Projeto audiovisual da UFG é exibido em festival internacional
O filme longa-metragem “O Legado do Artífice” foi finalizado em 2020 e contou com a colaboração de professores, TAEs e estudantes da UFG
Talita Prudente (Comunicação – PRPG)
O longa metragem O Legado do Artífice, idealizado pela professora Alice Fátima Martins, da Faculdade de Artes Visuais (FAV), foi selecionado para exibição no 24° Festival de Cinema de Avanca, realizado entre os dias 17 e 26 de julho, em Portugal.
A trama conta a história de um artífice de filmes mágico que está em busca de um herdeiro para seu legado. Mas a narrativa vai muito além de uma simples ficção com efeitos especiais. Ela sistematiza estudos no campo do cinema, da arte e da educação, por meio de uma estrutura metalinguística que discute a produção audiovisual comunitária e artesanal em Goiás.
Finalizado em março deste ano, o filme é fruto de uma série de experiências realizadas no projeto Outros Fazedores de Cinema, iniciado por Alice e vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual da UFG (PPGACV). A pesquisa focaliza produções fílmicas realizadas com baixo orçamento e por agentes de cultura que não necessariamente têm formação para tal.
O núcleo produtivo goiano Sistema Cooperação Amigos do Cinema, liderado pelo artista independente Muniz Martins, foi inspiração para o roteiro e ajudou na construção das filmagens. O coletivo funciona de forma independente há 20 anos e integra os estudos do projeto.
“Há 11 anos comecei a me interessar por pessoas que faziam cinema mas estavam fora do cenário comercial ou de festivais. Pessoas que não tinham formação sistemática ou institucional para atuar, mas que eram apaixonadas pela arte de contar histórias e realizavam um trabalho com grande inserção em suas comunidades”, conta Alice, doutora em Sociologia com pós-doutorado em Cultura Contemporânea.
Após se deparar com realidades como essa em diversos estados do Brasil, ela voltou seu olhar para Goiás, onde conheceu Martins Muniz, em Goiânia, Seu Osorinho, de Serranópolis e Hugo Caiapônia, de Caiapônia. Essas personalidades produzem narrativas audiovisuais ancoradas em suas próprias experiências de mundo, sem grandes recursos técnicos ou financeiros. “Eles reciclam as histórias da grande indústria e as transformam em filmes sobre os seus lugares de pertencimento. Essa atuação resulta de um exercício de resistência da cultura, sobretudo em espaços coletivos do interior e em regiões nas quais não existem salas de cinema ou entrada da grande indústria cinematográfica”, explica a pesquisadora.
Em 2011, Alice introduziu o tema nos estudos do Mestrado e Doutorado em Arte e Cultura Visual. A docente orienta pesquisas na área de Educação, Arte e Humanidades, e aborda, entre outros assuntos, a produção e a circulação de imagens nos múltiplos cenários da sociedade. Uma das teses exploradas é a “Poética da Solidariedade”, que trata das relações interpessoais durante o desenvolvimento de práticas educativas e simbólicas.
Nesse âmbito, o projeto Outros Fazedores de Cinema analisa os circuitos culturais populares, comunitários e artesanais que contribuem para formação colaborativa dos sujeitos, baseada na troca de experiências. “Me interessa como esses fazedores de cinema constroem o conhecimento necessário para a produção audiovisual, configurando possibilidades dentro das pedagogias culturais. Esses saberes práticos, que não estão ligados à escola formal, porém pressupõem um processo de aprendizagem. Que saberes são esses? Como eles são compartilhados?”, pergunta Alice, que reuniu o resultado dessas reflexões em um livro lançado em 2019, pela Editora Zouk, intitulado “Outros fazedores de cinema”.
Outros caminhos
Uma rede de interlocutores foi criada para debater o conteúdo dentro e fora da academia. Entre eles estão o professor Marcelo Costa (Cinema-UEG) e os próprios integrantes do Sistema Cooperação. Também participam os pesquisadores Renato Cirino (FAV) e Lara Satler (FIC), co-diretores do O Legado do Artífice. A atuação de Renato na montagem, na edição e na fotografia do longa-metragem foram primordiais para o sucesso do projeto. Além de membro do coletivo Amigos do Cinema, ele é orientando de Alice no doutorado e trabalha com audiovisual.
A equipe pretende lançar o filme em plataforma digital no segundo semestre de 2020, com acesso livre para o público em geral. A ideia é que ele seja exibido em formato acessível, com tradução em libras e legendas. “O filme é inspirador no sentido de mostrar que não é necessária uma estrutura extraordinária para produzir algo que você acredita. Ainda mais se você tem uma teia de solidariedade envolvida”, observa Alice.
Recentemente, o Outros Fazedores de Cinema ganhou uma nova fase. O projeto agora debate questões de gênero dentro da produção audiovisual independente. O objetivo é analisar a falta de mulheres no cenário do cinema comunitário. Alice Fátima Martins planeja encontrar vetores na educação formal e não formal que possam estimular as meninas a contarem suas próprias histórias por meio do cinema.
O projeto de pesquisa que deu origem a O Legado do Artífice é desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual da UFG, que está com inscrições abertas para alunos regulares até o dia 17 de agosto, tanto para o nível mestrado como para o nível doutorado. O programa tem conceito 4 na CAPES e oferece vagas em três linhas de pesquisa: Imagem, Cultura e Produção de Sentidos; Poéticas Artísticas e Processos de Criação, e Educação e Arte e Cultura Visual. A fim de evitar aglomerações, o processo seletivo será realizado inteiramente de forma online, em duas etapas. Confira o edital completo clicando aqui.
Fonte: FAV/UFG
Categorias: Arte e Cultura fav PRPG
URL relacionada: https://www.fav.ufg.br/n/131143-professora-da-fav-estreia-filme-em-terras-estrangeiras |
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