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Universidade Federal de Goiás
João Roberto Ripper/ Imagens Humanas, 1996

Estudo analisa atuação da Comissão Pastoral da Terra

Em 01/03/21 14:52. Atualizada em 01/03/21 14:55.

Artigo avalia as práticas de organização da comissão e seu papel na elucidação dos conflitos agrários no país

Somente no ano de 2019, ocorreram 1.206 conflitos por terra no Brasil, com mais de meio milhão de pessoas envolvidas e 53 milhões de hectares. Segundo os dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT) 28 pessoas foram assassinadas por conta destes conflitos. No mesmo ano, também foram contabilizadas 89 ocorrências de trabalho escravo, com 880 pessoas envolvidas. Dados como esse mostram como a CPT vem documentando, armazenando e divulgando a violência e o conflito no campo no Brasil desde sua criação em 1975. Para analisar essa atuação "subversiva" o professor da Universidade Federal de Goiás, João Roriz e o egresso do curso de Relações Internacionais da UFG, Ricardo Barbosa Júnior publicaram um artigo no Journal of Agrarian Change. Baseado em entrevistas com membros da CPT Nacional e outras fontes primárias, o trabalho explora conceitualmente as práticas da organização e o conhecimento emancipatório produzido pela comissão.
João Roberto Ripper/ Imagens Humanas, 1996

João Roberto Ripper/ Imagens Humanas, 1996


Para os autores, o artigo oferece uma contribuição inovadora ao apresentar a CPT, uma organização central, embora muitas vezes negligenciada, para a comunidade acadêmica internacional. Ademais, traz elementos teóricos críticos para compreender suas práticas. Eles analisam como a documentação da violência tem sido crucial para enquadrar a questão agrária brasileira e, como resultado, criar condições sustentáveis ​​para a mobilização de movimentos sociais do campo e ativistas acadêmicos. Se, por um lado, o Estado tem buscado despolitizar a violência agrária mesclando a violência no campo com dados gerais de crimes, por outro, a CPT constrói um banco de dados de violência que subverte os esforços do Estado de ocultação. O que antes era entendido como casos dispersos, isolados e episódicos, a CPT conectou e enquadrou como ‘conflitos no campo’, o que resultou em uma contra-narrativa que se opõe à do Estado e do desenvolvimento extrativista. Para eles, a documentação da violência é uma ‘tecnologia de resistência’ promissora quando movimentos sociais do campo e ativistas-acadêmicos se deparam com a ascensão do populismo autoritário. A prática tem potencial para ser replicada em outros contextos políticos e geográficos.

O artigo é resultado de uma pesquisa desenvolvida nos últimos cinco anos. Versões anteriores foram apresentadas na 2018 Annual Millennium Conference ‘Revolution and Resistance in World Politics’, na London School of Economics, e na 6th International Conference of the BRICS Initiative for Critical Agrarian Studies (BICAS) na Universidade de Brasília, em outubro e novembro de 2018, respectivamente. Os autores escolheram publicar na Journal of Agrarian Change pelo foco temático da revista – sendo esta a principal revista de economia política agrária – e por ser uma referência no fomento de pesquisas com postura política comprometida. Neste sentido, as contribuições empíricas e conceituais do artigo buscam ser úteis para acadêmicos, ativistas e demais interessados em movimentos sociais e na luta pela terra.

O artigo pode ser acessado aqui: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/joac.12416

Informações do artigo:

Barbosa Jr., R, Roriz, J. The subversive practice of counting bodies: Documenting violence and conflict in rural Brazil. Journal of Agrarian Change. 2021; 1– 17. https://doi.org/10.1111/joac.12416

Fonte: Secom UFG

Categorias: Humanidades FCS