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Universidade Federal de Goiás

Ex-reitora Milca Severino Pereira (1998 - 2002/2002 - 2006)

Em 10/12/20 10:11. Atualizada em 10/12/20 10:11.

Íntegra da entrevista concedida à jornalista Carolina Melo, para a matéria Novo prédio do HC: uma história de persistência

Professora, durante a sua gestão na reitoria, como ficou sabendo sobre a construção do novo prédio do HC-UFG, e quais foram os encaminhamentos dados a partir de então?

A construção do HC-UFG começou em nossa gestão, bem como a sua concepção. A iniciativa foi da diretoria do HC-UFG, tendo como Diretor Geral o Prof Rodopiano de Souza Florêncio. Recebemos a solicitação de uma agenda com a direção do HC e a pauta era a construção de um novo hospital, com a ideia de um projeto arrojado, importantíssimo e com uma concepção moderna, em termos estruturais e funcionais. A nossa gestão se manifestou aquiescente à iniciativa e começamos, à partir de então, a fazer as gestões tendo em vista o êxito do sonho de um novo hospital. A Direção do HC contratou equipes para elaborar o projeto arquitetônico, de modo a alcançar os objetivos e intenções traçados e desejados naquele momento. Recordo-me que a elaboração dos projetos para a construção demandou um enorme esforço da equipe liderada pelo Prof. Rodopiano. Não foi uma tarefa fácil, pois os recursos eram escassos e os custos eram altos. Conforme as normas institucionais, os projetos foram analisados, acompanhados e receberam as contribuições da equipe de engenheiros e arquitetos do então CEGEF/UFG.

A Reitoria e a Direção do HC, em ações conjuntas, iniciaram uma caminhada exaustiva em busca de recursos financeiros. Tanto a diretoria do HC-UFG, quanto a reitoria da UFG, realizaram diversas reuniões com os deputados e os senadores de Goiás, reuniões com o governador, com o ministério da educação, com o ministério da saúde, com lideranças da sociedade civil, na busca de emendas para a necessária dotação orçamentária para a construção.

Posso garantir a todos que o esforço inicial foi hercúleo, inimaginável, extremamente meritório! E a receptividade dos políticos foi concreta, o que levou a UFG a receber uma emenda parlamentar, aprovada pelo Congresso Nacional. E foi com o documento da dotação orçamentária que assinei a ordem de serviço, autorizando o início da construção, no ano de 2002.

A senhora teve acesso à informação de como e porquê surgiu a ideia de construir esse novo prédio do HC. Ou seja, como foi essa conversa inicial, por que surgiu a ideia desse novo prédio? E quando o novo prédio foi concebido?

O HC-UFG é importantíssimo para atender à população desprovida de recursos financeiros, os pacientes com cobertura pelo SUS, além de ser fundamental para a formação e qualificação de profissionais da área da saúde e correlatas. Ademais, o HC sempre atendeu pacientes com complexos agravos à saúde, sendo um hospital de referência. O HC recebia mais demandas do que a sua capacidade física para o atendimento clínico e cirúrgico, em todas as especialidades, assim sendo, a construção de um novo prédio se revelou necessária. A concepção do prédio ocorreu durante uns 2 a 3 anos, exatamente pelas profundas dificuldades para se obter recursos financeiros, inclusive para o pagamento dos projetos de arquitetura e projetos complementares.

A obra teve início quando?

Em 2002, assinei a ordem de serviço. É importante registrar que a UFG recebeu uma dotação orçamentária para a construção do HC, entretanto, o primeiro repasse financeiro foi de apenas 2.500.000,00 (dois milhões e quinhentos mil). Fui orientada a devolver o recurso por ser insuficiente e se distanciar bastante do valor da emenda aprovada. Tomei a decisão de NÃO acatar a orientação e iniciar a obra. Foi uma atitude de ousadia e coragem. Minha decisão foi alicerçada no fato de que a UFG tinha a dotação orçamentária e o registro de que aquele repasse financeiro correspondia à primeira parcela. Em reunião com a nossa equipe, lembro-me de ter dito que era um risco que tínhamos que correr, a nossa intuição levava-nos à visão de que se aquele dinheiro fosse devolvido nunca mais retornaria à UFG. Tempos muito difíceis!

Qual foi o sentimento, naquele momento, com o início da obra?

Sentimento de responsabilidade e coragem, pois o financeiro disponibilizado era suficiente apenas para construção da fundação da obra. Ao mesmo tempo, o sentimento de fazer jus ao esforço coletivo da comunidade universitária, em especial dos gestores do HC-UFG, além de, simbolicamente, mandar uma mensagem aos parlamentares goianos de que estávamos apostando no repasse dos recursos e esperando o contínuo apoio de todos: do governo, dos parlamentares e da sociedade.

Durante a sua gestão, e ao longo da construção do novo prédio, a senhora lembra de uma personagem, uma pessoa, servidor, professor, importante para a concretização desse sonho?

Sim. O rosto, a fisionomia dos Professores e médicos Rodopiano, Félix, Abel Ximenes e da Enfermeira Alexandrina, esta, in memoriam,...sempre lembrarei deles na luta pela nobre causa. Eles, e muitos outros, foram nossos aliados na gestão geral do HC. Tínhamos reuniões diárias no enfrentamento das adversidades inerentes ao cotidiano da gestão de um hospital escola.

Durante esse período, alguma história a marcou de forma especial?

Muitas.... Mas destaco a visita que recebi de familiares de uma paciente que procuraram o gabinete da reitoria para agradecer pela nossa autorização para a compra de um medicamento de alto custo, que contribuiu para a cura da matriarca da família, uma senhora de mais de 70 anos. O HC não tinha dinheiro e a família soube pelo médico intensivista que a reitoria tinha autorizado o investimento na compra do medicamento. A frase que nunca esquecerei “ ..obrigado reitora e que Deus permita que este novo hospital, em construção, possa salvar muitas vidas, e devolver a esperança para muitas famílias pobres como a nossa “ sinto o “perfume ‘ daquele momento até hoje.

Ao saber que a obra será inaugurada no final deste ano, cerca de 20 anos depois, qual o sentimento que vem à tona? E qual lembrança?

O sentimento de GRATIDÃO aos reitores que me sucederam neste longo período, e suas equipes: Prof. Edward, 2 mandatos, Prof. Orlando, 1 mandato e, agora, no terceiro mandato do Prof. Edward a obra será inaugurada. Eles foram verdadeiros guerreiros em defesa do HC-UFG. Mas eu tinha convicção de que poderia dar o primeiro passo no escuro ...a obra seria concluída em algum dia. A universidade conta com gestores altamente comprometidos com o bem público. Isto faz toda a diferença.

Com o novo prédio, qual espaço o HC-UFG vai ocupar no cenário da saúde pública de Goiás?

O HC-UFG é fundamental para dar o suporte à demanda de atendimento hospitalar, essencialmente do SUS. Melhorará a capacidade de cobertura no sistema e qualificará à assistência em todos os níveis, em especial, o de alta complexidade. Para além da questão da assistência hospitalar, o HC-UFG responde pela formação de diversos profissionais que atuarão no sistema de saúde público e na iniciativa privada. Revela-se como um decisivo laboratório para preparar profissionais competentes e qualificados para o mundo do trabalho, mediante as experiências assistenciais orientados e supervisionados por competentes professores/as. Neste hospital, realizar-se-ão pesquisas multidisciplinares fundamentais, para o avanço do conhecimento em todas as especialidades da área da saúde. Representará um importante campo de ensino, pesquisa e extensão. Contribuirá para a formação de gestores, dentre outros. Representa uma conquista do povo goiano. HC-UFG é um hospital público que pertence ao brasileiro e é dirigido por gestores compromissados com o bem público e comum. Como o conhecimento não tem fronteira, o HC- UFG beneficiará o cidadão, independentemente de sua nacionalidade, pois os frutos das pesquisas serão socializadas universalmente.

Quem se beneficiará com o novo prédio do HC?

O povo goiano, o cidadão brasileiro, independentemente das suas condições sociais e financeiras, porque o conhecimento gerado em um hospital universitário beneficia a HUMANIDADE.

Quer dizer mais alguma coisa, professora?

Sim. Quero, mais um vez, registrar meus agradecimentos aos reitores Prof. Orlando Amaral e Prof. Edward por terem lutado com afinco, perseverança, ética e responsabilidade acadêmica e social para que este hospital fosse concluído, e em seus nomes, agradecemos a todos os membros das suas equipes de reitoria. Aos participantes da nossa equipe de gestão, em nome do Prof. Paulo Ximenes e do Prof. Lázaro Xavier, vice-reitores com quem tive a honra de dividir a responsabilidade da gestão, minha incomensurável gratidão e respeito pela cumplicidade e lealdade na caminhada.

Peço licença a todos os profissionais da equipe de saúde, todos são importantes e fundamentais para o funcionamento do HC-UFG, para prestar minhas homenagens à Equipe de Enfermagem. Como enfermeira, conheço profundamente a face oculta e os desafios dessa profissão e, como reitora da UFG, no período de 01/1998 a 01/2006,dois mandatos consecutivos, testemunhei a força viva dos profissionais da enfermagem em defesa de uma assistência de qualidade aos menos favorecidos, numa sociedade tão discriminatória e excludente. O trabalho de todos os profissionais, de forma multidisciplinar e multiprofissional, desenvolvido no HC-UFG conta com a presença da Enfermagem durante as 24 horas, de janeiro a dezembro ininterruptamente, quer na assistência, quer na pesquisa, no ensino e na extensão. A vocês, minha eterna gratidão e reconhecimento!



Fonte: Secom-UFG