Pesquisa desenvolve mapas inclusivos para estudantes surdos
Pedro Moreira usou diferentes elementos de comunicação utilizados por surdos para adaptar os mapas tradicionais
Mariza Fernandes
Um pesquisador da Universidade Federal de Goiás (UFG) desenvolveu mapas que auxiliam no ensino de cartografia para pessoas surdas. Os mapas com linguagem acessível são resultado da pesquisa de doutorado de Pedro Moreira dos Santos Neto, do Grupo de Estudos em Cartografia Escolar do Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa/UFG). Pedro é ouvinte, mas seus pais são surdos, o que permitiu que ele tivesse contato com a língua brasileira de sinais (Libras) no ambiente familiar.
Segundo o pesquisador, pessoas surdas que se comunicam por meio da língua de sinais enfrentam diversas dificuldades em uma sociedade cuja forma padrão de comunicação é a linguagem oral e escrita. Os surdos organizam o pensamento e compreendem o mundo por meio da língua de sinais, que é visual e espacial. “O problema do surdo é relacionar o texto com a fala, por isso ele não aprende totalmente a língua portuguesa. O surdo memoriza as palavras ao invés de ler, pois a audição é um pré-requisito para o desenvolvimento da leitura e da escrita”, explicou.
Durante a pesquisa e no convívio com os pais, Pedro percebeu que os mapas tradicionais usados nas escolas não possibilitam uma boa compreensão da cartografia para os estudantes surdos. Saber ler mapas é importante para que o indivíduo desenvolva os conhecimentos geográficos. No cotidiano, enquanto nos deslocamos pela cidade, nos deparamos com mapas em diversos locais e situações, como pontos de ônibus, shoppings, aplicativos de transporte, dentre outros.
Segundo o pesquisador, durante o estudo, ele solicitou que alguns estudantes surdos realizassem a leitura de um mapa tradicional. “Eles conseguiram realizá-la de forma superficial, identificando que tratava-se de um mapa do Brasil e com as divisões regionais, mas não compreenderam a legenda, as siglas dos estados e os nomes dos países vizinhos, pois esses elementos textuais não estavam em sua língua”, disse Pedro. O pesquisador decidiu elaborar um modelo de mapa que siga os parâmetros linguísticos da Libras. “Esse mapa tem que ser mais visual e menos escrito. Ter mais sinais e imagens do que palavras”, explicou.
Para garantir que surdos pudessem ler de forma mais completa os mapas, Pedro usou a Libras, a datilologia (sistema de representação das letras do alfabeto) e a visografia, representação gráfica da língua de sinais. Os mapas inclusivos receberam uma adaptação no título, legenda, escala, orientação (que indica a direção, servindo como referência para o leitor no momento da análise) e as coordenadas geográficas, que indicam latitude e longitude. “Com isso, a linguagem verbal e visual do mapa ganha relação de proximidade com a língua dos sujeitos surdos. Esse novo mapa possibilita o ensino-aprendizagem de Geografia e o desenvolvimento do pensamento geográfico dos alunos surdos”, disse Pedro.
Fonte: Secom UFG
Categorias: Ciências Naturais Iesa destaque