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Universidade Federal de Goiás
Zaíra e Celina

Professoras Celina e Zaíra Turchi recebem título emérito na UFG

Em 18/11/19 15:57. Atualizada em 19/11/19 14:59.

Confira entrevista com as professoras que recebem o título emérito na sexta, 22 de novembro

No dia 22 de novembro, a Universidade Federal de Goiás concede título de professora emérita às professoras Celina Turchi e Maria Zaíra Turchi. As duas professoras, que são irmãs e também filhas de professores que foram pioneiros na instituição, Celenita e Egídio Turchi, marcaram não só sua passagem na instituição mas também no país e no mundo com seu trabalho.

A professora Celina Turchi é professora aposentada do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da UFG. Pesquisadora visitante no Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz-PE) e membro da Academia Brasileira de Ciências (2018)  recebeu a nominação de revista Nature como uma das 10 cientistas mais importantes em 2016 e da TIME dentre as 100 pessoas mais influentes em 2017 na categoria de “Pioneiros” pela atuação na epidemia de Zika no Brasil. 

A Professora Maria Zaira Turchi é professora titular, aposentada, da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Goiás, onde atuou de 1978 a 2018. Exerceu diversas funções na UFG e, em sua gestão como Diretora da Faculdade de Letras, foi criado o curso de Letras: Libras na UFG, o que garantiu a inclusão de alunos surdos na UFG. Foi presidente da FAPEG – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás e ampliou fortemente a atuação da FAPEG por meio da celebração de convênios e acordos com as agências nacionais (CNPq, Capes, Finep) e organismos internacionais, trazendo mais oportunidades para a comunidade científica em Goiás. Também foi vice-presidente e presidente do CONFAP – Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo.

Confira entrevista para o Jornal UFG com as duas professoras e suas percepções sobre o cenário da pesquisa no país.

Vocês dedicaram boa parte de suas vidas à pesquisa acadêmica e científica. Como enxergam o processo de desenvolvimento deste setor no Brasil a partir de sua entrada até os dias de hoje?

Celina Turchi
Celina Turchi (Fotos: Carlos Siqueira)

 

Celina Turchi - Importantes avanços científicos e tecnológicos foram incorporados em todas as esferas sociais durante a minha trajetória profissional nas últimas quatro décadas. Cito, como exemplo, a inclusão de tecnologias que modificaram substancialmente a forma de comunicação da sociedade em geral. Quando iniciei minha carreira de pesquisadora (1980), tínhamos que nos deslocar para outros centros nacionais e internacionais para nos atualizarmos, elaborarmos projetos, etc. Hoje o acesso a literatura científica é online (bibliotecas virtuais) e a comunicação entre os grupos de pesquisa se processa em tempo real. Nas áreas de saúde a incorporação de métodos diagnósticos e terapêuticas complexos, registros e arquivamento de dados digitais são progressos notáveis. Lembro-me da alegria em receber e enviar os primeiros arquivos digitais, da possibilidade de realizar com rapidez alguns cálculos complexos para modelagem de dados, de enviar manuscritos por via eletrônica entre outros avanços. Do ponto de vista político, vivenciamos períodos de valorização da universidade como local de produção de conhecimento, possibilitando a expansão de cursos de pós-graduação, a qualificação profissional em larga escala e de descobertas científicas importantes. Estamos vivendo, no entanto, com apreensão, este momento de redução dos recursos públicos, desmonte das instituições de pesquisa e pelas dificuldades de manutenção dos laboratórios de pesquisa por falta de verbas, corte de bolsas de pesquisas, restrições orçamentárias e ameaças de descontinuidade desse patrimônio.

Zaíra Turchi
Maria Zaíra Turchi


Zaíra Turchi - O Brasil possui pesquisa científica de excelência nas diferentes áreas do conhecimento, posicionando o país em 13o lugar na produção científica mundial. As universidades públicas realizam mais de 90% da ciência no Brasil e respondem pela formação de recursos humanos altamente qualificados nos inúmeros cursos de graduação e pós-graduação. As universidades federais têm tido uma atuação extremamente relevante na educação e na ciência no Brasil. De modo especial, a Universidade Federal de Goiás, nos seus quase 60 anos de existência, vem contribuindo de maneira decisiva para a formação de profissionais qualificados e para o desenvolvimento educacional, científico, cultural, econômico do Estado. A UFG destaca-se no cenário nacional e internacional como instituição de ensino, de pesquisa, de extensão, que faz ciência na fronteira do conhecimento, que possui cursos de graduação e pós-graduação de excelência, que lidera programas de inclusão, e que tem buscado transformar conhecimento em inovação. Tenho muito orgulho da UFG onde ingressei como aluna em 1974, depois me tornei professora, atuando no ensino de graduação e de pós-graduação, na pesquisa, na extensão, na gestão acadêmica, ocupando diferentes funções (coordenadora de área, chefe de departamento, presidente de colegiado, coordenadora de pós-graduação em Letras e Linguística, diretora da Faculdade de Letras, coordenadora geral da pós-graduação). Minha trajetória acadêmica está profundamente ligada à UFG e durante esses mais de 40 anos na instituição vejo com muita satisfação como ela se expandiu com qualidade acadêmica e relevância social, criando novos cursos de graduação e de pós-graduação, equipando os laboratórios, sendo pioneira na criação de programas inovadores do ponto de vista social, científico e tecnológico.

Como vêem a trajetória feminina neste campo de atuação? Há que se pensar em formas de buscar uma maior valorização das mulheres? Como foi para vocês viver a pesquisa como mulher?

Celina Turchi - Na área de saúde e educação as mulheres contribuíram e conquistaram posições de destaque nas instituições prestadoras de serviços, embora haja espaço para maior diversidade de gênero. Também reconhecemos a necessidade implementação de políticas públicas para facilitar e ampliar a participação das mulheres em todos os campos da sociedade. Na minha trajetória profissional colaborei com grupo de pesquisas compostos por mulheres e homens da mais alta competência, dentro e fora do Brasil, em igualdade de posição. A nossa contribuição nas áreas de educação, ciência e tecnologia em geral ainda pode ser ampliada, devendo ser reconhecida e valorizada sempre. No entanto, consideramos que há espaço para tornar as instituições mais inclusivas para mulheres negras e outras categorias de gênero.


Maria Zaíra Turchi - O engajamento de mulheres na ciência, na tecnologia e na inovação é bastante significativo na atualidade. No Brasil e em Goiás, um número expressivo de mulheres pesquisadoras possuem atuação reconhecida nas universidades e nos centros de pesquisa numa proporção de equivalência em relação aos homens. O relatório Gender in the Global Research Landscape, publicado pela Elsevier em 2017, coloca o Brasil numa posição de destaque na equivalência entre a participação de mulheres e homens na pesquisa científica. Há desafios na realização de pesquisas que são semelhantes para cientistas mulheres ou cientistas homens. No Brasil, esses desafios concentram-se em garantir financiamento, possuir laboratórios com infraestrutura adequada, lidar com uma legislação e uma burocracia incompatíveis com as demandas da ciência, estabelecer interlocuções internacionais fortes e dar visibilidade aos resultados. Há, no entanto, outros desafios que as mulheres enfrentam para constituir suas carreiras de cientistas. A trajetória conquistada pelas mulheres no fazer ciência não se repete na liderança em lugares de decisão, poder e de prestígio. Nos dados do CNPq sobre bolsas, podemos constatar que no início da carreira, nas bolsas de iniciação científica, por exemplo, o número de mulheres é maior. No entanto, a medida que avança para níveis de bolsas mais prestigiosas e atribuídas a cientistas seniors o número de mulheres diminui fortemente, como no caso das Bolsas Produtividade em Pesquisa - PQ 1 A. As academias de ciências, por exemplo, em todo o mundo possuem entre seus membros um número muito maior de cientistas homens e uma baixa porcentagem de cientistas mulheres. Se as academias tiverem uma política de reconhecimento das mulheres cientistas, certamente vão aumentar a visibilidade do trabalho das cientistas. Da mesma forma, os comitês de avaliação de agências de fomento também devem ter uma política de igualdade de gêneros na escolha dos membros. Nos cargos de gestão e condução dos rumos da ciência, a representação feminina também é muito pequena. Nesse sentido, os desafios das mulheres para ocuparem lugares de prestígio e reconhecimento e postos de comando nas políticas para a ciência são muito maiores.
A minha trajetória de professora e pesquisadora está ancorada no profundo amor pela educação e na certeza do seu papel na sociedade. A escolha pela grande área das humanidades, com foco na área de Letras e Linguística, e mais especificamente de literatura, tem me levado a buscar a interpretação das relações humanas e sociais. Penso que tenho conseguido romper barreiras, construindo uma trajetória na ciência e ocupando posições de liderança científica e acadêmica em espaços preponderantemente ocupados por pesquisadores de áreas de mais prestígio na ciência e por homens. Certamente, é uma realização pessoal e profissional poder contribuir para o avanço da ciência e da educação.

Professora Celina, seu nome foi destaque não só com relação aos estudos do Zika, mas em outras pesquisas epidemiológicas. Como é realizar pesquisa neste campo? Quais os principais desafios?


Celina Turchi - Na área de doenças infecciosas o desafio em pesquisa é buscar respostas rápidas, por vezes, durante epidemias ou eventos com potencial de risco de transmissão para diferentes populações. Trabalhamos em situações de incertezas e por vezes em contexto de grande visibilidade e de comoção social, com potencial de gerar impacto econômico e social. Faz quatro anos, a epidemia de microcefalia, inicialmente de causa desconhecida, atingiu fortemente a região Nordeste e se expandiu para outros estados e países. Pela gravidade da situação o Ministério da Saúde declarou Estado de Emergência em Saúde Pública de interesse nacional (2015). Essa nova doença congênita – Síndrome da Zika Congênita – associada a infecção pelo vírus da Zika durante a gestação foi realmente uma descoberta surpreendente e inusitada. As redes brasileiras de pesquisa foram competentes para gerar resposta em tempo recorde. Assim a existência de rede de pesquisadores, laboratórios com competência técnica instalada e intensa colaboração entre grupos de pesquisadores produziu conhecimentos rápidos, permitindo instituir as atividades de prevenção e diretrizes de atendimento dos casos.


Professora Maria Zaíra, a senhora também se destacou por seu trabalho a frente de Fapeg apoiando e fomentando pesquisas por meio deste órgão e participando de diversas outras iniciativas como conselhos e comissões. O que destaca de sua trajetória até hoje nesse setor e como pretende continuar contribuindo neste fomento?


Maria Zaíra Turchi - Como presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás, assumi o desafio de consolidar a Instituição na sua missão de fomentar a pesquisa científica, tecnológica e de inovação em todas as áreas do conhecimento e em áreas estratégicas para o desenvolvimento econômico e social do Estado. Contando com diretores altamente qualificados e experientes, como o Diretor Científico Albenones Mesquita, também professor da UFG, a gestão de 8 anos à frente da Fapeg foi responsável pela construção da política científica e tecnológica no Estado. Nesse período, a Fapeg estruturou programas regulares de fomento à pesquisa, de apoio à formação de recursos humanos, de incentivo ao empreendedorismo e à inovação, de financiamento da infraestrutura de pesquisa. A Fundação estabeleceu inúmeros convênios, acordos e parcerias nacionais e internacionais, em atendimento às demandas da comunidade científica. Só para lembrar algumas ações exitosas, temos orgulho do Centro Regional para o Desenvolvimento Técnológico e Inovação (CRTI), das várias chamadas para bolsas em várias modalidades, dos programas de inovação como o Tecnova e o Centelha, dos INCTs, dos PPSUS, das ações internacionais. A Fapeg tornou-se Membro Institucional da Academia Brasileira de Ciências, conquistas importantes para a Fundação. Cabe destacar que fui presidente do Conselho Nacional da Fundações de Amparo à Pesquisa – CONFAP, até março de 2019, tendo sido vice-presidente antes de ser eleita para a presidência do Conselho. O CONFAP representa as Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa e tem relevante papel na organização e articulação do sistema nacional de ciência e tecnologia, reunindo os vários estados em ações conjuntas, que resultam no fortalecimento da ciência numa dimensão ampla de Brasil. Como presidente participei de vários conselhos deliberativos de ciência e tecnologia.


Vocês iniciaram sua trajetória na UFG. Como enxergam essa universidade hoje e como se sentem ao receber o título de professora emérita aqui?


Celina Turchi - Recebo com orgulho e gratidão o título de professora Emérita, representando aqui os meus colegas pesquisadores e professores da área de saúde. Devo a minha formação de acadêmica e a minha introdução ao mundo da pesquisa aos meus professores da Universidade Federal, particularmente da Faculdade de Medicina e do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública - IPTSP. A Universidade Federal de Goiás foi a minha janela para o mundo. Pude me aprimorar em cursos de pós-graduação em outros centros de excelência dentro e fora do país com apoio do CNPq, e estimulada pelos pares. Participei de congressos nacionais e internacionais, que representam oportunidade de intercambio, divulgação das evidências cientificas e aprendizado dos processos de captação de recursos para pesquisa. Vi com orgulho os nossos alunos tornarem-se profissionais éticos e atuantes, e referencias em diferentes setores. Penso sempre no privilégio fazer parte dessa comunidade, pelo contato intelectual permanente com os pares, pela constante e estimulante busca de conhecimento, e também na superação dos desafios de cada tempo.
Sou e serei eternamente grata à nossa Universidade Federal de Goias e aos meus colegas de profissão e à toda a comunidade acadêmica pela honraria concedida.

Maria Zaíra Turchi - A Universidade Federal de Goiás é um patrimônio do nosso Estado. Tenho muito orgulho de ter sido formada pela UFG e de ter feito toda a minha carreira acadêmica de professora e pesquisadora nessa Instituição. A UFG compõe minha história e minha vida, eu não seria nada sem ela, por isso meu profundo amor, gratidão, reconhecimento pelas pessoas que a fizeram e a fazem grande, importante, imprescindível para a sociedade. O título de Professora Emérita proposto por minha Unidade Acadêmica, a Faculdade de Letras, e aprovado pelo Conselho Universitário da UFG me honra e me comove. Podemos dizer que meus pais, os professores Celenita e Egídio Turchi, pioneiros que participaram da criação da UFG, teriam o sentimento de missão cumprida ao olhar hoje a força e a importância dessa Universidade. Agradeço sensibilizada a UFG a mais alta honraria acadêmica com que distingue esta professora.

Fonte: Secom UFG

Categorias: Entrevista Institucional