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Universidade Federal de Goiás

Entrevista com o professor Félix Penhaval, ex-diretor técnico do HC-UFG

Em 10/12/20 09:44. Atualizada em 10/12/20 10:01.

Íntegra da entrevista concedida à jornalista Carolina Melo para matéria Novo prédio do HC: uma história de persistência

Professor, como foi que surgiu a ideia de construir esse novo prédio do HC. Ou seja, como foi essa conversa inicial, por que surgiu a ideia desse novo prédio? E quando o novo prédio foi concebido?

A ideia de construir um novo prédio para o Hospital das Clínicas da UFG surgiu da necessidade de ampliarmos o atendimento à saúde no estado de Goiás. Durante a década de 1990, o hospital teve um grande aumento de demanda, pois com o fechamento do Hospital Geral de Goiânia (o antigo HGG) para reforma, o Hospital das Clínicas permaneceu, por quase 10 anos, como o único hospital geral público no Estado de Goiás. O hospital atendeu bem a essa demanda, porque sempre foi uma unidade de saúde completa. Nessa época, entretanto, a estrutura física do hospital estava muito comprometida (é importante lembrar que a edificação data da década de 1940). Sua estrutura física, portanto, não atendia plenamente as necessidades assistenciais do Sistema Único de Saúde, e não permitia a criação ou ampliação de novas frentes de atendimento. Além disso, tínhamos que manter indissociável a atividade de ensino e pesquisa, um dos motivos para os quais o Hospital foi criado.

Diante de tantos obstáculos, e do custo elevado de reformas para cada área de atendimento, pensou-se em projetar e construir uma nova unidade hospitalar para atendimento de pacientes internados. Juntamente com o professor Rodopiano de Souza Florêncio, então Diretor Geral do hospital, no ano de 1999 apresentamos essa intenção à reitora da UFG, professora Milca Severino, que prontamente acolheu a ideia e trabalhou muito para que as etapas iniciais do projeto fossem realizadas.

À época, cogitou-se construir o novo hospital no Campus Samambaia, porém após consulta informal feita pelo professor Rodopiano junto aos professores da Faculdade de Medicina, de Enfermagem e de Nutrição, e aos funcionários do Hospital, entendeu-se que o local mais adequado para essa edificação seria próximo às unidades acadêmicas.

Fiquei sabendo que o senhor foi uma das pessoas presentes nas primeiras reuniões para se pensar esse novo prédio. O que lembra dessas primeiras reuniões? O que animava os presentes?

Durante os anos de 1999, 2000 e 2001 trabalhamos arduamente para a execução do projeto. O projeto arquitetônico e de engenharia ficou a cargo do escritório Walter & Athos Arquitetos Associados. O arquiteto Athos Rios Junior participou comigo de todas as reuniões, em que houve ampla discussão, com professores e servidores do Hospital, da proposta de construção. Todos contribuíram com seu conhecimento e experiência. Contamos muito com o auxílio inestimável do corpo de enfermagem e da Comissão de Controle de Infecção do hospital, que não mediram esforços para reunir o melhor conhecimento disponível sobre aspectos técnicos e funcionais do espaço físico. Não vou citar nomes pelo temor de não fazer justiça a um ou outro.

A esperança de se ter uma nova edificação para acomodar os serviços do hospital e os Departamentos da Faculdade de Medicina realmente nos empolgava. Tínhamos plena consciência da qualidade de ensino e assistência que prestávamos, e achávamos realmente que esse seria o momento –estávamos motivados. Sem projeto e sem planejamento, contudo, não teríamos como pleitear recursos.

Os estudos e discussões iniciais nos apontaram, por um lado, dificuldades impostas pelo terreno disponível para construção, na época pequeno para a grande construção que se planejava. Por outro lado, estávamos impossibilitados de demolir áreas antigas, pois todas estavam ocupadas e em pleno funcionamento. Esse panorama nos conduziu a projetar um prédio verticalizado.

À época, chegou-se à conclusão de que mais 600 novos leitos seriam necessários para garantir ensino e assistência de qualidade. Estes, somados aos do hospital antigo, nos elevariam a aproximadamente 850 leitos.

A obra teve início quando?

A obra teve início no dia 3 de abril de 2002, e foi dividida em várias etapas, condicionadas sobretudo à disponibilidade de recursos financeiros. A coordenação da execução desta primeira etapa, e das etapas que se sucederam, ficou a cargo do Centro de Gestão do Espaço Físico (CEGEF) da UFG, sob olhar atento do arquiteto Marco Antônio de Oliveira e do grupo que ele comandou. A expertise daquele grupo foi fundamental para garantir o bom uso dos recursos públicos, nos mais rígidos limites da lei – sem abdicar da qualidade do material utilizado. O grupo do CEGEF, sem sombra de dúvidas, contribuiu muito para a construção daquele edifício da melhor maneira possível: com lisura, sem exageros e com baixo custo, se considerarmos a sua complexidade, qualidade e relevância para a sociedade.

Qual foi o sentimento do senhor com o início da obra?

Eu e toda comunidade do Hospital das Clínicas vimos com grande empolgação o início da edificação; compreendíamos o valor simbólico daquele momento. Embora o recurso inicial fosse muito limitado, suficiente apenas para a fundação e edificação dos dois pavimentos de subsolo que serviriam como estacionamento, compreendemos que a partir daquele momento não haveria mais retorno – a área destinada à edificação da unidade de internação do hospital estava garantida, e mais dia menos dia o prédio seria concluído.

Ao saber que a obra será inaugurada no final deste ano, cerca de 20 anos depois, qual sentimento vem à tona? E qual lembrança?

O sentimento maior é o de orgulho de ser funcionário dessa universidade, do Hospital das Clínicas, e de ainda fazer parte da Faculdade de Medicina. Esta que, na década de 1960, fundou, idealizou e cuidou do antigo hospital. Sinto-me privilegiado de ter podido participar de uma etapa desse processo, e orgulhoso de saber que o hospital público mais completo do nosso estado agora mais que duplica a sua capacidade, e que o antigo Hospital ainda continuará prestando serviços à comunidade. Sobre essa questão, é importante ressaltar que, com a nova unidade, a UFG dispõe ainda de maior capacidade para dar respostas a diferentes demandas de saúde da população, por meio da oferta de atendimento integral e universal através do SUS.

Durante o período que o senhor atuava ativamente para a concepção e construção desse prédio, havia uma personagem, servidor, professor, uma pessoa que foi importante para a concretização desse sonho?

É difícil dizer quem foi mais ou menos importante para a concepção desse edifício; tínhamos um grupo coeso, constante, todos pertencentes à universidade. O arquiteto Athos, responsável pelo projeto arquitetônico, apesar de não pertencer à universidade, rapidamente se integrou ao grupo e nos auxiliou muito para o encaminhamento das discussões. Não posso deixar de destacar, todavia, o apoio irrestrito que tivemos da professora Milca e do corpo técnico do CEGEF nessas fases iniciais. O professor Rodopiano, com inteligência e liderança, soube conduzir o grupo com a serenidade necessária para o projeto.

Durante esse período, alguma história o marcou de forma especial?

Para responder a essa pergunta devo me remeter a um período de 20 anos – desde o projeto até a construção do edifício. A história que me marcou está ligada à percepção da união e da concordância que permearam as ações dos dirigentes da universidade e do hospital. Por isso, é muito difícil dizer quem se destacou mais nesse longo período, do projeto à conclusão da obra.

Sem exceção, os reitores que comandaram a universidade após a professora Milca dedicaram especial atenção à execução da edificação. Dos reitores, destaco o professor Edward Madureira Brasil, que nesta e em gestões anteriores teve papel fundamental para que essa construção chegasse a termo.

Dos diretores do Hospital destaco o professor José Garcia Neto, que desde que assumiu a direção do hospital, em 2006, tem trabalhado incansavelmente para a conclusão da obra. Próximo ao ano de 2010, o professor determinou que todos os projetos fossem revistos e atualizados, antes das novas etapas de execução. Essa medida foi muito importante: alguns projetos melhoraram, passaram a atender novas normativas da vigilância sanitária; e, além disso, novas unidades foram incorporadas ao projeto. Por exemplo: o projeto da maternidade passou por ampla modificação; uma farmácia hospitalar, um pequeno almoxarifado, uma UTI pediátrica, uma UTI Neonatal e um centro de diagnósticos por imagem foram acrescentados ao projeto inicial; o setor de nutrição e de distribuição de dietas também sofreu grandes modificações. Todas essas medidas, compreendidas como oportunas pelo professor José Garcia Neto, aumentaram a autonomia da edificação, diminuindo a interdependência entre os dois prédios.

Com o novo prédio, qual espaço o HC vai ocupar no cenário da saúde pública de Goiás?

Como eu disse inicialmente, o Hospital das Clinicas, independentemente desse novo edifício, é a unidade hospitalar pública mais completa do estado e, sem dúvidas, uma das mais importantes. O projeto assistencial da década de 1960 foi aprimorado o que hoje lhe dá características de hospital quaternário. A nova unidade de internação poderá ampliar o número desses atendimentos, e novos programas assistenciais poderão ser implementados, conforme as demandas regional e nacional.

Principalmente, a universidade poderá responder com mais eficiência às demandas de saúde da população. Chamo atenção para o momento que estamos vivendo e para a importância da Universidade no atendimento a vítimas de COVID-19 no estado de Goiás. O nosso velho hospital se antecipou, e assumiu a causa com a performance de hospital quaternário para a assistência a esses pacientes. Esse é um fato que tem que ser levado ao conhecimento da comunidade universitária.

Quem se beneficiará com o novo prédio do HC?

Primeiramente, a população, com a melhora da qualidade da assistência. Como consequência da assistência, o ensino e a pesquisa serão também beneficiados.

De que forma ele será importante para o ensino e a pesquisa?

A tradição maior do Hospital das Clinicas, além da assistência, sempre foi o ensino (aproximadamente 5500 médicos formaram-se nesse hospital desde a sua fundação). Chamo atenção para o fato de que, além de proporcionar treinamento em serviço em nível de graduação e pós-graduação para alunos das faculdades de Medicina, Nutrição e Enfermagem, o hospital é importante campo de estágio para cursos técnicos de nível médio de diferentes instituições. As residências em medicina e em outras áreas da saúde certamente terão melhora quantitativa e qualitativa. Nos últimos anos, principalmente por meio dos cursos de pós-graduação stricto sensu, o Hospital das Clínicas vem contribuindo de forma muito expressiva para o desenvolvimento da pesquisa na universidade.

Por último, chamo a atenção para o fato de cada pavimento do novo hospital ter uma área acadêmica com salas de aula, pequenos anfiteatros, área administrativa e salas de estar e de repouso para residentes. A planta física do hospital mantém fielmente todas as características de um hospital de ensino.

Gostaria de dizer mais alguma coisa, professor?

Concluindo, gostaria de dizer que o que conquistamos agora foi fruto de um trabalho que teve início ainda na década de 1960: a percepção da necessidade de um grande hospital nasceu da concepção de nossos antecessores; o modelo que persiste até hoje nasceu das necessidades curriculares da Faculdade de Medicina, quando da sua fundação. É importante lembrar que, embora desvinculado formalmente da Faculdade de Medicina desde 1984, ainda persiste o modelo assistencial inicial que certamente vai se refletir no do novo hospital. Impossível, portanto, não lembrar de antigos mestres e servidores: Dr. Francisco Ludovico de Almeida Neto, Dr. Geraldo Pedra, Dr. Jofre Marcondes de Rezende, Dr. Luiz Rassi, Dr. Eduardo Jacobson, Dr. Jonas Aiube, Dr. Jarbas Dolles, Dr. Willian Barbosa, Dr. Wilson Mendonça, Dr Manoel dos Reis, entre tantos outros que se encarregaram de dar início a essa grande história. O novo hospital foi projetado pela nossa geração e será concluído pelas vindouras.



Fonte: Secom-UFG