Contaminação do Rio São Francisco (MG) pode estar associada a lesões no DNA de animais aquáticos
Pesquisadores da UFG e ICMBio identificaram altas concentrações de metais pesados, como ferro, alumínio e cobre, provenientes do rompimento da barragem de Brumadinho
Luiz Felipe Fernandes
Cientistas da Universidade Federal de Goiás (UFG) e do Instituto Chico Mendes da Conservação da Biodiversidade (ICMBio) identificaram que a água do Rio São Francisco, situada na Estação Ecológica de Pirapitinga (MG), está contaminada com altas quantidades de metais pesados. A maior concentração registrada é a de ferro, seguida de alumínio e cobre. A alteração pode ser resultado do rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), que atingiu diretamente o Rio Paraopeba, um dos afluentes do São Francisco.
Equipe do Laboratório de Mutagênese analisou sete pontos diferentes do Rio São Francisco
A água poluída já prejudica a fauna local. Foram detectadas lesões no DNA de girinos coletados no mesmo rio. Alguns desses animais também apresentaram malformações nas patas, intestino e boca. De acordo com a pesquisadora do Laboratório de Mutagênese da UFG, Daniela de Melo e Silva, a relação entre a contaminação da água e as lesões é direta. “Quanto mais tempo esse animal fica em contato com a água contaminada, mais o dano tende a não ser corrigido, o que pode impactar a sobrevivência das espécies”.
O rompimento da barragem da mineradora Vale, no último dia 25 de janeiro de 2019, destruiu grande parte da vegetação local, alterou a composição e a fertilidade do solo e ocasionou um desequilíbrio ambiental na região. A lama tóxica que atingiu diretamente o Rio Paraopeba provocou a morte de diversas espécies animais e plantas aquáticas e tornou a água imprópria para o consumo.
Tragédia humana
Aos prejuízos ambientais soma-se a tragédia humana, com a morte de mais de 230 pessoas. Com a contaminação do rio, esse impacto só tende a aumentar. Daniela explica que pessoas que consomem peixe retirado de águas com altas concentrações de metais pesados, por exemplo, também são contaminadas. Os efeitos para a saúde vão dos mais gerais, como vômito, diarréia e reações alérgicas, até complicações mais graves.
Altas concentrações de alumínio podem estar relacionadas a efeitos neurológicos (incluindo a doença de Alzheimer), pulmonares, de fertilidade e à incidência de câncer. Já o cobre em excesso pode causar náuseas e vômitos, hemorragia gastrointestinal, anemia hemolítica e icterícia. O ferro em grandes quantidades é tóxico e pode prejudicar o fígado.
Estudo comparativo
Para realizar as análises, os pesquisadores coletaram água e animais em sete pontos diferentes do Rio São Francisco, na região da Estação Ecológica de Pirapitinga (MG), 15 dias após a tragédia. O local é uma unidade de conservação que fica a cerca de 250 quilômetros de onde a barragem se rompeu. A pesquisadora da UFG considera que os resultados das análises são alarmantes justamente por revelarem que a contaminação já atingiu uma área preservada e distante do rompimento.
Até o fim do ano serão feitas outras três coletas de água e girinos em outros pontos do Rio São Francisco. O objetivo, segundo Daniela, é fazer estudos comparativos e análises estatísticas levando-se em consideração o local e o tempo de coleta. A expectativa é que os levantamentos sejam feitos ao longo de três anos. Na UFG, as análises da água são realizadas no Laboratório de Métodos de Extração e Separação (Lames), sob a coordenação do professor Nelson Antoniosi.
Fonte: Secom UFG
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