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Universidade Federal de Goiás
Benedito Ferreira

Egresso da UFG celebra a arte presente no cotidiano

Em 20/08/20 11:11. Atualizada em 20/08/20 11:14.

Conheça o trabalho de Benedito Ferreira, mestre em Arte e Cultura Visual pela UFG

Talita Prudente (Comunicação/PRPG)

O cotidiano está longe de passar batido para o artista e pesquisador goiano Benedito Ferreira. Mestre em Arte e Cultura Visual pela UFG, sua obra vai na contramão do clichê ao retratar rotinas simples da vida por um viés encantador, sensível e memorável, tendo como cenário principal o centro de Goiânia.

Foto Benedito Ferreira

Artista e pesquisador transforma personagens anônimos dos centros urbanos em protagonistas de foto arte

“Não dissocio meu trabalho de artista ao de pesquisador, sou as duas coisas juntas, em convívio”, diz Benedito. No mestrado do Programa de Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual investigou as visualidades do cinema brasileiro e as poéticas da direção de arte. O contato de Benedito com diversas formas de expressão reflete na produção de suas obras.

As peças combinam objetos, instalação, fotografia e cinema. A proposta dos trabalhos foca na poética dos arquivos, suas montagens e narrativas. Os projetos integram o acervo de galerias regionais e internacionais como o Museu de Arte Contemporânea de Jataí (GO), a Pinacoteca Municipal Miguel Dutra (SP) e o Netherlands Institute for Sound and Vision (Holanda).

Goiânia já foi palco de várias exposições do artista. Em 2017 o curta metragem Algo que fica, dirigido por ele, marcou o meio cinematográfico do Estado. O filme mescla ficção e realidade para abordar como o acidente radioativo do césio-137 permeia o imaginário goiano. A trama circulou o país e foi premiada no Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental – FICA, no Uranium Film Festival, em Berlim e na Mostra do Filme Livre, no Rio de Janeiro.

Suas investigações artísticas estão centradas nas propostas “imagem como escrita e poética dos arquivos”. O que é esse conceito?

Penso a arte como escrita de mundos possíveis, na ubiquidade da imagem digital e nos arquivos como articulações narrativas. Na etapa de montagem de um projeto em vídeo, ao selecionar a imagem que acredito funcionar melhor, exerço uma atitude curatorial, isto é, há algo naquela imagem que a difere das outras, que faz com que ela seja incluída na versão final do projeto. Então, tenho pensado nas imagens que não entram, que são descartadas, que de algum modo, fracassaram. Basta pensarmos na quantidade de fotografias que fazemos cotidianamente e que são publicadas. Gosto de recuperar as imagens, dar um novo fôlego a estes arquivos, jogar com eles.

Você enfatiza que não estabelece hierarquia entre as formas de expressão. Qual a importância e o efeito dessa postura no meio artístico?

Minha formação foi em audiovisual. Não sabia exatamente como trabalhar com cinema em Goiás. O cenário estava em transformação, cursos específicos de cinema, financiamentos públicos e as primeiras produtoras físicas de cinema. Primeiro eu me aproximei da direção de arte e da cenografia, justamente porque são campos interdisciplinares. Na direção de arte eu aplicava ideias de história da arte, pesquisa de imagens, figurinos, cores, espacialidades. Era um jogo de atuar como um generalista de tudo, afinal, os projetos solicitavam conhecimentos diferentes de mim. Mesmo trabalhando com cinema, eu seguia com minhas experimentações em papel, fotografia e vídeo.

Onde você costuma buscar inspiração?

Acredito que o próprio trabalho vai te dando as pistas. Começo sem muita certeza, aposto numa confusão que superlativiza minhas decisões. Então isso resvala nas diferentes possibilidades de construção do trabalho. Não sei exatamente dizer quando o trabalho nasce, eu sou muito inquieto, administro a insegurança, vou testando, me cercando e observando aquilo que acho que tem potencial e indisciplina. Acho que a fotografia e a poesia são jeitos deliciosos de rastrear essas forças.

Você possui exposições fora do país. Qual diferença você observa atualmente entre o ambiente artístico no Brasil e no exterior?

Valorizo as iniciativas de espaços próximos a nós, como o Museu de Arte de Britânia, que é o primeiro salão de arte na região do Noroeste goiano e o primeiro salão desta categoria dos pequenos formatos no Estado de Goiás e Centro-Oeste. Acho que é a menor cidade do Brasil a possuir um museu de arte. Essas ações são importantes, precisamos ambicionar outras histórias da arte, outras historiografias.

Como foi sua trajetória no Programa de Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual? De que forma sua experiência na academia influencia suas produções artísticas?

O Programa de Arte e Cultura Visual amparou minhas inquietações como artista e pesquisador. Esse período foi muito importante porque também estava atuando como professor substituto na Escola de Música e Artes Cênicas, ou seja, era professor e aluno da instituição. Então eu vivi a universidade, exercitei o diálogo, devolvi para a comunidade. Atualmente, estou finalizando meu primeiro longa-metragem como diretor e trabalhando numa videoinstalação para uma exposição individual.

Você opta por trabalhar com micro histórias e trata das belezas do cotidiano. De que modo você acha que essa proposta inscreve seu trabalho na arte contemporânea?

O termo arte contemporânea parece querer dar conta de muita coisa. Penso nas práticas artísticas contemporâneas. A internet nos ajuda a descobrir o que uma artista mexicana está produzindo ou como o currículo da universidade de arte da Guatemala fora concebido. Procuro estabelecer uma relação com uma certa ideia de tradição, não sou o artista que quer aniquilar todo o passado, seria muita pretensão. Goiânia é uma cidade muito jovem, que nem tem 100 anos. A arte é uma maneira de tomar posição frente ao tempo.

O que você está pesquisando agora no doutorado? E em relação às suas obras, o que está produzindo?

Com a suspensão das aulas presenciais no doutorado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, tudo ainda mais indefinido naquele início de pandemia, eu resolvi retomar parte das fotografias que realizei entre 2013 e 2019 enquanto escrevia cartas para o poeta Pio Vargas e o fotógrafo Samuel Costa. Esse projeto se chama Despertáculo e a ideia é seguir trabalhando. Sobre sua passagem por Goiânia em 1937, o Lévi-Strauss diz em Tristes Trópicos, que se sentia como numa estação ou num hospital, sempre passageiro e jamais residente. Vejo que Pio e Samuel, artistas goianos mortos precocemente, ensaiaram maneiras de redefinir uma Goiânia erguida sobre o esgotamento de uma modernidade tardia e também de um país marcado por inúmeras desigualdades. Então resolvi convocá-los para esse projeto em constante organização que cogita que essas imagens possam atuar como trampolim e bases especulatórias para um mundo futuro. Uma prosa de imagens e textos, um diálogo entre artistas de diferentes gerações.

 

Categorias: Entrevista Arte e Cultura PRPG fav