Divulgação científica e inteligência coletiva
Secretário de Comunicação da UFG, professor Magno Medeiros assina o editorial do número 99 do Jornal UFG
Magno Medeiros*
Carl Sagan, um dos mais célebres cientistas da era contemporânea, defende a ideia de que o conhecimento científico deve sempre ser compartilhado socialmente visando a construção de uma inteligência coletiva. Escreve o autor: “Saber muito não lhe torna inteligente. A inteligência se traduz na forma que você recolhe, julga, maneja e, sobretudo, onde e como aplica esta informação.” Sendo assim, não é o acúmulo de conhecimento que garante a inteligência. Muito menos seria a estocagem de informações em grandes bancos de dados que asseguraria a excelência científica. A inteligência reside na forma como se divulga e se aplica o conhecimento, bem como na maneira através da qual se coletam e se analisam os dados, estabelecendo parâmetros rigorosos para inferências e avaliações técnico-científicas. Nessa ótica, conhecimento requer rigor científico, difusão científica e aplicação social e tecnológica. Aí reside a inteligência do saber coletivamente construído.
A presente edição do Jornal UFG apresenta material informativo com foco na divulgação científica. A reportagem sobre o Museu Antropológico, por exemplo, retrata o importante trabalho desenvolvido ao longo de 50 anos, contemplando áreas como Etnologia, Antropologia e Arqueologia em Goiás e abrindo campo de estágio para diversas graduações, como História, Letras, Museologia, Artes e Arquitetura. São cerca de 6.000 objetos etnográficos e mais de 150.000 peças arqueológicas, fotográficas, videográficas e outros documentos. Ou seja: um rico e vasto material a serviço da produção e popularização do conhecimento.
Outra matéria que aborda a questão da popularização científica refere-se à criação da plataforma Ignite. Trata-se de uma iniciativa que visa incentivar jovens pesquisadores a trilhar os caminhos da ciência. A plataforma reúne programas de TV educativos, livros e revistas sobre ciência. Por outro lado, a mesa-redonda desta edição do Jornal UFG traz como tema a possível liberação de agrotóxicos e o impacto que essa medida tende a provocar na saúde das pessoas e do meio ambiente. Autoridades nessa área do conhecimento discutem, de forma clara e acessível ao grande público, as consequências práticas à saúde pública caso a lei nº 6.299 seja realmente aprovada pela Câmara dos Deputados. Ou seja: debate oportuno em linguagem simples e objetiva.
Essas matérias são apenas exemplos de divulgação científica, cuja centralidade é preocupação constante e essencial do Jornal UFG. Entende-se, assim, que o conhecimento deve mesmo ser acessível e compreensível a todos os públicos. Trata-se, portanto, de missão essencial de iniciativas voltadas para a popularização da ciência. E isso requer traduzir dados técnicos em informações que possam ser apropriadas pelo leitor comum, pelo cidadão leigo. A prática implica fazer a difusão do conhecimento científico para públicos não especializados. A divulgação científica, com efeito, é imprescindível para o avanço da ciência, impulsionando o debate público acerca de alternativas e soluções requeridas pela sociedade. Enfim, é dessa forma que se constrói o conhecimento pautado pela inteligência coletiva.
* Magno Medeiros é secretário de Comunicação da UFG e professor da FIC/UFG