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Universidade Federal de Goiás
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Juventude atual se caracteriza por um fechamento de horizonte

Em 02/04/19 13:56. Atualizada em 02/04/19 16:45.

Congresso realizado pela Universidade Federal de Goiás buscou abordar temas relacionados à adolescência

A fase de mudanças físicas, psicológicas e sociais em uma pessoa são características comuns da adolescência. Essa etapa é caracterizada pela transição da infância para a idade adulta, o que segundo a Organização Mundial da Saúde, corresponde dos 10 aos 20 anos de idade.

Nessa perspectiva, a Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás (UFG) realizou o "Adolescer 2019 – I Congresso de Adolescência da UFG". A palestra realizada na tarde da última sexta-feira (29/03), com a temática “Adolescência e Modernidade”, contou com a participação do psiquiatra e psicoterapeuta brasileiro, Joel Birman. O palestrante iniciou sua fala afirmando que a adolescência é uma questão fundamental para o ponto de vista social, politico e simbólico nas sociedades contemporâneas.

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Joel comparou a juventude da atualidade com a da sua época, anos  de 1960, na qual ele afirma que os jovens eram engajados e participavam de protestos e movimentos estudantis. O que diferencia essas gerações é a perspectiva adotada na atualidade pelos jovens. Segundo o escritor, não há o mesmo horizonte, abertura e esperança em relação ao futuro, comparado com aquela época. “O que caracteriza a questão jovem hoje é esse fechamento de horizonte”. A juventude da atualidade está diante da possibilidade de um futuro mas encontram obstáculos nesse âmbito, como a dificuldade de acenderem no mercado de trabalho: “Os jovens terminam seus estudos mas precisam esperar muito tempo até entrarem no mercado de trabalho”.

Na expectativa das relações do mercado de trabalho, a situação dos jovens contemporâneos é comparada com a condição da terceira idade. Para o psiquiatra, ambos estão sendo excluídos do mercado de trabalho, apenas com a diferença de que os idosos já contribuíram nesse processo, enquanto os jovens nunca tiveram a oportunidade de adentrar. “Os jovens atualmente são marcados por uma ausência de futuro. Falta uma ética de esperança mas também analisamos que eles estão sendo reduzidos a uma omissão de reconhecimento simbólico e social”. Como consequência dessa falta de visibilidade e ausência da esperança de futuro, a juventude é limitada a uma condição de pura força física, o que acarreta a uma melancolia existencial e a uma cultura de violência.

Se até poucas décadas atrás era bastante nítido a diferença entre ser adolescente e ser adulto, para Joel essas fronteiras não são mais claramente estabelecidas. Há a existência de fluidez entre essas transições, o que leva a pensar a fase adolescente como uma categoria historicamente construída, não sendo passível de ser naturalizada. O escritor também promove reflexões sobre o período da infância, para ele, a concepção da primeira infância é recente, já que no período da pré-modernidade as crianças eram vistas por muitos autores como adultos em miniatura. “Essas concepções são novas e só surgem com o advento da modernidade”. Assim, a infância seria caracterizada pelo imperativo dos instintos e a medida em que se aproxima da adolescência, começa a surgir o despontamento de um certo equilíbrio entre o mundo das vontades e do entendimento.

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Antigamente, a extensão territorial de um país era entendida como sinônimo de riqueza e poder, nos dias atuais essa concepção é substituída pelo nível da qualidade de vida da população. Em consequência dessa nova importância, as crianças e adolescentes passam a ser altamente investidos e a representar não apenas o capital simbólico mas também o capital econômico e social para uma determinada nação. “Na atualidade, tudo gira em torno da potencialidade de riqueza proveniente das crianças e a adolescentes”, afirmou Joel. Para ele, a ideia célebre de que o futuro está nas mãos dos jovens é proveniente dessas novas concepções sociais.

Para compreender a transição da criança para a fase da adolescência, o psiquiatra reafirmou a importância de uma infância tranquila na formação da personalidade do futuro jovem. “A criança não tem capacidade de ação, ela precisa da ajuda dos pais”. Para ele, a principal característica de ser adolescente na atualidade é desafiar a autoridade imposta, muitas vezes, pelos próprios pais. “O adolescente vem a se rebelar com o intuito de viver novas experiências que não podiam experimentar enquanto estavam sob tutela da família. Eles buscam sentir um universo novo”.

Fonte: Secom UFG

Categorias: Humanidades