Metáfora de guerra sobre a pandemia afasta estímulo à cooperação
Conclusão é do professor da UFG, Domenico Hur, que teve artigo publicado na International Journal of Social Psychology
Carolina Melo
A metáfora de guerra utilizada para o enfrentamento da pandemia, apesar de recorrente nos discursos de atores sociais, não se mostra adequada, uma vez que fere os princípios da ação democrática e, mais, não estimula o cuidado mútuo, a empatia e a solidariedade da sociedade. A conclusão é do professor de psicologia da UFG, Domenico Hur, que assina o artigo Covid-19 and the metaphor of war, junto a outros dois autores da Universidade de Santiago de Compostela, José-Manuel Sabucedo e Mónica Alzate.
Assim como explicam os autores no texto, as metáforas são importantes especialmente em momentos como esse, em que se vive algo novo, uma vez que contribuem para gerar a familiaridade do desconhecido. Entretanto, a metáfora de guerra utilizada por várias nações, desde o início da pandemia, apesar de ter aspectos positivos, gera uma assimilação equivocada do momento, promovendo ações desproporcionais. Um exemplo, citado pelos autores do artigo, foi o que ocorreu no princípio, quando as pessoas correram aos supermercados para estocar material de limpeza e comida.
“O uso dessa metáfora é problemático porque, embora evoque algumas imagens com conotações positivas, como resistência e heroísmo, também dragará outras que denotam conflito, como confronto, obediência e inimigo”, afirmam no artigo. Soma-se aos efeitos negativos da metáfora, o sentimento de ansiedade que pode “ativar mecanismos cognitivos e emocionais relacionados ao instinto de sobrevivência”.
Uma outra observação dos autores é o risco dessa metáfora para as sociedades democráticas, uma vez que podem referendar a importância de um líder político autoritário e, mais, colocar a crítica de opositores da gestão pública no espaço dos ditos inimigos. Retira-se, assim, o poder político como objeto de escrutínio social, tão essencial nas sociedades democráticas. “A metáfora de guerra está associada à obediência, à identificação de um inimigo e à defesa do grupo”, afirmam.
No cenário da pandemia, mais adequado, segundo os autores do estudo, seria a adoção de uma metáfora que, de fato, acessasse um dispositivo retórico associado à compreensão de que o cuidado, a empatia e a solidariedade são fundamentais em uma emergência de saúde pública. “Portanto, a metáfora da guerra deve ser substituída por outra cujas principais características cognitivas e emocionais são o cuidado com os outros e a cooperação”, afirmam.
Para ler a discussão completa, acesse o artigo na International Journal of Social Psychology
Fonte: Secom-UFG
Categorias: Humanidades