
UFG e UFT buscam sinergias em prol do desenvolvimento regional
Centro de Desenvolvimento Regional pode levar Centro-Norte do Brasil a um novo patamar de desenvolvimento socioeconômico e ambiental
Versanna Carvalho
"Eu ouso comparar o Centro de Estudos e Pesquisas em Desenvolvimento Regional do Centro-Norte Brasileiro (CDR) ao que foi a Cepal nos anos 1940: um novo marco em termos de produção de conhecimento, mas acima de tudo, de produção de sinergias em prol do desenvolvimento". Esta declaração foi dada pelo professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Jandir Ferreira de Lima, palestrante convidado para o lançamento da CDR, referindo-se à criação da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), pelas Nações Unidas, em 1948. Segundo Jandir, "o Brasil aproveitou aquela onda e se tornou uma potência industrial na América do Sul".
O CDR é uma iniciativa da Universidade Federal de Goiás (UFG) em parceria com a Universidade Federal do Tocantins (UFT) para a realização de pesquisas, diagnósticos, mapeamentos e outras atividades que visem contribuir para o desenvolvimento regional, a partir da investigação dos problemas socioeconômicos e ambientais da Região Centro-Norte do País, que compreende os estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal, Tocantins, Maranhão e Pará.
A solenidade de lançamento do CDR, na quarta-feira (4/11), foi transmitida pelo canal do YouTube UFG Oficial. O evento contou com as participações do representante do CDR, Waldecy Rodrigues (UFT), presidente do Tribunal de Contas do Estado de Goiás, Celmar Rech, presidente do Tribunal de Contas do Estado do Tocantins, Severiano José Costandrade de Aguiar, secretário-geral da Governadoria, Adriano Rocha Lima, representando o Governador de Goiás, Ronaldo Caiado, reitor da Universidade Federal do Tocantins, Luiz Eduardo Bovolato, e o reitor da Universidade Federal de Goiás, Edward Madureira Brasil.
Pioneirismo
O professor da UFT e um dos coordenadores do Centro, Waldecy Rodrigues, observa que a ação é pioneira no País. Começa com UFG e UFT, "mas no futuro a proposta é de que sejam incorporadas outras universidades para fazerem alianças na execução de projetos na área de desenvolvimento regional também buscando a excelência acadêmica e científica e gerando projetos de inovação que promovam de fato o desenvolvimento na região".
Waldecy afirma que "o objetivo é incrementar esta atuação das instituições na promoção do desenvolvimento regional e também gerar pesquisas que gerem propostas com impacto direto na qualidade de vida das pessoas". O docente defende que é possível "desde que haja boa vontade, projeto e articulação institucional".
A afirmação de Waldecy é endossada durante a apresentação do palestrante convidado. Para Jandir Fereira, a criação do CDR vai demandar apoio institucional. "Não basta apenas criar, tem que dar todo o suporte e é muito importante que o estado do Tocantins, o estado de Goiás, as organizações da sociedade civil organizada e outros entes que compõem todo esse território estejam de braços dados para fazer com que o Centro seja a plataforma de discussão daquilo que é mais importante em termos de desenvolvimento desse território".
Apoio
Durante a sua fala, o secretário-geral da Governadoria, Adriano Rocha Lima, afirmou que o governador Ronaldo Caiado sempre enfatizou a importância e a preocupação que ele tem com o norte do Estado, região mais carente e de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mais baixo, onde várias medidas estão sendo tomadas.
"Essas ações, de certa forma, têm uma sinergia e contribuem com esta iniciativa louvável com a criação do Centro de Desenvolvimento Regional. Eu deixo aqui a oferta de apoio do Governo do Estado de Goiás nas diversas frentes que ele possa apoiar. Estamos de portas abertas e queremos contribuir. Contem conosco", reitera o secretário.
Receptividade
Os presidentes dos Tribunais de Contas do Estado do Tocantins (TCE-TO) e de Goiás (TCE-GO), Severiano José Costandrade de Aguiar e Celmar Rech, respectivamente, demonstraram receptividade ao projeto. "Queremos não só parabenizar, mas apoiar o desenvolvimento do grupo de trabalho no que for necessário", declara Severiano de Aguiar.
O presidente do TCE-TO ressaltou a necessidade de se preocupar com a questão ambiental e a inserção da sociedade no processo de desenvolvimento regional. "Já aconteceu de viajarmos de carro em ótimas estradas e nos depararmos com comunidades carentes vivendo às margens da rodovia sem estrutura e condições de progresso", diz Severiano.
"O TCE aposta muito no sucesso e nos resultados que o Centro de Estudos pode gerar para a economia de Goiás e Tocantins. O CDR permitirá olhar para além da despesa pública, mas também para a melhor forma de desenvolver o Estado", comenta Celmar Rech.
Segundo o palestrante Jandir Ferreira, um dos grandes papéis que o CDR pode ter, possivelmente em parceria com os Tribunais de Contas do Estado, é a avaliação de políticas públicas. Ele conta que o Brasil e as unidades federativas têm uma tradição de formular políticas públicas, não dar continuidade a elas, e tampouco avaliá-las de forma adequada. "Algumas são políticas de governo, não são políticas de Estado. É preciso pensar políticas públicas de Estado, de desenvolvimento sustentável, uma vez que os dois estados dividem o bioma Cerrado".
Suporte
O reitor da UFT, Luís Eduardo Bovolato, acredita que o Centro trará uma grande contribuição do ponto de vista de suporte aos municípios com pesquisas e com desenvolvimento de todo um acervo técnico a partir de nossas dissertações de mestrado e teses de doutorado. "A iniciativa de criação e junção desses grupos de pesquisa e desses profissionais que atuam na academia é fantástica e podem, sem dúvida alguma, trazer resultados relevantes do ponto de vista do desenvolvimento nos diferentes segmentos e cadeias produtivas dos dois Estados, marcando uma posição das universidades federais em relação à nossa missão institucional, que também é contribuir para o desenvolvimento local e regional", comenta Luis Eduardo.
Na opinião do reitor da UFG, Edward Madureira, um centro de estudos regionais focado tem muito a contribuir a partir da colaboração entre academia e governos dos estados, resultando em estudos que podem subsidar ações de desenvolvimento. "A inteligência está hoje distribuída em várias instituições nos nossos estados e é preciso que os nossos governantes, a exemplo do que está acontecendo aqui, percebam isso. É a partir daqui, das pessoas que estão aqui, que conhecem e estudam as nossas condições, que teremos muito mais êxitos nos projetos de longo prazo", defende.
"A universidade faz questão de fazer esse papel para além de uma instituição de ensino de pesquisa, o de uma instituição comprometida com o desenvolvimento do País. Juntamente com parceiros do nível que temos aqui hoje, e daqueles que agregaremos nessa jornada, poderemos dar o primeiro passo de uma longa caminhada que não vai ter fim, pois esse compromisso é permanente", afirma.
Desafios
Durante a sua exposição, Jandir Ferreira de Lima, listou os desafios de desenvolvimento e pesquisa no Centro-Norte do Brasil. O primeiro deles é o de apontar caminhos para o crescimento econômico sustentável, garantindo que o que se cresce no presente se mantenha e gere qualidade de vida a médio e longo prazo.
"Se observarmos atentamente o que é o crescimento e o desenvolvimento econômico do Estado do Tocantins e do Estado de Goiás, são economias que fazem uso intensivo de recursos naturais. Agora Goiás tem se diversificado com pólo farmacêutico e pólo metal-mecânico, ainda assim, no conjunto da sua economia há um uso intensivo de recursos naturais e no Tocantins mais ainda", diz Jandir.
O segundo ponto é fazer a transição para uma estrutura produtiva que exija menos dos recursos naturais e mais do conhecimento, preservando o bioma Cerrado, convertendo ganhos de crescimento econômico em desenvolvimento social e ambiental.
De acordo com o pesquisador da Unioeste, "sabemos que o melhor programa social é o emprego de carteira assinada formalizado que valoriza e dá dignidade ao trabalhador, mas não podemos deixar as populações desassistidas. Principalmente aquelas populações que ao longo do processo de desenvolvimento ficam excluídas".
Jandir Ferreira argumenta que para proteger essas populações mais frágeis é preciso ter um Estado forte e capaz de subvencionar essas populações, dar todo o apoio, que se faz necessário. "Para isto, é preciso ter arrecadação, ter uma estrutura que adicione valor à economia, então os ganhos de crescimento e desenvolvimento econômico têm que ser uma meta de Estado a médio e longo prazo para que você possa criar um ambiente não só de negócios, mas um ambiente também que fortaleça a integração dessa população mais fragilizada", pontua.
Potencialidades
Neste sentido, é importante olhar para as potencialidades para o desenvolvimento sustentado do Centro-Norte brasileiro e desenvolver uma agenda de pesquisa, desenvolvimento e inovação que contemple questões como o desenvolvimento territorializado (economia criativa e economia solidária); grande potencial de emprego e renda (flora, turismo e energia); agronegócio em diversas escalas (transição da agricultura familiar para uma produção mais embasada na ecologia); verificar a possibilidade de construção de uma aliança de livre circulação de mercadorias nos estados do Centro-Norte; e integração logística, por meio do incremento das cadeias produtivas.
Jandir Ferreira lembra que apesar da alta demanda por ações, os estados da região Centro-Norte, assim como os estados do Nordeste, podem contar com o auxílio dos fundos setoriais, além dos recursos federais e das agências de fomento estaduais. Uma possibilidade pode ser a criação de uma carteira de projetos para que os municípios possam captar diferentes fontes de recursos.
"Falar do Centro-Norte é pensar em um plano de desenvolvimento territorial integrado. Sei que o Tocantins desenvolveu um plano sobre isso e agora é pensar o que se pode fazer de forma integrada com as cadeias produtivas dos dois Estados para fortalecê-las cada vez mais. Para isto, é muito importante definir as áreas prioritárias para investimentos. A partir da definição das áreas prioritárias, mobilizar os recursos disponíveis para investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação com foco na alavancagem dos estados", ensina.
Fonte: Secom UFG
Categorias: CDR Reitoria destaque Institucional