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Universidade Federal de Goiás
debate sobre comunicação prpg

Cientistas precisam aprimorar comunicação com a sociedade

Em 03/12/20 17:57. Atualizada em 03/12/20 17:59.

Jornalistas e estudiosos discutem estratégias para tornar a ciência mais acessível e capacitar pesquisadores para a divulgação científica

Maria Eugênia Nalini

"Os estudantes de pós-graduação são uma importante força de produção científica no Brasil. Quando nós falamos em estratégias de comunicação de ciência na pós-graduação, nós realmente precisamos contar com um número enorme de estudantes, esses futuros cientistas, e capacitá-los para a comunicação”. A fala posta por Germana Barata, doutora em história pela Universidade de São Paulo (USP), pesquisadora do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Universidade de Campinas (LabJor-Unicamp) e bolsista de Produtividade em Pesquisa pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), constituiu a quinta mesa-redonda do II Colóquio de Avaliação do Sistema de Pós-Graduação da Universidade Federal de Goiás, realizado no dia 02/12.

O debate proposto pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação da UFG (PRPG-UFG), com a mediação do professor Rodrigo Cássio Oliveira, coordenador de comunicação da PRPG, também teve a participação de Vinícius Sassine, bacharel em Jornalismo pela UFG, e em Economia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás), pós-graduado em Documentário Criativo pela Universidade Autônoma de Barcelona, e atual repórter da Folha de São Paulo. A discussão, apresentada em formato de exposição e debate, tratou do tema “Estratégias de comunicação da ciência produzida na pós-graduação”, em transmissão realizada ao vivo pelo canal oficial da UFG no YouTube.

debate sobre comunicação prpg
Introduzindo o debate, Sassine ressalta o quão relevante é para o profissional de imprensa possuir um vínculo com universidades, centros de pesquisa e de poder, buscando por outras áreas do saber para ampliar horizontes e permitir a identificação do que está realmente acontecendo, a fim de fortalecer a viabilidade do processamento da informação. Isso corresponde a como o comunicador irá apurar, traduzir e elaborar o conhecimento de forma a proporcionar uma discussão rica para um público amplo. Em vista disso, Vinícius indica que as relações entre jornalistas e cientistas devem ser cada vez mais bem cultivadas por ambas as partes, sempre considerando o diálogo da produção científica com o mundo externo.

Nesse mesmo aspecto, Germana Barata aponta que os pesquisadores necessitam “furar a bolha'' para não falar somente para seus semelhantes, reconhecendo os locais em que as pesquisas estão sendo utilizadas, que não somente em outros artigos científicos. “A primeira missão da ciência é o conhecimento para melhorar a qualidade de vida, para resolver problemas da sociedade”, alega a doutora. Assim, o cientista deve se manter disposto ao debate com a mídia, para evidenciar questões de interesse público e facilitar a comunicação, o que não interfere na fundamentalidade do profissional de imprensa em executar o importante e árduo papel de mediador do diálogo entre os poderes públicos, a academia e a sociedade.

Acessibilidade

Sassine aborda que uma divulgação mais direcionada, que trabalha a informação com destaque para gerar o interesse de outros veículos e plataformas, é essencial. No entanto, ao falar de comunicação hoje, na diminuição da predominância dos meios impressos frente às várias redes sociais e a geração digital que pensa em novas linguagens, o jornalista explica que o profissional escreve para o momento, com agilidade, em uma rotina de trabalho que ressignifica a notícia e obedece à uma agenda facilmente modificável. Por isso, é necessário que o veículo detenha o timing, uma espécie de percepção para a divulgação de informações em um tempo apropriado, para que não se perca a oportunidade, que pode ser interrompida por outros assuntos da ordem do dia.

“É preciso que nós tenhamos capacidade de criar as agendas, de criar os debates que são válidos, de trazer furos, de trazer informações exclusivas”, assegura Vinicius. O repórter diz que há uma ideia de responsabilidade em não errar, embora a comunicação seja uma atividade profissional suscetível ao erro. Nessa perspectiva, é necessário ao profissional de imprensa ter humildade para reconhecer que não é o detentor do conhecimento e da informação, e estar disposto a estabelecer um diálogo que facilite o entendimento dessas produções científicas.

Da mesma maneira, Germana Barata menciona que o cientista possui o papel de se doar à consciência pública. "A responsabilidade do pesquisador, daquele que detém um conhecimento, que tem uma formação universitária, que nos privilegia em relação a outros brasileiros, nos deu uma forma de pensar o mundo a partir de evidências científicas, o que é muito importante de ser compartilhado”, afirma. Nessa lógica, ela também frisa que o brasileiro não possui a cultura de reconhecer nomes de cientistas e institutos produtores de ciência, muitas vezes colocando a pesquisa como algo distante e até tendo uma postura negacionista para com o trabalho científico.

Barata também pontua que o protagonismo da divulgação científica está na internet, considerando que as redes sociais difundem uma pluralidade de informações e revolucionam o debate público. Logo, é crucial tratar estratégias de comunicação que considerem esse fenômeno. No entanto, a professora alerta para a “infodemia”, que se caracteriza como uma grande quantidade de informações em circulação que, por vezes, incitam um estado de alerta que impede uma compreensão benéfica e crítica de determinados argumentos. Este termo explica incisivamente como as redes sociais não possuem maneiras de controlar o fluxo de informações.

Covid-19

Em relação a pandemia do novo coronavírus, os palestrantes ressaltam características comunicacionais que se desenvolveram durante os meses de proliferação da doença. Sassine indica que estamos em um período de plena divulgação de informações, e de fake news, que contribuem, ao mesmo tempo, tanto para a valorização de estudos e suas divulgações, quanto para os ataques e difamações à imprensa e à produção científica. O jornalista reitera que a pandemia fez com que a comunicação midiática tecesse uma relação mais madura e profissional com a ciência, possuindo o desafio de traduzir informações e prestar serviço à comunidade.

Sobre a maior demanda por reportagens científicas, derivadas especificamente de um valor notícia constituído frente a pluralidade de informações divulgadas, Germana declara que a pandemia trouxe maior exposição às instituições de pesquisa e aos cientistas, mostrando que muitos destes estão disponíveis para o diálogo. Nesse sentido, a professora expõe a relevância em auxiliar jornalistas, a fim de minimizar erros e não os taxar com a responsabilidade integral da divulgação.

No entanto, a doutora cita que o investimento na ciência brasileira tem caído, consequentemente a publicação de artigos científicos também, o que prejudica o cenário de desenvolvimento nacional. Segundo Germana, as questões competentes à ciência e à tecnologia impactam todos os setores de um país. Por esse motivo, é necessário que se invista, se incentive e se valorize o conhecimento brasileiro, abrindo portas para que a pós-graduação se capacite em divulgação científica, sempre com o intuito de favorecer a população por meio da influência científica em políticas públicas.

Fonte: Secom UFG

Categorias: Humanidades PRPG Fic