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Universidade Federal de Goiás
Diego Zanotti

A união das mulheres pelos fios de algodão

Em 07/03/19 18:09. Atualizada em 08/03/19 09:07.

Documentário Conversa Fiada retratou como o tissume, local de manuseio do algodão, torna-se um espaço de convivência para mulheres do sertão de Minas Gerais

Letícia Santos

A mulher vem aos poucos assumindo o papel de protagonista no espaço social, embora ainda se discuta as consequências de heranças históricas resultantes do sistema patriarcalista. Para refletir questões atuais de igualdade e diversidade de gênero, a professora Dinalva Ribeiro, acompanhada do diretor Diego Zanotti, realizou o documentário Conversa Fiada (2017). O projeto fruto de dois anos de pesquisa, em parceria entre a Universidade Federal de Goiás (UFG) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), conta a história de 15 mulheres camponesas do Vale do Urucuia, sertão de Minas Gerais.

Se antes o interesse do projeto era retratar o tissume, local de manuseio do algodão, o convívio diário dos pesquisadores com as mulheres campesinas despertou outra abordagem para a narrativa. “A princípio, nos interessava o tissume, espaço e prática da lida com o algodão, além de suas etapas e técnicas. No entanto, a convivência com essas mulheres nos apresentou outra realidade: o tissume é o lugar da exposição de si e do acolhimento”. Explica Dinalva Ribeiro, produtora do curta-metragem.

Colocadas em segundo plano, muitas mulheres são impossibilitadas de expressar opiniões e vistas apenas como responsáveis pelos cuidados domésticos. Dessa maneira, constrói-se uma cultura do medo, na qual o sexo feminino tem receio de se expressar por estar sob a constante intimidação, que na maioria das vezes, é proveniente de seu próprio companheiro. “Essas mulheres passaram por situações muito duras ao longo de suas vidas, violências de toda ordem, violências não reconhecidas, minimizadas, ocultadas, como é de praxe quando o assunto é violência contra a mulher.” relata Dinalva.

Ledina Maria, uma das 15 protagonistas, narra no documentário a felicidade em desafiar o machismo e realizar as atividades do dia a dia. “Alguns homens não deixavam suas esposas participarem das reuniões de tecer, elas eram submissas. A nossa alegria, o mais importante é reunir com as companheiras.” Nos afazeres do cotidiano, como tecer fios de algodão, as campesinas encontram a certeza de inclusão na sociedade.

Autoafirmação

Diante do machismo enraizado na história, essas mulheres buscam ultrapassá-lo em cada detalhe, desde a troca de experiências e conhecimentos, a busca de visibilidade nos trabalhos rotineiros e o reconhecimento da luta pela independência financeira. O convívio com o fio de algodão é o símbolo das mulheres campesinas contra a imposição opressiva. Dinalva expõe a importância do processo de fiar, tingir e tecer no cotidiano de cada uma. “É o momento de trabalho e de descanso; de expressão e de vazão da potência; de dor e de cura.”

Esse alicerce promove a cultura do empoderamento, principalmente quando elas os aprimoram nos espaços coletivos, de experimentação e gestão comunitária. “O tear empodera e engrandece essa força de ação coletiva e feminina, e conecta todas elas a uma teia maior de compartilhamento mais íntimo, mais libertário, mais feminino.” afirma Diego Zanotti, diretor do curta-metragem. Nesse contexto, as mulheres campesinas começam a entender que é preciso desconstruir no seu próprio lar as várias formas de machismo que enfrentam e serem protagonistas da sua própria existência.

Assista aqui ao documentário:

Fonte: Secom UFG

Categorias: Arte e Cultura