionados sobre quem é o responsável pelo cuidado da casa, houve uma significativa parcela dos jovens que direcionou a responsabilidade apenas para a mulher. Por sua vez, ao pensarem sobre a futura vida profissional, as áreas das engenharias e das exatas foram as principais escolhas dos meninos, já as áreas das ciências biológicas e da saúde foram a preferência das meninas. "Podemos fazer o diálogo com a percepção de que a mulher é a cuidadora e o homem é o responsável pela execução", analisa Érivan Cristina.

O conservadorismo dos jovens também foi observado pelo alto índice do posicionamento contrário aos movimentos LGBT, que defendem os direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros. No universo de 348 estudantes das escolas públicas de Goiânia, 126 são contrários ao movimento, 243 acreditam que a homoafetividade é uma escolha e apenas 74 têm a compreensão de que se trata de uma orientação sexual.

A professora Agustina Echeverria faz uma ressalva. Os dados são frutos de uma pesquisa realizada por um período de tempo condicionado pelos prazos acadêmicos e pode ser considerada uma prévia de um diagnóstico mais detalhado. Segundo ela, dois dados trazem fundamento para essa observação: 66% dos jovens entrevistados são à favor dos movimentos de luta pela terra e pela reforma agrária, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), e 80% são à favor das cotas nas universidades. "É um jovem que precisa ser entendido mais a fundo e que mostra potencial para um trabalho educacional mais adequado, via valorização dos professores e da estrutura escolar", avalia.

Doze escolas estaduais públicas de Goiânia participaram do levantamento, sendo oito convencionais, duas de tempo integral e duas conveniadas. A pesquisa buscou contemplar as diversas regiões da capital. Portanto, as escolas escolhidas estavam localizadas nas regiões central, leste, noroeste, norte, oeste e sul da capital.

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Fonte: Secom/UFG

Categorias: Educação Edição 97 Humanidades