Estudo apresenta panorama da pandemia no Estado de Goiás
Documento produzido pela UFG faz parte de dossiê nacional sobre “As Metrópoles e a Covid-19”
Carolina Melo
Núcleo de Goiânia do Observatório das Metrópoles divulgou o levantamento com os principais dados e informações sobre a pandemia em Goiás e na região metropolitana até junho. O estudo, coordenado pela professora do Instituto de Estudos Socioambientais, da Universidade Federal de Goiás (UFG), Celene Cunha Monteiro Barreira, traz o panorama de como se deu a transmissão do vírus no Estado, levanta os índices de desemprego, a infraestrutura estatal, e as ações governamentais. O documento integra o dossiê nacional organizado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Assim como retoma o documento, o Estado de Goiás registrou o primeiro caso de infecção pela Covid-19 no dia 2 de março, sendo a identificação dos primeiros casos realizada entre a população da classe média e alta, que esteve em viagens ao exterior ou a outros estados, notadamente do Centro-Sul do país. A contaminação vertical deu lugar à horizontal pelas vias dinâmicas do contágio familiar laboral, comunitário e rodoviário.
O caminho de contaminação no Estado rumo ao interior ocorreu a partir das cidades pólos, segundo o levantamento. O transporte coletivo foi o principal meio de circulação do vírus, seguido da contaminação rodoviária, já que eram as vias utilizadas cotidianamente pela população da região metropolitana e na interação entre os pólos, devido a pendularidade do processo de trabalho. O estudo também observou um fenômeno comum em outras regiões do país: a posteridade da contaminação da Covid-19 nas regiões menos dinâmicas. . Foi o que ocorreu “em toda a faixa do Estado de Goiás: baixo índice de contaminação nas regiões Oeste, Noroeste, Norte Goiano e ausência de contaminação” até 31 de maio, “na região Nordeste Goiano (divisa com Tocantins e Bahia)”.
“A difusão territorial da Covid-19 e o crescimento de casos e óbitos nos municípios goianos, coincide com o grau de aprofundamento ou relaxamento das medidas de isolamento adotadas pelo Governo Estadual e Municipais”. Inicialmente, Goiás registrou mais de 60% de índice de isolamento social, diminuindo continuamente até 35%. Assim como apresenta o documento, com a tendência de aumento da mobilidade social, o Estado foi apontado, no final de junho, como a UF com maior índice de aumento de novos casos de Covid-19 e o sistema de saúde de Goiás passou a dar fortes sinais de colapso (taxa de ocupação dos leitos de UTI para Covid-19 próxima a 85%).
Região metropolitana
Os casos de Covid-19 no Estado se concentraram até junho, mês do levantamento, na região metropolitana de Goiânia, com 56% dos casos. É nessa região que se concentra 55% da população do Estado. Assim como apresenta o documento, a evolução da contaminação da Covid-19 nessa região se deu inicialmente nos municípios de maior integração com o polo metropolitano: Aparecida de Goiânia, Senador Canedo e Trindade.
“Somente Goiânia e Aparecida de Goiânia acumulavam em junho/2020, 89% dos casos confirmados da região (68% e 21%) e 40% dos casos de Goiás; em relação aos óbitos são 91% da RMG e 47% do estado. Somando os registros em Senador Canedo, Trindade e Inhumas, totalizavam 97% dos casos da RMG. O movimento pendular de trabalhadores nesses municípios realizado diariamente pela dinâmica produtiva produz, dentro da RMG, uma sub-regionalização e influencia fortemente na manifestação dos números de infecção”.
De acordo com o levantamento, quase dois meses após o registro do primeiro infectado na região metropolitana, ocorrido em Goiânia, um total de 10 dos 21 municípios da região ainda não haviam registrado ocorrência de Covid-19. Passado mais um mês, o número de municípios sem registro de contaminação por Covid-19 caiu para três: Santa Bárbara, Caldazinha e Brazabrantes. Segundo o documento, Caldazinha e Brazabrantes são municípios fora de rota para grandes centros produtores ou de atração turística. Porém, Santa Bárbara de Goiás é rota de ligação da capital goiana a centros sub-regionais dinâmicos e concentra, no trecho de corte da rodovia GO-060 em sua zona urbana, um pequeno mercado bastante aquecido. Adentrando o mês de junho, somente Santa Bárbara de Goiás ainda não havia registrado caso de Covid-19.
Emprego
Em relação às atividades econômicas, de acordo com o documento, foram os dois principais setores de participação do PIB no Estado os mais afetados pela pandemia, ou seja, o setor de serviços e o industrial. Fato que ocasionou desemprego a “milhares de pessoas”, que ficaram sem qualquer fonte de renda. Soma-se a esse cenário “os trabalhadores autônomos e a quantidade de pequenas e microempresas que participam ativamente desses setores”.
Considerando somente a segunda quinzena do mês de março de 2020, quando foi decretado o isolamento social, houve saldo negativo do emprego formal em quase todos os setores da economia no Estado de Goiás. O setor de serviços foi o mais atingido pelas demissões em massa (- 8.639 vagas), seguido pelo comércio (- 7.590 vagas), indústria (- 1.727 vagas) e construção civil (- 892 vagas). Na indústria houve o fechamento de 1.816 vagas de emprego formal. A única exceção foi a categoria Agricultura, com geração de 690 vagas no Estado.
Outro dado que chama a atenção na análise das categorias componentes desse setor é o saldo referente ao serviço doméstico, que permaneceu estático, não tendo havido dispensas durante a pandemia. Mas cabe destacar que a maior parte dos trabalhadores domésticos no Brasil são mulheres, e, segundo estudo elaborado pelo IPEA e ONU Mulheres, cerca de 70% dessas trabalhadoras atuam na informalidade, sendo a falta de proteção social uma das marcas mais fortes que assolam essa categoria.
Para ler o levantamento completo, acesse aqui.
Fonte: Secom-UFG
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